Em novembro de 1935 houve um levantamento popular motivado pela perspetiva de prisão de 62 mestres de barcos e proibição de pesca durante um ano. Se as condições de vida eram sempre difíceis, sem trabalho, os pescadores, as conserveiras e suas famílias encaravam o agravamento da miséria: “Sem pesca, não há pão!” foi a palavra de ordem.
Concentrados na Praça Jacob Rodrigues Pereira, quando as camionetas se encontravam prontas para transportar os mestres para a cadeia das Caldas da Rainha, os sinos começaram a tocar a rebate, chamando a população à rua. O comércio e as escolas fecharam, as conserveiras aderiram à luta. A população invadiu os carros destinados ao transporte dos mestres na tentativa de impedir a sua transferência. A massa humana seguiu para o Portão de Peniche de Cima, barriu a estrada, cortando o trânsito, para impedir a saída das camionetas.
Na zona da Prageira (antigo Juncal) foram derrubados postes telefónicos e de telecomunicações, e cortados os fios. A GNR, reforçada com mais forças, vindas de outras localidades, reprimiu ferozmente estas acções, começando a disparar, matando a tiro o pescador Francisco Sousa e ferindo outros.
Após estes acontecimentos, a vila foi invadida por forças militares e outras forças da repressão (Polícia de Vigilância e Defesa do Estado – PVDE, antecessora da PIDE), sendo decretado o “estado de sítio”. A PVDE realizou 45 prisões, sendo os presos enviados para a prisão do Limoeiro, em Lisboa.
Os presos foram os seguintes: Acácio Vagos Varina; Álvaro Ambrósio; Antero Pereira Teixeira; António Ceia; António Domingos Guincho; António Heitor; António Nobre “O Arsénio”; António Valnove Carvalho; Asselino Ginga; Augusto Santana Veloso; Carlos Leiria Júnior; Custódio Ramizo Soisinha; Domingos Mesquita “O Marreco”; Eduardo Vieira Simões; Francisco de Castro Gonçalves “O Farruca”; Francisco Leonardo Franco “O Carélia”; Idalino Gomes “O meia mão”; Inácio Eusébio; João Cupertino da Silva “João Vareia”; João Francisco Serpa “O João Vitória”; Joaquim André dos Santos; Joaquim de Jesus Godinho “O Guerra”; Joaquim Lares Couto; Joaquim Moura; Joaquim Nunes Carveiro; José Alves da Cruz “O Vienês”; José Amandio “José Mendonça”; José André Godinho “José da Gata”; José do Carmo Homem; José Domingos da Costa; José João; José Jaime da Cruz Varela; José Joaquim de Sousa Varela; José Luís Ferreira Brilha; José da Luz; José Madeira de Campos; José Maria Francisco; José Maria Ribeiro Borges; José do Rosário Serafim “José Catarino”; Luís de Sousa “O Lio”; Manuel Eusébio Serrano “O mala preta”; Manuel Eustáquio; Marcolino Eustáquio; Norberto Mota; Umberto Narciso.
Nos dias posteriores, o regime foi obrigado, pela força dos acontecimentos, e pela luta incessante da população, a libertar os mestres e os outros detidos e a permitir que os barcos pudessem ir ao mar. Foi também com esta jornada de resistência que se conseguiu que uma reivindicação antiga dos pescadores de Peniche fosse realizada: a construção do molhe Oeste.
Toda esta importante luta popular será comemorada no dia 15, a partir das 15h00. com organização da URAP – União dos Resistentes Antifascistas Portugueses e da Associação dos Amigos do Museu Nacional da Resistência e Liberdade.










