O passado fim de semana foi especialmente feliz para o festival, que proporcionou duas tardes de ópera no Convento São Miguel das Gaeiras a centenas de espetadores, de várias gerações, muitos deles em estreia neste género artístico. O programa incluiu a criação contemporânea A Menina, o Caçador e o Lobo, de Vasco Mendonça e a centenária ópera de Ravel, L’enfant et les sortilèges, duas óperas que distam um século, mas que se encontram na mesma mensagem de tolerância e empatia.
Presente em Óbidos, o compositor Vasco Mendonça destacou a estreia da nova produção do Lobo como “belíssima”, sublinhando o papel do festival “pela forte aposta na ópera do nosso tempo e no talento nacional”.
Depois da “Tolerância”, o último fim de semana cumpre a “Irreverência”, que também marca esta edição. Como lembra a diretora artística Carla Caramujo, “a irreverência é intrínseca à luta pelos Direitos Humanos e à luta pelos direitos das mulheres no início do século XX”, e está bem espelhada neste programa, que junta a ópera O Segredo de Susanna ao bailado El Amor Brujo, de Manuel de Falla.
A ópera em um ato de Ermanno Wolf-Ferrari, com libreto de Enrico Golisciani (1909), apresenta-se como uma partitura leve e espirituosa, revelando o “segredo” da condessa Susanna. O papel é interpretado pela soprano Ana Vieira Leite, acompanhada pelo barítono ucraniano Nazar Mykulyak e pelo ator Gonçalo Ramalho. A encenação é assinada pelo britânico-suíço Max Hoehn, com percurso pelas principais companhias europeias (Glyndebourne, Oper Frankfurt e Opernhaus Zürich).
A música está a cargo da Orquestra Filarmónica Portuguesa, dirigida por Darrell Ang, maestro principal da Orquestra Sinfónica de Sichuan (China), colaborador regular de casas como o Teatro Mariinsky, a Ópera Nacional de Bordéus ou o Teatro Nacional de Taichung.
Segue-se o bailado El Amor Brujo, de Manuel de Falla, estreado há precisamente 100 anos. Em palco estarão a mezzo-soprano Maria Luísa de Freitas e os bailarinos Catarina Ribeiro e Ivanoel Tavares, com coreografia de Rita Abreu e a música da Orquestra Filarmónica Portuguesa. Um espetáculo dramático onde a cigana-andaluz Candela surge como personificação de exotismo, irreverência e liberdade.










