Centenas de panfletos e cartazes de filmes, fotografias dos edifícios e dos espectadores, cadeiras dos cinemas e até fitas de películas, estão reunidos numa mostra dedicada às salas de cinema “desaparecidas” das Caldas da Rainha, como o velho Animatógrafo no Salão da Convalescença do Hospital Termal, o Cinematógrafo High-life, na Rua Camões, o Ibérica Club na Rua de Camões, o Salão Ibéria, no Parque D. Carlos I, o Teatro Pinheiro Chagas, na Praça 5 de outubro, e o Estúdio Um, junto ao Hotel Cristal Caldas.
Numa altura em que se assinalam cento e vinte e dois anos sobre a data da primeira sessão de cinema, esta mostra tem o objetivo de “preservar este património que faz parte da memória da cidade”.
Como “frequentador assíduo dos cinemas”, Mário Lino explicou que “a ida ao cinema aos domingos no tempo da minha juventude fazia parte de um comportamento rotineiro de muitos caldenses”. Adiantou que “o Chagas e o Salão Ibéria foram, além de salas de exibição de filmes, espaços culturais de grande dinâmica e de salutar convívio durante uma época”.
A exposição encontra-se dividida por núcleos, sendo que o cartaz de apresentação do filme “Barba Azul”, em 1905, marca o início da mostra e “abre as portas da história que atravessa 75 anos do percurso das exibições de filmes em Caldas da Rainha”. Conta ainda com 20 painéis pendurados na parede que suportam uma “mescla de produções cinematográficas por onde não faltam os cómicos “Bucha e Estica” e “Charlie Chaplin””, bem como “um conjunto de histórias que fizeram sonhar várias gerações”.
A primeira parte do núcleo é dedicada ao “Salão Ibéria” e outras duas salas existentes no Parque D. Carlos I (velho Animatógrafo no Salão da Convalescença do Hospital Termal, o Cinematógrafo High-life e Ibérica Club), que segundo Mário Lino representavam o “pulmão cultural das Caldas e é isso que tem de voltar a acontecer”.
Outra das motivações da exposição, de acordo com Mário Lino, é “servir como ponto de partida para a redescoberta da cinematografia com projeções de cinema ao ar, nas melhores noites de verão em cruzamento com programação de outras atividades culturais, no Parque D. Carlos I”.
Construído por volta de 1918, no Parque D. Carlos I, o Salão Ibéria, ao longo dos anos de atividade que prestou à cidade, teve a sua “arquitetura inicial reformulada e o seu ecrã de grandes dimensões transformou-se num lugar exclusivo de cinema e preferido pelos cinéfilos” e que acabou por desaparecer depois da sua última sessão em 1978.
O segundo núcleo da exposição abarca a história do primeiro edifício do Teatro Pinheiro Chagas, que encontrava-se situado na antiga Praça do Peixe. Com milhares de filmes exibidos, esta “lenda” foi inaugurada em 1901, onde exibiu o primeiro filme sonoro português, “A Severa”, de Leitão de Barros, em 1931. Mais tarde, entre 1937 a 1939, o teatro foi sujeito a obras de remodelação, dando-lhe uma nova arquitetura, com plateia e duas ordens de camarotes.
Além dos panfletos e documentos, a exposição proporciona uma reflexão de como a sala servia para diversas áreas, “não só cinematográficas mas também teatrais”, destacando assim “a larga diversidade da programação apresentada” no cine-teatro, que em 1992 foi demolido.
A exposição também conta com um núcleo de homenagem à atriz Cremilda Gil, nascida nas Caldas da Rainha, a 23 de fevereiro de 1927.
Incluída no programa das comemorações do 25 de abril, a exposição integra ainda a apresentação, pelo Grupo Calé – Pastelarias Contradição, da recriação de um pastel, “Pelicano”, que durante décadas fez parte da doçaria tradicional das Caldas.
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