A anteceder a conferência, houve ainda a “Missa Vespertina XXXIII Domingo Tempo Comum”, celebrada pelo Patriarca de Lisboa, Dom Rui Valério, na Igreja de Nossa Senhora do Pópulo.
Grande parte da conferência incidiu sobre a pintura quinhentista associada ao território e às fundações da Rainha D. Leonor, nomeadamente as tábuas da Igreja de Nossa Senhora do Pópulo. Vítor Serrão explicou que a investigação mais recente permite compreender as várias fases construtivas do templo e as deslocações sofridas pelas pinturas ao longo dos séculos. O historiador destacou que estes painéis, frequentemente atribuídos a um tríptico inexistente, “nunca foram concebidos para o arco triunfal”, tendo sido ali colocados já no século XIX, após sucessivas intervenções que alteraram o seu estado original.
Segundo o investigador, o conjunto é hoje reconhecido como um dos mais importantes exemplos da pintura renascentista portuguesa, ainda que o nome do seu autor continue por identificar. Vítor Serrão reafirmou a sua proposta de atribuição ao pintor e iluminador Álvaro Pires, ativo no início do século XVI e “provavelmente responsável por algumas das melhores obras produzidas para a corte e para as fundações religiosas manuelinas”.
A conferência estendeu-se também às continuidades do mecenato régio no século seguinte, abordando a atividade de Belchior de Matos. Vítor Serrão defende que o pintor merece ser valorizado, lembrando que trabalhou amplamente no território do Oeste e deixou obras significativas, ainda que algumas se encontrem em mau estado ou careçam de restauro urgente.
Na apresentação foi ainda analisada a pintura devocional que representa a Virgem do Pópulo, obra cuja iconografia remonta a tradições antigas de proteção contra epidemias. O historiador explicou que a peça possui um valor simbólico particular, tendo sido reinterpretada localmente em diálogo com modelos italianos e espanhóis. Trata-se de uma pintura “de grande qualidade” e com forte ligação à identidade histórica das Caldas da Rainha.
O investigador fez ainda um apelo à necessidade de preservar e estudar de forma rigorosa o património artístico da cidade, lembrando que alguns elementos se encontram em risco ou subvalorizados. Entre eles, mencionou obras em capelas da região, retábulos parcialmente destruídos e painéis cuja investigação laboratorial continua por concluir.
Vítor Serrão reforçou que todas as obras analisadas, das mais reconhecidas às mais discretas, “refletem um ponto de vista cultural” e fazem parte de um património que merece ser cuidado, estudado e divulgado.
No final da sessão, o presidente da Câmara Municipal das Caldas da Rainha, Vítor Marques, agradeceu a participação da comunidade e das instituições que se envolveram nas comemorações dos 500 anos da morte de D. Leonor e recordou que homenagear a fundadora das Caldas da Rainha “é também compreender melhor o nosso passado e a identidade da cidade”.
O autarca destacou ainda os projetos municipais ligados ao património e ao termalismo, anunciando que está em curso a criação de um website dedicado ao Hospital Termal e ao legado histórico da Rainha, com lançamento previsto no primeiro trimestre de 2026.









