“O futuro vai passar pelas casas coletivas e partilhadas”

24 de Setembro de 2025

“Os preços não vão baixar nos próximos anos”. A convicção é de Norberto Isidro, consultor imobiliário, que em entrevista ao JORNAL DAS CALDAS traçou um retrato do mercado imobiliário no Oeste. Entre o impacto do pós-pandemia, o boom da procura estrangeira e a escassez de oferta, o especialista garante que o setor vive uma transformação profunda, com desafios que afetam tanto quem compra como quem arrenda casa.

Ao longo de 21 anos de carreira, foi consultor, gestor e, nos últimos dois anos, assumiu funções como diretor de agência. Acompanha de perto as dinâmicas da região Oeste, em particular nas Caldas da Rainha, e não hesita em afirmar que estamos perante um mercado em transformação profunda. “O setor imobiliário é desafiante, apaixonante e caraterístico”, resume, acrescentando que o Oeste tem condições únicas que o tornam cada vez mais procurado.

Segundo o consultor, a pandemia foi o grande ponto de viragem. “No pós-Covid sentimos uma mudança geral. Muitas pessoas optaram por viver aqui na zona Oeste. Houve um êxodo mundial onde muitas pessoas saíram de grandes cidades para cidades mais pequenas, e também muita gente que veio de países da Europa e de fora da Europa para Portugal. O país tornou-se um local de eleição”, sublinha.

O teletrabalho acelerou esse movimento. “Com a Covid aprendemos que é possível trabalhar em qualquer parte do mundo. Isso atraiu estrangeiros, mas também muitos lisboetas que preferiram a qualidade de vida do Oeste. Vieram espanhóis, brasileiros em muitos casos por questões políticas e sociais, norte-americanos e franceses. Foi um boom, um giro completo no mercado”, conta.

Este fenómeno alterou também o perfil da procura. “Antes da pandemia, um T2 ou T3 era suficiente para uma família. Hoje, mesmo um casal com um filho procura uma casa com quatro quartos. Porquê? Porque precisa de espaço para trabalhar em casa. Agora é impensável não ter um espaço preparado para o teletrabalho”, declara.

 

Procura em alta, oferta limitada

 

Para Norberto Isidro, a região não tem conseguido responder à procura. “Nem aqui, nem a nível nacional, há oferta suficiente. E o que existe demora muito tempo a chegar ao mercado. Quem procura, quer para já, mas um prédio novo só fica pronto em dois ou três anos”, refere o consultor imobiliário.

Além disso, a construção para a classe média é cada vez mais difícil. “O mercado médio praticamente desapareceu. Os custos de construção estão muito altos. A mão de obra é cara, os materiais são caros. Mesmo que alguém queira construir barato, não consegue. A lei da oferta e da procura é clara e quando a procura é maior, logo os preços aumentam”, adianta.

De acordo com o consultor, não há margem para ilusões. “Os preços não vão baixar. Nos próximos dois a três anos não se perspetiva qualquer descida. Quem quiser vender vai achar positivo, quem quiser comprar terá mais dificuldades. Mas a realidade é que os preços vão continuar a subir”, revela.

 

Arrendamento em desequilíbrio

 

Se na compra o problema parece difícil de resolver, no arrendamento há sinais mais positivos. “Nota-se um pouco mais de oferta do que no ano passado. Acredito que nos próximos dois anos o arrendamento estabilize, com procura e oferta mais equilibradas. Mas continua a faltar muito nos T0, T1 e nos quartos para estudantes e professores. É um mercado descontrolado, quase paralelo, com preços exorbitantes”, aponta.

“Neste momento, há pessoas a pagar 350 euros por um quarto, quando há uns anos pagavam esse valor por um apartamento inteiro. E muitas vezes partilham casa com pessoas que nem conhecem. Isto não é o futuro, já é o presente”, acrescenta.

 

“Casas coletivas a solução para o futuro”

 

Norberto Isidro considera que o futuro vai passar pelas casas coletivas e partilhadas. “Já não faz sentido construir apenas T2 ou T3 familiares, como há 20 anos. Hoje as pessoas vêm para cá estudar, trabalhar ou dar aulas durante seis meses ou um ano. Não querem constituir família, querem soluções flexíveis”, indica.

Segundo explica o diretor de agência, isso significa novas formas de construção. “A tendência é haver prédios com 20 ou 25 T0, adquiridos por um investidor que depois os coloca no mercado de arrendamento. Esse é o tipo de oferta de que a cidade precisa. Habitações pequenas, funcionais, adaptadas a quem quer estar dois ou três meses, ou mesmo um ano. É uma realidade que já existe no centro da Europa e que vai chegar em força a Portugal”, manifesta.

Norberto Isidro sublinha que muitas famílias já vivem em regime partilhado. “Entre 50% a 60% dos prédios da cidade têm arrendamento partilhado. Temos T3 com duas famílias a viverem juntas. Mas a construção não está pensada para isso. O futuro passa por edifícios desenhados para acolher este tipo de habitação coletiva”, salienta.

Para o consultor imobiliário esta mudança não é apenas uma previsão. “Estamos a falar do presente. Há muita gente que já vive em casas partilhadas. Pagam por um quarto, dividem cozinha e sala comum com desconhecidos. O mercado precisa de acompanhar essa procura, oferecendo soluções dignas e ajustadas”.

 

Crédito acessível, mas preços altos

 

No mapa do Oeste, as Caldas da Rainha assumem uma posição privilegiada. “É uma cidade neutra, com serviços, com oferta de apartamentos e moradias, ao contrário de Óbidos, que tem pouca oferta, exceto na Praia D’El Rey. As Caldas conseguem servir todo o tipo de clientes”, afirma.

E com novos projetos de saúde privada, a procura deverá intensificar-se. “Com a abertura do Hospital da Luz e da CUF, a cidade vai ter um boom. Já vimos o que aconteceu em Leiria, o hospital privado foi decisivo para atrair mais residentes estrangeiros. Nas Caldas vai acontecer o mesmo”, refere.

Apesar das dificuldades de acesso à habitação, o consultor não considera que o crédito seja, neste momento, a maior barreira. “As taxas de juro até estão equilibradas, sobretudo se tivermos em conta que vivemos num período de guerra na Europa. Quem tem estabilidade profissional consegue crédito. O apoio do Governo aos jovens também trouxe novo impulso”, revela.

“Vivemos numa zona única, com clima especial, que atrai cada vez mais estrangeiros. Quem vem para cá não quer sair. Mas é fundamental perceber que o futuro já não passa apenas pela casa familiar tradicional. O caminho é a construção modular, rápida, e sobretudo as habitações coletivas e partilhadas. Esse é o futuro e, em muitos casos, já é o presente”.

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