Este evento constitui um ponto alto no processo de candidatura do culto de Nossa Senhora da Nazaré – Práticas e Manifestações, a Património Cultural Imaterial da Humanidade da Unesco, que está a ser desenvolvida em parceria com o governo do Estado do Pará, bem como a inclusão no Inventário Nacional de Património Imaterial, numa iniciativa da Câmara Municipal da Nazaré. Além de representantes de comunidades portuguesas onde existem festividades ou círios em honra a esta invocação mariana, o encontro contará com uma forte presença de individualidades do Pará, incluindo a secretária da Cultura, Úrsula Mendonça, o arcebispo metropolitano de Belém, D. Alberto Taveira Corrêa, ou o reitor da Basílica de Nossa Senhora de Nazaré em Belém, padre Luiz Gonçalves. Também virá a Portugal nesta ocasião a Imagem Peregrina da Senhora de Nazaré de Belém do Pará, acompanhada de três Guardas da Nazaré e responsáveis pelo Círio de Nazaré de Belém do Pará, uma das maiores festividades católicas do mundo, que todos os anos em outubro congrega mais de dois milhões de pessoas. A Imagem Peregrina brasileira chegará a Lisboa no dia 22 de janeiro, ficando em exposição até 24 no Mosteiro dos Jerónimos, sendo aqui celebrada uma missa especial na manhã deste dia pelo cónego José Ferreira e concelebrada pelos representantes eclesiásticos brasileiros. No domingo de manhã, já no Santuário da Nazaré, será celebrada uma missa, presidida pelo Cardeal Patriarca de Lisboa, D. Manuel Clemente. O programa conta ainda com um vasto leque de momentos culturais, devocionais, de debate e convívio. O culto a Nossa Senhora da Nazaré não é apenas uma das mais antigas tradições marianas portuguesas. Também se espalhou pelo mundo de língua portuguesa, implantando-se com particular intensidade no Brasil. Segundo um levantamento que o projeto de candidatura do culto está a realizar, são mais de duzentos os sítios e as manifestações de fé à Virgem da Nazaré no Brasil, um pouco por todo o país, mas especialmente no Estado do Pará, que tem a Senhora de Nazaré como padroeira. A mesma que, no século XII, terá salvo o nobre guerreiro português Fuas Roupinho da morte certa com um milagre no promontório da vila da Nazaré, Lenda fundadora deste culto que os brasileiros devotos bem conhecem. A Rainha da Amazónia, como também lhe chama o povo paraense, deu origem a uma tradição devocional multicultural e multifacetada, que se reflete em numerosas práticas sociais, culturais, arquitetónicas ou artísticas, bem como num sentido de identidade partilhada entre os povos. Entre círios, festividades, capelas, ermidas, igrejas paroquiais ou santuários, são mais de 290 as referências mapeadas até agora, cada uma delas apontando para uma comunidade local que nutre ou já nutriu devoção a Nossa Senhora da Nazaré. Embora existam algumas referências no espaço lusófono africano, como em Angola ou São Tomé e Príncipe, é realmente em Portugal e no Brasil que este fenómeno tem mais expressão. Este conclave pretende constituir um ponto de encontro de paróquias ou entidades organizadoras de manifestações devocionais, bem como um espaço de partilha de ideias e experiências e aprofundamento dos laços entre pessoas e sítios unidos pela mesma cultura espiritual. Além das comunidades portuguesas, brasileiras ou africanas onde a devoção ainda é viva, este encontro pretende incluir também os locais que permitem traçar uma antiguidade, ainda que lendária, da imagem da Nossa Senhora da Nazaré até aos primórdios do cristianismo. A imagem que deu origem ao culto e à lenda de Fuas Roupinho, terá sido esculpida pelo próprio S. José, na Nazareth da Galileia (atual Israel) tendo passado ao longo dos séculos pela Grécia, pelo Norte de África (Hipona, atual Annaba, na Argélia) e por um mosteiro próximo de Mérida, no sul de Espanha, antes de chegar à sua morada final, no promontório da Nazaré. Serão também convidados, assim, representantes destas comunidades, que a seu tempo terão acolhido a imagem que se julga repousar no santuário português.
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