Sítio Ramsar é a primeira classificação internacional da Lagoa de Óbidos

10 de Dezembro de 2025

A Lagoa de Óbidos passou este ano a ser considerada uma Zona Húmida de Interesse Internacional no âmbito da Convenção de Ramsar e a 4 de dezembro teve lugar, no cais palafítico do Nadadouro, uma cerimónia pública de celebração desta classificação.

Foi uma forma de assinalar o Dia Mundial para a Conservação da Vida Selvagem, contando com a presença de vários dirigentes na área do ambiente e dos presidentes da Câmara das Caldas e de Óbidos, entre outros convidados.

A candidatura foi elaborada pela associação Pato, a pedido dos dois municípios, entregue pelo Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF) em 2023 e aprovada em fevereiro deste ano.

A presidente da Pato, Liliana Ferreira, destacou que a classificação sublinha “a importância a nível internacional” da Lagoa e como deve ser protegida.

Reforça igualmente o papel desta Zona Húmida enquanto prestadora de múltiplos serviços dos ecossistemas essenciais à nossa sobrevivência e bem-estar, como o armazenamento de carbono e a atenuação do impacto de cheias e tempestades.

Na candidatura apresentada salientava-se ainda a sua importância para as comunidades locais, cujos meios de subsistência incluem a pesca e a apanha de bivalves. “Para além de ser um ponto de interesse cultural e natural, é também um destino popular para atividades de praia, turismo náutico e de natureza”, refere o documento.

A Pato sublinha que embora o local seja vulnerável à poluição, a espécies invasoras e à pressão humana, iniciativas como projetos locais e o Centro de Interpretação da Lagoa de Óbidos “promovem ativamente a sua proteção através da investigação, da educação ambiental e do envolvimento da comunidade”.

Até agora a Lagoa não apresentava nenhum tipo de estatuto, sendo um caso único do género em Portugal. Passou a agora a ser o 2580° Sítio Ramsar a nível mundial e o 32° em Portugal.

No entanto, esta classificação não contempla nenhuma restrição para o território. Apenas é necessário que seja elaborado o programa de gestão e conservação do local, o qual prevê a sua monitorização.

Também o Paul de Tornada, onde a associação Pato foi criada em 1988, é classificada como Sítio Ramsar, mas neste caso tem também é uma área protegida.

Em 2005, a associação também elaborou um dossier técnico para que a Lagoa de Óbidos fosse uma área de paisagem protegida de âmbito regional, mas esta candidatura nunca chegou a avançar (o documento está disponível no site da convenção Ramsar).

Em causa estaria a proteção em algumas áreas, mas nunca de todo o ecossistema, tendo em conta a sua importância económica para a comunidade local. “O mais importante é que a Lagoa seja utilizada de forma sustentável”, defende Liliana Ferreira.

Carlos Albuquerque, diretor regional do ICNF, salientou a importância da conservação da natureza ser feita por quem conhece o território e o facto da região ter tantos ecossistemas de grande valor. Esta classificação, embora não seja nenhuma garantia de proteção, vai ter de ser tida em conta nos processos de decisão no desenvolvimento do território. “São valores insubstituíveis”, salientou.

Curiosamente, o presidente da Câmara de Óbidos, Filipe Daniel, aproveitou a ocasião para, durante o seu discurso, de se queixar para a morosidade nos processos de aprovação e de pareceres para projetos imobiliários. “Nós temos um campo de golfe que, em parte, está risco” por não terem resposta por parte das autoridades centrais.

Destacando o “papel fundamental da Lagoa de Óbidos enquanto ecossistema”, Filipe Daniel considerou essencial “a aceleração dos serviços e pareceres para podermos termos mais momentos como o de hoje, de consagração e celebração”.

O presidente da Câmara das Caldas, Vitor Marques, salientou que o seu concelho tem duas zonas húmidas com classificação Ramsar, mas que neste caso o processo foi desenvolvido em conjunto com Óbidos.

O edil caldense referiu ainda outras áreas, como a Mata das Mestras e a Duna de Salir, onde estão a ser desenvolvidos projetos para a sua proteção e potenciação. “Nós somos muito felizardos de viver nesta região”, afirmou.

No final da cerimónia, os participantes foram convidados a observar algumas das espécies aves presentes na Lagoa que lhes serve de casa, abrigo, alimentação, reprodução ou ponto de descanso durante a sua rota migratória.

 

A Lagoa de Óbidos

 

A Lagoa de Óbidos é o sistema lagunar costeiro mais extenso da costa de Portugal, com uma área total aproximada de 6.9 km2 e uma profundidade média de dois metros, com cotas que vão desde o meio metro aos cinco metros.

Enquanto sistema lagunar costeiro considera-se que detém um elevado valor devido às suas caraterísticas produtivas, nomeadamente ao nível da biodiversidade de ecossistemas e espécies faunísticas e florísticas, mas também de avifauna.

Até à data já foram registadas 276 espécies, incluindo espécies de aves e peixes com estatuto de conservação elevado, como a garça-vermelha, classificada como ameaçada a nível nacional, o ruivaco, espécie endémica de Portugal, e a enguia-europeia, considerada criticamente em perigo.

A lagoa comunica com o oceano através de uma barra de maré (Aberta) mantida artificialmente, a qual assegura as trocas de água e sedimentos entre os espaços lagunar e oceânico.

A associação Pato tem vindo a desenvolver várias atividades na Lagoa e está a promover os projetos Biolagoa e o Centro de Interpretação para a Lagoa de Óbidos (CILO), cuja vigência foi renovada recentemente.

No dia 4 foi apresentado o trabalho que tem vindo a ser desenvolvido pelo projeto Biolagoa de Óbidos, que a associação coordena em parceria com o ornitólogo Helder Cardoso.

No âmbito deste projeto, tem sido feita a monitorização mensal das aves aquáticas e de caniçal da Lagoa de Óbidos, bem como ações de sensibilização sobre a importância deste ecossistema para a avifauna residente e migratória.

Aceda à sua conta.

Preencha os campos abaixo para entrar na sua conta.
Esqueceu-se da password?Clique aqui.
Ainda não tem conta?Registe-se aqui.
Tipos de assinatura disponíveis
Simples – Gratuito

• Valildade ilimitada
• Possibilidade de comentar nos artigos

7 Dias Digital – €1

• Validade de 7 dias.
• Acesso a todo o contéudo digital.
• Acesso completo ao arquivo de publicações impressas.
• Possibilidade de comentar nos artigos.

1 Ano Digital – €15

• Validade de 365 dias.
• Acesso a todo o contéudo digital.
• Acesso completo ao arquivo de publicações impressas.
• Possibilidade de comentar nos artigos.

1 Ano Digital + Papel – €30

• Validade de 365 dias.
• Acesso a todo o contéudo digital.
• Acesso completo ao arquivo de publicações impressas.
• Receba o jornal todas as semanas.
• Possibilidade de comentar nos artigos.

Crie a sua conta.

Preencha os dados abaixo para se tornar assinante.
Já tem conta?Aceda aqui.
Selecione a assinatura pretendida