Duas dezenas de clientes do banco Eurobic/Abanca, de vários pontos do país, concentraram-se junto à agência das Caldas da Rainha para denunciarem ter existido falhas de segurança, que deixaram as suas contas esvaziadas. No total, os valores ascendem a algumas centenas de milhares de euros.
Os clientes afirmam terem perdido o dinheiro em transferências bancárias (através do ‘homebanking’) que garantem não ter autorizado e exigem a responsabilização do banco e o ressarcimento dos valores.
Depois de uma manifestação recente em frente à sede do banco, em Lisboa, os clientes continuam a exigir a devolução dos montantes perdidos.
“Não nos dão respostas nenhumas, apenas enviaram carta a dizer que não se responsabilizavam”, contou Elisabete Rebelo, que ficou sem 85 mil euros.
Gerente de uma firma de peças para automóveis nas Caldas da Rainha, relatou que foi burlada quando estava a ser atendida ao telefone por um funcionário do banco.
Diz que tentou aceder à sua conta bancária através do computador para pagar uma fatura. Não conseguiu entrar e ligou para a gestora de conta na agência das Caldas da Rainha, que a reencaminhou para a sede, em Lisboa.
Conseguiu aceder à conta, mas quando foi efetuar um pagamento, o saldo estava apenas com 24 euros, quanto tinha mais de 85 mil. Nessa altura foram feitas duas transferências, que diz não ter autorizado.
Elisabete Rebelo pediu para cancelar essas transações, para duas contas noutro banco, o que foi recusado. Foi-lhe até solicitado que se deslocasse à agência das Caldas da Rainha, onde, segundo alega, a gestora de conta lhe pediu para assinar um papel onde assumia que tinha sido a empresária a ligar para a linha do banco para um número começado em 808.
Pediu à sua operadora telefónica um extrato das chamadas para servir de prova, uma vez que o banco não assume responsabilidades.
José Almeida, do Seixal, perdeu 106.500 euros. “Estava a fazer uma transferência para um fornecedor e o site bloqueou. Liguei para a linha de apoio e desapareceu o dinheiro, simplesmente isso. Foi tudo feito pelos canais do banco, não entrei em site fraudulento coisíssima nenhuma como o banco quer fazer passar”, descreveu.
Carlos Campos, de Vila Nova de Famalicão, disse ter entrado no site do banco “no dia 5 de julho e verifiquei que no dia 3 tinha havido uma transferência imediata de 4.500 euros para um beneficiário que eu não fazia a mínima ideia quem era”. “Liguei de imediato para o banco a tentar perceber o que era aquilo, disseram que estava a acontecer com muita frequência e aconselharam-me bloquear a conta e ir à polícia. Assim o fiz, bloqueei a conta, fui à polícia, fiz a participação e reclamei ao banco. Não me deram até hoje nenhuma satisfação, só coisas vagas, a dizer que a culpa é nossa”, indicou.
“Como é que é possível ter uma transferência que eu não fiz e para uma pessoa que não conheço, com que código de autorização é que eles fizeram?”, questionou.
“É um roubo descarado porque nós confiamos no banco, damos os nossos dados ao banco e o banco não faz o que deveria fazer, que era efetivamente guardar o sigilo bancário. Daí a minha revolta, porque efetivamente o banco não cumpriu com os deveres que são impostos, não fez o seu trabalho e está neste momento a descartar-se de tudo”, declarou Deolinda Ferraria, de Leiria, que foi lesada em 4.500 euros.
Banco rejeita problema no sistema informático
O Grupo Abanca é um banco espanhol com sede na Galiza que consolidou a sua posição em Portugal através da aquisição do EuroBic. Argumentou que os movimentos foram realizados com recurso às credenciais de acesso ao serviço que são apenas do conhecimento dos clientes, pelo que não tendo origem em qualquer entrada ilegal no sistema do banco ou em ausência de níveis de segurança, o banco não se responsabiliza pelos movimentos.
“Segundo as auditorias internas realizadas, estes crimes não resultam de qualquer falha ou vulnerabilidade dos sistemas informáticos do banco, mas sim de esquemas externos cada vez mais sofisticados, que utilizam anúncios falsos, sites fraudulentos (phishing), SMS e chamadas telefónicas enganosas. Trata-se de um fenómeno transversal crescente, cuja sofisticação e impacto têm vindo a aumentar significativamente em todo o setor financeiro, em Portugal e a nível internacional”, apontou.
Numa nota à comunicação social, o grupo vincou que “a segurança e a confiança dos clientes são a prioridade máxima”. “Lamentamos que as situações de fraude continuem a afetar clientes de todo o sistema bancário. O Eurobic/grupo Abanca compreende as dificuldades enfrentadas pelos clientes que foram alvo de fraude e colocou-se à sua disposição para os apoiar. O banco coopera ativamente com as autoridades nacionais competentes para a prevenção e investigação do cibercrime financeiro e em iniciativas setoriais de sensibilização. Para ajudar a prevenir burlas, mantemos no nosso site alertas e recomendações de segurança atualizadas, além de realizarmos periodicamente campanhas de sensibilização sobre não partilhar códigos e procedimentos de validação das operações, reforçadas com mensagens pedagógicas via SMS de autorização e nas nossas comunicações de marketing responsável”, declarou o banco.
Por outro lado, adiantou, “também as entidades de supervisão e a Polícia Judiciária têm alertado repetidamente para este tipo de burlas e recomendado vigilância redobrada. A este propósito, a Associação Portuguesa de Bancos tem em curso a campanha nacional “Não passes cartão à fraude”, que visa alertar os cidadãos para os riscos associados a este tipo de crime e promover comportamentos de segurança digital”.
Elisabete Rebelo revelou que têm aparecido mais clientes lesados e vão continuar a fazer manifestações: “Vamos para Seixal, depois iremos para o Banco de Portugal, vamos para Leiria, queremos ir a Ourém e até Espanha, se for necessário”.
Os clientes avançaram também com procedimentos criminais e esperam que o Ministério Público desencadeie uma investigação que apure responsabilidades.








