A taxa do saneamento: A novela das fossas e das birras

13 de Dezembro de 2025

Nas Caldas, discutir a taxa de saneamento é como discutir o tempo: muita conversa, pouca solução e, no fim, a chuva cai sempre em cima dos mesmos, os habitantes.

 

Temos um concelho com mais de 50 mil pessoas, moderno q.b., cheio de rotundas, flores fresquinhas todos os meses e contadores de água instalados em separadores centrais que parecem mini-jardins botânicos. E, no entanto, 4 mil habitantes continuam sem saneamento, no país paralelo das fossas sépticas.

Quatro mil. Não são três casas no meio do mato. São quatro mil famílias que continuam dependentes de fossas. E como estas casas não têm rede, todos os outros pagam mais taxa. É como dividir a conta do jantar com alguém que pediu lagosta quando só comemos sopa.

Surge então a solução mágica do costume: “Então limpem as fossas”. Pois. Seria excelente. O problema? Será que a Câmara tem capacidade para limpar quatro mil fossas? Nem perto. Mas recebe, sem falhar, os 500 mil euros anuais da taxa. Graças a isso, os Serviços Municipalizados conseguem apresentar um resultado positivo de 100 mil euros. É como aquele ginásio que só existe porque metade dos inscritos nunca aparece.

E o mais fascinante? Nenhum partido apresenta soluções. Nenhum. A Assembleia Municipal transforma-se numa novela de birras: um diz que a taxa é injusta, outro diz que é necessária, outro diz que talvez seja, dependendo do alinhamento dos astros. Propostas concretas? Zero. Só discussões circulares entre quem quer, quem não quer e quem quer, mas só se o outro não quiser.

Propostas podiam começar pelas óbvias: construir estações de tratamento nas zonas sem saneamento; reduzir as regas absurdas dos espaços verdes, sobretudo nos separadores onde trabalhadores arriscam a vida entre os carros para manter flores que duram duas semanas; escolher espécies que consumam menos água; fiscalizar quem tem fossas e não as mantém; criar um registo público de fossas, nada de ilegal, apenas organização; montar um sistema de recolha de águas residuais como já existe em concelhos que vivem no século XXI; estruturar um plano de resíduos que aumente reciclagem e recolha de orgânicos, reduzindo custos de aterro e na taxa de resíduos; e, já agora, com meio milhão de euros por ano. Que tal fazer uma campanha de educação ambiental que explique às pessoas para que serve tudo isto.

Mas não. Nada disto aparece. Nada. Zero. E o povo? Suspira. Paga. Continua a viver entre fossas, taxas e flores novas todos os meses. Fosse a fossa ou não fosse a fossa, a conta cai sempre no mesmo sítio. E continuamos sem saber se a taxa serve para resolver problemas… ou apenas para equilibrar contas bonitas num relatório.

Nas Caldas, a ironia é esta: as fossas enchem, as ideias esvaziam, e nós ficamos sempre com a conta.

Até para a semana.

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