Desconhecidos, que aparentaram ter conhecimentos de como funciona o sistema de exploração ferroviária, vandalizaram os cadeados de dois aparelhos de mudança de via, equipamentos localizados em cada extremo da estação que permitem que os comboios mudem de uma linha para outra de forma segura, funcionando através de lâminas móveis (agulhas) que guiam as rodas do comboio para uma nova direção.
Neste caso, as agulhas foram mexidas de maneira a desviar o comboio para uma linha lateral, o que obrigaria a uma velocidade muito mais reduzida para que as composições não saíssem dos carris. A situação foi detetada a tempo pelo maquinista do primeiro comboio que ali passou e que frenou a composição, evitando o descarrilamento.
A IP revelou que solicitou de imediato a presença das autoridades, tendo sido registada a ocorrência no local pela GNR e depois pela PJ, que procura apurar se se confirma que houve intenção de sabotagem. O certo é que não se tratou de puro vandalismo, porque também foi tapado um sinal que indica se a estação contava com pessoal da IP, o que validaria a anormal mudança de via.
Concluída a inspeção pelas entidades competentes, foram realizadas as intervenções necessárias para a reparação e reposição integral dos elementos de segurança instalados nos aparelhos de mudança de via danificados, relatou a IP.
“Trata-se de uma situação isolada e que não coloca em causa as condições de exploração nem a segurança dos utilizadores da Linha do Oeste”, manifestou a empresa pública responsável pela gestão das infraestruturas ferroviárias do país.
Segundo indicou, “a título preventivo, está a ser reforçado o sistema de segurança existente e foi implementada uma limitação temporária de velocidade na circulação dos comboios nas estações” situadas entre Caldas da Rainha e Louriçal.
A IP revelou estar a colaborar com as autoridades na investigação deste ato, que classifica de “condenável”.
Não estando relacionado com o caso, esta semana a circulação já esteve suspensa entre Valado dos Frades e Caldas da Rainha, devido a uma avaria num comboio. Houve também atrasos em mais de três horas devido às cheias na estação da Malveira, onde as linhas ficaram completamente tapadas pela água, para além da supressão de diversos serviços por excesso de imobilizações para manutenção ou reparação, e outros atrasos.
“Faltam pessoal e meios de segurança”
“A sistemática e progressiva redução de pessoal na Linha do Oeste, ao longo dos anos e o abandono a que as estruturas deste eixo ferroviário têm sido votadas pela Infraestruturas de Portugal, com consequências para a segurança de pessoas e equipamentos, possibilitam atos como o ocorrido na estação de São Martinho do Porto”, vincou a Comissão Para a Defesa da Linha do Oeste.
Segundo sustentou, “é notório que a pretexto da futura automatização da sinalização e das agulhas, a IP tem vindo a reduzir o efetivo de trabalhadores nas estações ao longo da Linha do Oeste, quer no troço Caldas da Rainha/Meleças, em obras de modernização e electrificação, quer no troço entre as Caldas da Rainha e o Louriçal”.
Como exemplo, indicou que no dia 28 de outubro, entre Caldas da Rainha e Torres Vedras, “só era possível proceder ao cruzamento de combóios na primeira destas estações, porque a do Bombarral, onde normalmente se podem fazer cruzamentos, estava encerrada, por falta de pessoal”. “Deste modo, os atrasos acumularam-se, nos diferentes comboios, num e noutro sentido”, referiu.
Para a comissão, “esta desertificação humana das estações, para além dos problemas de falta de segurança para o património e utentes, acarreta outros problemas relacionados com a ausência de quem possa dar resposta às informações solicitadas sobre os horários, atrasos, destinos e ocorrências na circulação”.
“A crescente degradação do material circulante, comprovada com sucessivas avarias registadas ao longo dos últimos meses, justificam o reforço da guarnição de diversas estações ao longo da Linha, garantindo que em cada dia, no período de circulação de comboios aquelas tenham trabalhadores a assegurar o seu funcionamento, até porque a automatização da sinalização e agulhas só deverá estar em funcionamento lá para 2027, tendo em conta os atrasos registados na sua implantação”, defendeu a comissão, sublinhando que “a modernização da Linha não deve significar desertificação e abandono das estações e apeadeiros e muito menos funcionamento sem trabalhadores”.










