Agrupamento Raul Proença inicia ano letivo com 24% de alunos estrangeiros de 46 nacionalidades

17 de Setembro de 2025

Como já é tradição, realizaram-se no passado dia 10, no Grande Auditório do CCC – Centro Cultural e de Congressos das Caldas da Rainha, as Jornadas Pedagógicas do Agrupamento de Escolas Raul Proença, iniciativa que marca a receção aos professores e promove a reflexão coletiva, em especial para os que este ano integram o agrupamento. A edição de 2025 teve como tema “O tempo que se perde” e foi presidida pela secretária de Estado da Administração e Inovação Educativa, Maria Luísa Oliveira. À margem do encontro, o diretor do Agrupamento de Escolas Raul Proença, João Silva, traçou um retrato do novo ano letivo, que arranca com 2.880 alunos inscritos, número que deverá aproximar-se dos 2.900 até ao início das aulas.

Um dos dados mais marcantes é o crescimento da população estrangeira, com 697 alunos de 46 nacionalidades diferentes, o que representa 24% do total (contra 22% no ano passado). “Estamos a falar de 46 nacionalidades. Isto não pode ser visto como um problema, mas como um desafio. O sucesso do nosso país e da nossa sociedade depende de como conseguimos acolher e integrar bem estes alunos”, sublinhou o diretor do Agrupamento, lembrando que a escola pública “tem um papel fundamental” nesse processo. Registou-se também um aumento de alunos de origem norte-americana, que ocupam agora o 5.º lugar entre as nacionalidades representadas, totalizando cerca de duas dezenas de estudantes.

Entre os desafios que se colocam ao Agrupamento, o diretor destacou a pressão das turmas cheias, com superlotação já visível no 5.º e 7.º anos, a substituição de docentes em tempo útil, a falta de assistentes operacionais e técnicos, bem como atrasos na colocação de mediadores linguísticos e culturais devido a problemas burocráticos.

Na relação com os encarregados de educação, reforçou a importância da comunicação institucional, pedindo aos diretores de turma e educadores que sejam firmes e assertivos.

João Silva encerrou a sua intervenção sublinhando a liderança partilhada que carateriza o Agrupamento Raul Proença, e agradeceu a dedicação das equipas que tornam possível a sua dinâmica diária. Destacou que são os docentes que “fazem a diferença”.

 

“O Governo declarou guerra à burocracia”

 

A sessão de abertura das jornadas contou com a intervenção da secretária de Estado da Administração e Inovação Educativa, que salientou a relevância do tema escolhido, “O tempo que se perde”, e alertou para o facto de a burocracia ser a “nossa inimiga”. “Perdemos tempo quando deixamos que ela se sobreponha à ação, quando adiamos o que é necessário ou quando hesitamos em dar resposta aos alunos, professores e famílias”, afirmou, sublinhando que o Governo declarou “guerra à burocracia” e está a preparar um plano de apoio às escolas para reduzir tarefas inúteis e tornar a gestão mais eficaz.

Maria Luísa Oliveira anunciou ainda a criação da Agência para a Gestão do Sistema Educativo, que substituirá o Instituto de Gestão Financeira da Educação, a Direção-Geral da Administração Escolar e a Direção-Geral dos Estabelecimentos Escolares. Esta nova entidade, explicou, terá como missão “gerir com maior agilidade e transparência os recursos humanos e financeiros das escolas, apoiada em ferramentas digitais modernas, incluindo inteligência artificial”.

“A integração será feita de forma gradual, com momentos de escuta junto de diretores, professores, autarquias e comunidades locais. Não queremos que esta agência seja uma estrutura distante, mas sim uma ferramenta prática ao serviço das escolas e dos alunos”, garantiu.

A governante defendeu que é preciso “tornar o tempo escolar mais significativo”, estabelecendo uma ligação mais “estreita entre ensino e vida real, valorizando o tempo de alunos e professores e promovendo ambientes educativos inclusivos e estimulantes”.

Reforçou ainda alguns compromissos do Governo, como a modernização da carreira docente, o reforço da formação contínua dos professores, o investimento nas infraestruturas escolares e a promoção da escola pública como o maior instrumento de igualdade e coesão social.

“Não percamos mais tempo. O tempo que se investe com propósito nunca é tempo perdido”, concluiu Maria Luísa Oliveira, desejando a toda a comunidade escolar um ano letivo de aprendizagens significativas e de confiança renovada na escola pública.

O presidente da Câmara das Caldas, Vitor Marques, que também interveio na sessão de abertura, sublinhou a necessidade urgente de investimento na Escola Secundária Raul Proença, que já conta com mais de 40 anos de existência. “Eu próprio estive lá como aluno há quatro décadas, e é evidente que a escola carece de uma requalificação profunda. Existe já um projeto desenvolvido em articulação com o Município e com a direção do Agrupamento, mas falta o essencial, que é os meios financeiros para avançar com a obra”, afirmou o autarca, deixando um apelo ao Governo para que apoie este processo.

O presidente da Câmara destacou que a intervenção é fundamental para garantir melhores condições de aprendizagem e de trabalho, lembrando que o agrupamento se distingue pela diversidade de ofertas formativas, do ensino regular ao profissional, e pelo dinamismo dos seus projetos. “É preciso criar espaços adequados para que toda esta atividade se desenvolva em pleno, com a qualidade que os alunos e professores merecem”, reforçou.

Apesar das limitações, Vítor Marques fez questão de enaltecer o trabalho realizado no Agrupamento, desde os projetos ambientais e de cidadania às iniciativas desportivas e tecnológicas. Sublinhou, em particular, o feito do Clube de Robótica do Agrupamento Raul Proença, recentemente apurado para representar Portugal nas Olimpíadas Mundiais da especialidade em Singapura, como exemplo do mérito e da criatividade que a escola continua a gerar.

 

“É preciso combater a burocracia” 

 

O professor Rui Correia, que em 2019 venceu o Global Teacher Prize Portugal, voltou a proporcionar um dos momentos altos das jornadas. Enquanto organizador da iniciativa, lançou a reflexão sobre como é possível proporcionar mais tempo aos professores, sublinhando que a burocracia não se limita ao papel. “Hoje em dia, um diretor escolar pode ter de lidar com mais de 40 plataformas digitais diferentes”, contou.

Na sua perspetiva, a “cultura da legitimação em papel” já atingiu um ponto de saturação, transformando-se numa verdadeira perda de tempo. “Não é aceitável que um professor tenha de ir buscar dados ao GIAE [Gestão Integrada de Administração Escolar] apenas para os voltar a colocar noutro sistema. Isso rouba tempo precioso que deveria estar dedicado aos alunos ou até, simplesmente, a não fazer nada, o que também é fundamental”, frisou.

Rui Correia deixou ainda um desafio à comunidade educativa para colaborar ativamente no combate à burocracia, ajudando a simplificar processos e a eliminar redundâncias. A sua intervenção terminou sob fortes aplausos dos professores presentes, sinal da pertinência do tema e da identificação da plateia com o problema.

 

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