Debate sobre Zé Povinho realça permanência da figura bordaliana com 150 anos

22 de Setembro de 2025

No passado sábado, o café-concerto do Centro Cultural e de Congressos das Caldas da Rainha (CCC) recebeu um debate integrado no Salão Bordallo, dedicado à figura de Zé Povinho, criada por Rafael Bordalo Pinheiro há 150 anos.

 

O encontro, com moderação de Carlos Querido, reuniu a historiadora de arte Raquel Henriques da Silva e João Alpuim Botelho, diretor do Museu Bordalo Pinheiro, tendo contado também com a intervenção de Jorge Silva, curador da exposição patente na Galeria do CCC, reunindo obras de Stuart Carvalhais, José Vilhena, João Abel Manta, André Carrilho, Cristina Sampaio, entre outros.

Apesar da anunciada participação de Isabel Castanheira, investigadora da obra bordaliana, a sua ausência, por motivos de saúde, foi assinalada e lamentada pelos oradores.

Na abertura, Jorge Silva destacou a relevância da exposição “Zé Povinho, uma história com 150 anos”, patente até 28 de setembro, que serve de pano de fundo a esta reflexão sobre “a personagem mais icónica da sátira portuguesa”.

Raquel Henriques da Silva sublinhou a importância de Rafael Bordalo Pinheiro no panorama artístico nacional, considerando-o “o artista português mais importante do século XIX”. Para a historiadora, Zé Povinho permanece uma figura “profundamente ambivalente”, simultaneamente retrato crítico do povo português e símbolo de resistência cultural.

Já João Alpuim Botelho, à frente do Museu Bordalo Pinheiro desde 2014, confessou-se “viciado” na obra e na personagem, que descreveu como “absolutamente genial” e inesgotável: “Quando se mergulha nele, parece que nunca acaba, há sempre mais qualquer coisa a descobrir”.

Ao longo da conversa foi traçado um percurso histórico da personagem, desde as primeiras publicações na Lanterna Mágica até às múltiplas recriações por outros artistas. Foram recordados autores como Sebastião Sanhudo, Stuart Carvalhais e João Abel Manta, que ao longo do século XX reinterpretaram Zé Povinho, mantendo a sua vitalidade como símbolo de crítica social. “A quantidade inacreditável de Zés Povinhos que foram sendo feitos prova a universalidade da figura”, destacou João Alpuim Botelho.

O debate abordou também a forma como Zé Povinho atravessou regimes políticos distintos. Durante a Primeira República teve presença esmagadora, mas a ditadura do Estado Novo reduziu-o a uma figura mais conformada, usada sobretudo para retratar queixas quotidianas. A seguir ao 25 de Abril, renasceu com nova força, multiplicando-se em representações à esquerda, mas também à direita.

Raquel Henriques da Silva chamou a atenção para a permanência de Zé Povinho como “obra aberta”, que ao longo de décadas foi sendo atualizada conforme os contextos históricos e políticos. Já Jorge Silva acrescentou que muitos dos cartoonistas contemporâneos recorrem à personagem mais como homenagem ao legado de Bordalo do que como criação autónoma: “Quando o citam, estão basicamente a usar um património imaterial, gráfico e conceptual que já faz parte do nosso ADN”.

No fecho do debate, sublinhou-se que, apesar de anacrónico na sua aparência, Zé Povinho continua a incomodar e a representar, mantendo-se como um “sentimento comum de todos nós” e como símbolo duradouro da crítica social portuguesa.

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