Pedro Carvalho sublinhou o “trabalho do serviço ao longo do ano, não apenas na manutenção das atividades, mas também no desenvolvimento de novas áreas e na melhoria contínua da qualidade do atendimento pediátrico”.
O diretor clínico da ULS do Oeste falava à margem da sessão das XXX Jornadas de Pediatria de Leiria e Caldas da Rainha, que se realizaram nos dias 13 e 14 de novembro, no Centro Cultural e de Congressos das Caldas da Rainha, reunindo profissionais de saúde, especialistas e estudantes.
Durante a sua intervenção fez ainda um alerta para os desafios que se avizinham, prevendo um 2026 exigente para o setor da saúde, e destacou que é “justamente em tempos difíceis que se evidencia a dedicação e competência dos profissionais”.
O diretor clínico realçou também o papel das Jornadas de Pediatria na partilha de experiências entre profissionais de diferentes serviços e hospitais, reforçando a importância destes encontros para o desenvolvimento clínico e a colaboração entre equipas.
O diretor do serviço de pediatria do hospital de Leiria, João Agro, também marcou presença, afirmando ser um gosto vir às Caldas e resumindo a “importância histórica e científica das jornadas”.
O presidente da Câmara das Caldas da Rainha, Vitor Marques, que também participou na abertura das jornadas, destacou o papel do Município no “apoio à saúde local, apesar de as competências principais pertencerem ao Estado”. Referiu o acompanhamento das necessidades do território e o envolvimento da autarquia com a sociedade civil, realçando a disponibilidade da Câmara em contribuir para que os profissionais de saúde “tenham as melhores condições de trabalho”.
O autarca elogiou ainda a resiliência, competência e dedicação dos profissionais, apelando para que não desistam perante os desafios do setor. “Esperemos continuar a trabalhar em conjunto para criar melhores condições no SNS e nos cuidados hospitalares”, afirmou, agradecendo também à organização das jornadas e à equipa liderada pela diretora do Serviço de Pediatria de Caldas da Rainha, Luísa Preto.
“O grande desafio atual é a saúde mental”
Em declarações à imprensa Luísa Preto refletiu sobre a evolução da prática pediátrica, destacando que as problemáticas mudaram. “Há 30 anos preocupávamo-nos sobretudo com situações graves, como febres altas, desidratações e sepsis (reação grave do corpo a uma infeção) Hoje, felizmente, essas situações são muito mais raras, graças ao desenvolvimento das vacinas e à melhoria dos tratamentos”, explicou.
Segundo Luísa Preto, o grande desafio atual é a saúde mental das crianças e jovens. “A realidade é muito preocupante, porque não temos resposta adequada. No hospital das Caldas recebemos habitualmente uma criança por semana por tentativa de suicídio, começando aos nove anos”, alertou, acrescentando que a falta de pedopsiquiatras e a escassez de consultas especializadas dificultam o acompanhamento destes casos.
A diretora destacou também a pressão da adolescência, a influência das redes sociais e a falta de diálogo familiar como fatores que contribuem para comportamentos de risco. “Os adolescentes sentem-se muitas vezes abandonados e encontram refúgio em comportamentos autodestrutivos ou em grupos que fomentam desafios perigosos”, explicou.
Luísa Preto comentou ainda os desafios da equipa durante o verão e o esforço para manter o serviço de urgência sempre aberto, apesar da escassez de pessoal e das baixas de maternidade. “Tem sido com muito sacrifício que conseguimos garantir a presença mínima exigida por lei, assegurando também a maternidade. Nem sempre é fácil, mas nunca fechámos o serviço”, afirmou.
Destacou também a certificação do serviço, obtida em abril, como um reconhecimento importante a nível da Direção-Geral da Saúde.
A responsável revelou que neste ano o programa foca-se mais “em cuidados de pele e cabelo e ainda a saúde oral (boca), porque são essas as questões que os nossos adolescentes mais nos colocam”. Destacou o elevado número de participantes nas jornadas, cerca de 170 profissionais de todo o país, demonstrando a relevância e o impacto deste encontro científico.
A sessão de abertura das jornadas contou com a atuação da Academia de Música de Óbidos.










