A jornada comemorativa começou com uma cerimónia religiosa na Igreja de Nossa Senhora da Conceição, celebrada pelo padre Eduardo Gonçalves, que foi professor de Religião e Moral na escola. Seguiu-se um almoço de convívio no restaurante Paraíso do Coto, que juntou cerca de 50 pessoas, na maioria professores aposentados, num ambiente de reencontro e emoção.
Um dos momentos mais marcantes foi a presença dos dois únicos professores ainda vivos da escola. O próprio padre Eduardo Gonçalves e, com surpresa para todos, Júlio Dinis Parreira, o primeiro diretor da instituição e professor de pedagogia que, aos 90 anos e vindo de Coimbra, fez questão de estar presente. A sua memória dos primórdios da escola e o entusiasmo com que partilhou histórias emocionaram os antigos alunos.
“Foi um momento muito gratificante e emotivo. Muitos de nós já não nos víamos desde junho de 1975”, contou Clara Pereira, professora primária aposentada e uma das organizadoras do evento. Fizeram parte ainda da organização da iniciativa as antigas alunas Luísa Diogo, da Fanadia, e Helena Hipólito, de Peniche.
Vieram participantes de vários pontos do país. Além das muitas memórias partilhadas, os antigos alunos quiseram tornar o reencontro ainda mais especial com pequenas lembranças simbólicas do dia. Assinalaram a ocasião com marcadores de livros temáticos, um diploma comemorativo e até fitas que circularam entre os presentes para serem assinadas como nos tempos de estudante. “Foi espetacular e inesquecível”, descreveu Clara Pereira.
A Câmara Municipal das Caldas associou-se à celebração, oferecendo a cada participante um saco com dois beijinhos e folhetos de divulgação turística do concelho.
Entre os episódios que mais risos e espanto provocaram esteve uma história que poucos esqueceram. A forma como viveram a Revolução dos Cravos, numa visita de estudo à Serra da Estrela. “Fomos dormir à Covilhã e foi tudo muito atribulado, porque não havia telemóveis e não sabíamos ao certo o que se estava a passar”, relatou Clara Pereira. “Na camioneta ouvíamos os comunicados do Estado-Maior das Forças Armadas. As colegas de Torres Vedras estavam muito preocupadas, por estarem mais próximas de Lisboa. Quando parávamos, corriam para as cabines telefónicas para tentar saber notícias”, recordou.
A antiga professora lembrou ainda uma frase marcante dita por um dos professores que os acompanhava, na tentativa de acalmar o grupo: “Ó meninas, Portugal é Lisboa…o resto é paisagem!”. Apesar da tensão do momento histórico, a excursão prosseguiu. “O diretor chegou a ponderar cancelar a viagem, mas como já estava paga, seguiram com o plano. No fim, foi uma aventura que ficou gravada para sempre nas nossas memórias”, manifestou.
Júlio Dinis Parreira, diretor da Escola do Magistério Primário das Caldas até 1974, recordou que com a mudança de regime “terminaram os diretores e voltei para a minha escola, que era em Coimbra”.
Tem recordações dos Pavilhões do Parque como escola. “50 anos depois foi muito agradável esta iniciativa, que quebra a rotina de uma certa solidão. Foi uma forma de matar saudades”, disse.
Em declarações ao JORNAL DAS CALDAS, o padre Eduardo Gonçalves descreveu o reencontro como um momento verdadeiramente marcante. “Foi um convívio único, 50 anos depois, com pessoas que eu nunca mais tinha visto. Dava por mim a olhar para elas e a tentar adivinhar, com base nas fotografias de há meio século, quem eram aquelas pessoas agora ali, à mesa, a partilhar a mesma refeição. Foi comovente”, contou.
O sacerdote, que começou por lecionar a disciplina de Religião e Moral, mais tarde designada Filosofia da Religião, acompanhou de perto aquele que foi o segundo curso da Escola do Magistério Primário das Caldas da Rainha. “Este grupo formou-se em 1975, após dois anos de curso. Era um tempo conturbado, cheio de dúvidas e interrogações, não só pelo momento político que o país vivia, mas também pela responsabilidade que aquelas jovens carregavam, porque dentro de pouco tempo, estariam à frente de uma turma de crianças”, recordou.
Apesar das incertezas da época, o padre Eduardo Gonçalves lembra um grupo muito unido e empenhado. “Eram muito preocupadas com o futuro, levavam aquilo com grande seriedade”, referiu.
Outro momento que o emocionou foi o “reencontro com o primeiro diretor da escola, o Dr. Júlio Dinis Parreira”. “Foi uma felicidade enorme voltar a vê-lo. Revivemos memórias as viagens de estudo, a viagem de final de curso, as reuniões entre aulas. Foi o reviver de um passado por vezes atribulado, mas também muito interessante. Foi bom recordar todos esses tempos”, revelou.
A Escola do Magistério Primário de Caldas da Rainha começou a funcionar em 1972, nas instalações da antiga Escola Comercial e Industrial, hoje ocupada pelos serviços administrativos do hospital.
Segundo Clara Pereira, os exames de admissão realizaram-se a 17 e 18 de setembro de 1973, e o curso teve início em outubro desse ano. Em novembro, a escola foi transferida para o terceiro piso dos pavilhões do Parque D. Carlos I, onde os alunos frequentaram o primeiro ano em 1973/74 e o segundo em 1974/75. A bênção das pastas decorreu na mesma igreja onde, 50 anos depois, os antigos alunos voltaram a reunir-se para celebrar o início de uma longa caminhada dedicada à educação.









