Rainha Dona Leonor de Avis: memória, ação e legado

9 de Novembro de 2025

Celebrar a memória da Rainha Dona Leonor de Avis é mais do que um ato de cidadania e um exercício histórico — é um ato de reconhecimento da profundidade ética e cultural de uma mulher que moldou Portugal. Num tempo em que a memória coletiva se dilui na velocidade do presente, evocar figuras como Dona Leonor de Avis é reafirmar o valor da consciência histórica como fundamento da nossa identidade. A sua vida convida-nos a refletir sobre o papel da mulher na construção do Estado moderno, sobre a relação entre poder e serviço público, e sobre a capacidade de transformar dor pessoal em ação pública.

 

Leonor, filha dos infantes D. Fernando e D. Beatriz, neta materna do infante D. João, filho legítimo de D. João I e da infanta D. Isabel, e neta paterna do rei D. Duarte e da rainha D. Leonor de Aragão. Dona Leonor foi rainha consorte de D. João II e irmã do rei D. Manuel I, nunca se limitou ao papel cerimonial e protocolar do seu estatuto social e político. Dotada de uma cultura invulgar e de uma argúcia política notável, soube afirmar-se num contexto sociopolítico dominado por homens, intervindo com inteligência nas decisões do reino. A sua ação mais emblemática — assistência médica e social— revela uma visão profundamente humanista e cristã, antecipando modelos de assistência social que perdurariam por séculos. A criação do Hospital Termal das Caldas da Rainha e da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa, em 1498, é um marco civilizacional que transcende o seu tempo, projetando-se como símbolo de solidariedade social institucionalizada.

A ação de Dona Leonor não se esgota na filantropia. Foi mecenas das artes, promotora da educação e defensora da dignidade dos mais vulneráveis. A sua capacidade de unir fé, cultura e política numa visão de serviço público é um exemplo raro de liderança ética. A sua memória deve ser preservada não apenas como figura histórica, mas como inspiração para os desafios contemporâneos: a justiça social, a equidade de género, a valorização da cultura e a responsabilidade política.

Justificar o merecimento da sua herança é um dever coletivo. Preservar e divulgar o seu legado é garantir que os valores que ela encarnou — solidariedade, sabedoria, resiliência — continuem a iluminar o caminho de Portugal. A Rainha Dona Leonor não é apenas uma figura do passado: é uma presença viva na consciência de um país que precisa de reencontrar na sua história os fundamentos do seu futuro.

A ligação da Rainha Dona Leonor às Caldas da Rainha é um dos legados mais tangíveis da sua ação visionária. Em 1485, fundou o Hospital Termal das Caldas da Rainha, considerado o mais antigo hospital termal do mundo ainda em funcionamento. Este gesto não só revelou a sua sensibilidade social e preocupação com a saúde pública, como também impulsionou o desenvolvimento urbano e cultural da cidade. Caldas da Rainha tornou-se, desde então, um símbolo da conjugação entre assistência, ciência e património, perpetuando a memória da rainha como figura de progresso e humanidade.

A cidade das Caldas da Rainha, intimamente ligada à memória da Rainha Dona Leonor, assumiu com mérito a celebração do V centenário da sua morte, promovendo um programa cultural diversificado e profundamente evocativo. Entre as iniciativas destacam-se o concerto “In Memorium” – Orquestra Clássica Metropolitana, no Grande Auditório do Centro Cultural e de Congressos – a realizar no dia 16 de novembro, pelas 16h00, também a conferência de encerramento de um ciclo de conferências iniciado em maio, no dia do aniversário da Rainha Dona Leonor (2 de maio de 1458), ciclo esse que se conclui no dia 15 de novembro, pelas 18h30, no Hospital Termal das Caldas da Rainha, com uma conferência a ser proferida pelo emérito Doutor Vítor Serrão, entre outras iniciativas de grande impacto académico e cultural. Estas ações reforçam o compromisso da cidade das Caldas da Rainha em preservar e divulgar a herança de Dona Leonor, valorizando o seu papel na história e na identidade cultural de Portugal.

A fundação do Hospital Termal das Caldas da Rainha, em 1485, por iniciativa da Rainha Dona Leonor, não foi apenas um gesto de compaixão: foi um ato visionário que inscreveu esta cidade na vanguarda da saúde pública europeia. Este legado, profundamente enraizado na identidade das Caldas da Rainha, impõe-nos hoje um dever de continuidade e de responsabilidade.

A construção de um novo hospital não é apenas uma necessidade funcional — é a reafirmação de um compromisso histórico com o bem comum, com a dignidade humana e com o direito à saúde. É também um tributo à tradição de cuidado e inovação que Dona Leonor inaugurou há mais de cinco séculos.

As Caldas da Rainha não são apenas um território com história; são um território com memória e com futuro. Honrar essa memória exige ação. Um novo hospital nas Caldas da Rainha é, por isso, mais do que uma infraestrutura: é um símbolo de respeito pela nossa herança e de confiança no amanhã.

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