O cenário natural do evento não passou despercebido a João Ferreira, membro da Comissão Política do Comité Central do PCP, que marcou presença pela primeira vez. “Nunca aqui tinha estado antes, não sabia o que andava a perder”, afirmou, elogiando o local “extraordinário junto à Lagoa e o ambiente do convívio”.
Num tom de proximidade com os presentes, sublinhou que, “apesar dos tempos difíceis, com muitos motivos de preocupação no país e no mundo, esta festa representa um momento importante de fraternidade e esperança”. “Alguns, mais pessimistas, poderão perguntar-se que motivos temos para festejar. Mas quem cá veio sairá certamente um pouco mais animado”, disse, valorizando o empenho dos militantes que, “com esforço e dedicação, tornam possível esta celebração anual”.
O dirigente comunista deixou fortes críticas ao Governo, acusando-o de “continuar a destruir os serviços públicos em áreas como a saúde, a educação, a habitação e os transportes”.
No discurso, João Ferreira destacou as dificuldades sentidas por muitos cidadãos, incluindo no distrito, no acesso ao Serviço Nacional de Saúde. “Faltam médicos, faltam enfermeiros, faltam assistentes operacionais nos hospitais e centros de saúde, mas no programa do Governo não há uma única palavra sobre contratar profissionais. Em vez disso, há medidas para entregar esses serviços aos privados”, afirmou.
Também na educação, o dirigente do PCP alertou para a “falta de professores e de vagas em creches”, lamentando que “o Governo opte, mais uma vez, por recorrer a parcerias público-privado em vez de investir no setor público”.
A situação repete-se, segundo João Ferreira, na habitação. “Em vez de usar património do Estado para garantir casas às famílias, querem entregar esses imóveis aos privados”, declarou, referindo que esta política só agrava as dificuldades de quem procura uma casa a preços acessíveis.
No que toca aos transportes, apontou a intenção de privatizar a exploração de linhas ferroviárias, como a Linha do Oeste, em vez de realizar os investimentos necessários. “Outros países que seguiram este caminho tiveram de voltar atrás. E agora o nosso Governo quer repetir os mesmos erros”, criticou.
Também no plano fiscal, João Ferreira afirmou que “já vieram dizer que vão baixar ainda mais o IRC e dar créditos fiscais às grandes empresas”, acrescentando que “o dinheiro que falta para a saúde, educação ou habitação é o mesmo que agora se quer entregar aos grandes grupos económicos e financeiros”.
O comunista não poupou críticas à proposta de evolução do salário mínimo. “Querem chegar a 2029 com um salário mínimo nacional inferior ao que já hoje se pratica em Espanha. E ainda dizem que vão flexibilizar mais os horários de trabalho”, denunciou, alertando para os impactos da precariedade na vida das famílias.
Outro ponto forte do discurso foi a denúncia da intenção do Governo de limitar o direito à greve. “Depois de esmagarem direitos, querem atar pés e mãos aos trabalhadores para que não possam lutar pelos seus direitos. Estão muito enganados”, garantiu, assegurando que o PCP estará “na linha da frente” da defesa das conquistas laborais.
João Ferreira destacou ainda várias lutas em curso, incluindo a dos trabalhadores da Sumol+Compal no distrito, e anunciou as próximas ações em defesa dos direitos laborais e sociais, como a marcha marcada para dia 26, em Lisboa e no Porto, com o lema “Aumentar salários e pensões para uma vida melhor”. Esta iniciativa, segundo disse, conta já com o apoio de mais de 130 mil pessoas.
Em jeito de apelo, João Ferreira reforçou a importância da mobilização do partido para as eleições autárquicas, rejeitando a ideia de que estas possam ser uma “segunda volta” das legislativas.
Referindo-se à situação internacional, criticou duramente o papel dos Estados Unidos nos recentes ataques ao Irão, bem como o apoio a ações militares no Médio Oriente que, segundo o dirigente comunista, resultaram já em dezenas de milhares de mortos, na sua maioria civis e crianças. “Está a ser levado a cabo um autêntico genocídio”, denunciou, reforçando que “é preciso levantar a voz contra a guerra e pela paz”.
Preparação para eleições autárquicas
Também Maria Loureiro, da Direção Regional do PCP, tomou a palavra durante a Festa de Verão, centrando a sua intervenção na preparação das próximas eleições autárquicas. “A cerca de três meses das eleições autárquicas, estamos empenhados na construção dessa batalha eleitoral”, afirmou, apelando à mobilização e ao envolvimento de militantes e simpatizantes na dinamização da CDU.
A dirigente comunista sublinhou a importância de alargar contactos, angariar mais candidatos e apresentar o maior número possível de listas. “É o momento de dar particular atenção às prioridades que temos traçadas”, referiu, elencando os objetivos estratégicos do partido na região: “Manter e reforçar as freguesias de Serra d’El Rei, Valado dos Frades e a Moita. Reconquistar a freguesia da Marinha Grande e alcançar a maioria nas Câmaras de Peniche, Nazaré e Marinha Grande”.
Segundo Maria Loureiro, estas são “terras de gente de trabalho que merecem ser felizes, onde escolheram viver e ter as suas famílias”, e onde a CDU quer contribuir para “um novo trajeto de desenvolvimento e progresso”.
Maria Loureiro não deixou de abordar, também, os graves problemas que afetam o acesso aos cuidados de saúde no distrito de Leiria. “O direito de acesso à saúde tem vindo a degradar-se substancialmente”, afirmou, destacando a falta de médicos, os sucessivos encerramentos do Serviço de Urgência Básica do Hospital de Peniche e, mais grave ainda, as frequentes situações em que as urgências de obstetrícia e ginecologia dos hospitais de Leiria e Caldas da Rainha estão simultaneamente encerradas. “É o caso, por exemplo, do dia de hoje, camaradas”, sublinhou, com preocupação. “Não podemos continuar a ter grávidas mal acompanhadas, a viver numa ansiedade permanente sobre onde vão parir”, recordando o caso recente de uma criança nascida em plena A8. “As famílias têm direito a condições de saúde, segurança e privacidade”, defendeu.
Recordou as ações promovidas pela CDU em defesa do Serviço Nacional de Saúde, como vigílias, protestos e reuniões em várias localidades, de Alcobaça ao Bombarral, e destacou duas ações específicas junto ao Hospital de Santo André, em Leiria, e na Marinha Grande. “Só o SNS garante o direito à saúde, vamos defendê-lo”, afirmou, acrescentando que “a luta continua pela construção do novo Hospital do Oeste, com a capacidade adequada para uma população em crescimento”.
Apesar de o resultado das legislativas não ter garantido um deputado da CDU pelo distrito, Maria Loureiro assegurou que “será com a CDU que o povo deste distrito pode contar”. Destacou, nesse sentido, batalhas estruturantes como “a eletrificação e modernização da linha do Oeste, o investimento nos hospitais e centros de saúde da região, a despoluição do Rio Lis com apoio ao setor suinícola, a qualificação do Porto da Nazaré e o investimento no Pinhal de Leiria, ainda marcado pelos efeitos do último grande incêndio”.
Por fim, destacou a campanha de recolha de assinaturas pelo aumento dos salários e pensões e deixou o apelo à participação na Marcha Nacional, marcada para a próxima quinta-feira, com o lema “Cumprir a Constituição. Aumentar salários e pensões, para uma vida melhor”.










