Foi aí que percebi o que de terrível se passava comigo. Já tinha ouvido falar, alguns amigos já tinham sofrido do mesmo, mas nunca tinha experimentado. Acordei sem energia masculina.
Sabia que ia passar o dia a sentir-me menos macho. O medo de que todos notassem surgiu de imediato, mas depois lembrei-me de que ter medo também não é coisa de macho. Quanto tempo demoraria isto a passar até que comece a considerar algum procedimento cirúrgico?
Era perentório combater estes inibidores de testosterona e fazer-me homem outra vez. Lembro-me de que tenho um móvel para montar, o que pareceu ser a tarefa perfeita.
Abro o livro de instruções e vejo logo na primeira página dois bonecos. Mas a minha força bruta diz-me que sou homem suficiente para valer por dois. Não passam nem 10 minutos até me sentir apenas meio boneco.
Saio para dar uma volta de carro e faço questão de conduzir só com uma mão em cima do volante, para ninguém duvidar que vai ali um homem. Começo a ouvir um barulho estranho.
Encosto para ver o que se passa. Abro o capô e começo a tocar em tudo. Só para que quem passa pense: «Aquele homem sabe o que faz.»
Vou ao YouTube à procura de respostas. Clico no primeiro vídeo, que começa com: «o seu carro está fazendo um barulho esquisito e seu marido não sabe o que fazer? Vem comigo!»
Foi o suficiente para entender que era no YouTube que estava a minha resposta para recuperar a virilidade. Começo a ver youtubers a ensinar como me vestir, o que comprar e o que dizer a uma mulher para me sentir um machão. Depois ouço uma entrevista do Mark Zuckerberg em que ele diz que as empresas precisam de mais energia masculina.
Comecei a questionar como é que o homem evoluiu até aqui, para que os representantes da masculinidade sejam sujeitos inseguros da sua própria masculinidade.
Tudo aquilo fez-me sentir ainda menos macho. O caminho para me tornar um deus grego não passava por ser um Zuckerberg. No meu imaginário estava o Rocky a esmurrar carcaças no talho, o James Bond a pedir um martini ou qualquer homem capaz de ostentar um imponente bigode.
Percebi que o mais importante era a segurança na minha identidade como homem. E não há nada que possa tirar a minha energia masculina. Por isso, com licença, vou agora ver um musical.










