A reação foi boa e os cerca de 40 reclusos presentes aplaudiram entusiasticamente e, no final, pediram até para ouvir “mais um tema”.
Os músicos que participaram foram Cristiana Moreira, o professor Bernardo Mendes ao piano, Luís Coelho no saxofone e Luís Pereira na bateria. No repertório estiveram temas como Take Five, Blue Bossa, All The Things You Are, Michelle, My Favorite Things, Yesterday, Autumn Leaves e Fly Me to the Moon.
Segundo o professor Bernardo Mendes “enquanto músicos do Conservatório tocar para públicos distintos é sempre enriquecedor, permitindo experiências novas e contactos diferentes, o que é uma mais-valia para o nosso crescimento”.
Para a diretora do Estabelecimento Prisional das Caldas da Rainha, Helena Cardoso, iniciativas como esta são importantes para “quebrar a rotina e atenuar o efeito do confinamento”. “Estes momentos permitem aos reclusos manter alguma ligação com as comunidades a que pertencem e transportam-nos para outros locais, fazendo com que, por algumas horas, não se sintam presos”, explicou.
“Obviamente que o jazz é um estilo especial, que eles não ouvem habitualmente, mas que atrai”, adiantou.
O Estabelecimento Prisional das Caldas da Rainha alberga cerca de 110 homens, entre reclusos condenados e preventivos, sendo aproximadamente um terço ainda à espera de julgamento. As penas dos condenados variam até cerca de cinco a seis anos, sendo que, a partir desse limite, são transferidos para outros estabelecimentos com mais oportunidades de formação e trabalho.
Além da música, o estabelecimento promove várias iniciativas de formação. Os reclusos frequentam aulas do ensino básico e secundário em parceria com os Agrupamentos de Escolas Rafael Bordalo Pinheiro e D. João II. Alguns participam em oficinas de trabalho em empresas externas e na Câmara Municipal, saindo diariamente para trabalhar e regressando ao final do dia.
“Forma de desmistificar o jazz”
Para Mário Branquinho, diretor do CCC, estas iniciativas são uma maneira de descentralizar a cultura e criar momentos diferentes na rotina de públicos variados, incluindo reclusos. “No caso do estabelecimento prisional, é um modesto contributo para a socialização e para oferecer experiências distintas do dia-a-dia dos reclusos”, afirmou.
O diretor sublinhou ainda o papel educativo da iniciativa. “É uma forma de desmistificar o jazz e dar oportunidades a quem normalmente não está em contacto com este género. Não é apenas diversão, mas também conhecimento, formação de público e mediação cultural, que são componentes centrais do nosso trabalho”, explicou.
“Ir ao encontro das pessoas, seja nas escolas, nos centros educativos ou na comunidade sénior, entre outras, é fundamental. O nosso trabalho vai para além dos concertos. Trata-se de criar laços, fomentar experiências e semear o gosto pela cultura a médio e longo prazo”, referiu.
Esta semana, o CCC e o Conservatório estão a levar o jazz às escolas primárias.









