A ação decorre em 1961, na altura dos ataques de 15 de março, da União dos Povos de Angola (UPA), às fazendas dos colonos portugueses no norte de Angola. O código utilizado pela UPA para avançar com o golpe foi “o casamento da filha do Nogueira”. Esta história “parte do princípio de que naquele dia muito brutal e violento tivesse havido um casamento”, explica o autor. É mesmo através do código que o autor tece a personagem fictícia conhecida por filha do senhor Nogueira, que no meio de todo o sofrimento e violência que uma guerra traz, procura pelo seu noivo. Como maneira de preservar a inocência da sua filha, a mãe da personagem central coloca-lhe uma venda para que ela não testemunhe os terrores da guerra. A imagem da menina vendada é a ilustração da capa do livro, que foi desenhada por Joana Antunes.
O escritor foi já vencedor do concurso promovido pelo Congresso Internacional José Saramago, com o ensaio “O Ano Gélido da Morte de Ricardo Reis”, recebeu menção honrosa do 2º Prémio Literário Fernando Botelho, com o conto “O Homem e a Formiga” e participou na Revista Gerador, com o conto “O Regresso da Pangeia”. Mais recentemente, o seu romance foi finalista da Mostra Nacional de Jovens Criadores.
Para Roberto Saraiva, a literatura sempre foi um lugar de pertença, é até “como uma crença inexplicável em algo maior”, tal como a religião é para a sua mãe e avó. Desde que se lembra que ama literatura e tem por hábito “encontrar bibliotecas para ler” e até estudar história, o que se reflete claramente na sua escrita, que tem muitas vezes um profundo conhecimento histórico associado. Para justificar a sua paixão por história, Roberto Saraiva foca-se na sua imutabilidade e influência: “O passado está sempre garantido” e é algo “que nos molda”.
Curiosamente, enquanto concebia a obra o autor tem apenas “memória de ler sobre Salazar, a Guerra Colonial, Angola e história no geral”, sendo que a escrita surgiu no meio desta imersão histórica.
O autor destaca como principais influências José Saramago, Pepetela e Garcia Marquez, que o fizeram aperceber-se que “o lugar de um escritor não é o sítio onde nasceu, mas sim o sítio onde os leitores o leem”.
Roberto Saraiva considera que a “literatura na sociedade portuguesa tem vindo a tratar muito mal os jovens”, facto que acredita perdurar desde sempre em Portugal. “Nós sabemos que o destino preferido dos jovens portugueses é o estrangeiro por algum motivo”, afirmou o autor, que também considera a emigração como uma opção para o seu futuro.
Para além de autor, o jovem tem licenciatura em direito e mestrado em direito internacional público e europeu e, no futuro, “gostava de encontrar uma via que permitisse conciliar a literatura com o direito, como por exemplo diplomacia”.
Neste momento está a trabalhar em vários textos, como uma peça de teatro e outro romance. Não tendo um género preferido de trabalhar, diz escrever aquilo que as circunstâncias da vida o obrigam a escrever.
“O Casamento da Filha do Senhor Nogueira” encontra-se disponível em bancas e na livraria “O Narrador”, nas Caldas da Rainha, por 18 euros.









