Entre os expositores, destacam-se os produtores de Alvorninha, freguesia do concelho das Caldas da Rainha, que continuam a assumir um papel central no certame. As tradicionais tranças de cebolas, cuidadosamente preparadas, são uma imagem que se mantém viva, refletindo o empenho e a dedicação dos ceboleiros em garantir qualidade e autenticidade ao longo de gerações.

Um desses rostos é Albino Ferreira Tomás, 89 anos, natural de Alvorninha e figura incontornável da FRIMOR. “Ainda produzo cebola, é verdade. Este ano trouxe duas toneladas para a feira e tenho em casa mais três”, contou com orgulho ao JORNAL DAS CALDAS.

Frequentador da FRIMOR desde os dez anos, Albino Ferreira Tomás soma 78 presenças consecutivas, tornando-se parte da história deste evento. Foi precisamente ele quem, na cerimónia inaugural, descerrou a placa da nova Avenida dos Ceboleiros, homenagem do município a todos os que, com o seu trabalho, mantêm viva esta tradição.

“Cheguei a produzir 15 toneladas, agora faço menos, estou sozinho”, partilhou. Com os filhos emigrados e a esposa doente, o agricultor dedica-se ainda à produção, embora admita que a falta de mão de obra e o desgaste da idade dificultam a continuidade. “Arrendei quase todos os meus terrenos, fiquei só com um bocado para me entreter. Sozinho consegui fazer cinco toneladas este ano”, disse.

Apesar das dificuldades, o produtor mantém a paixão pelo que faz. “Não precisava de vir à FRIMOR para vender cebolas, tenho compradores. Venho por tradição”, garante, orgulhoso da qualidade do seu produto, reconhecido por clientes que vêm de longe.

Cerimónia inaugural

A cerimónia inaugural da FRIMOR contou com vários convidados e foi presidida pelo secretário de Estado da Agricultura, João Moura, que destacou a importância do certame para a agricultura nacional e para a valorização dos produtos locais.  “Estamos perante uma das feiras mais antigas do país, que começou como Feira de Setembro e que hoje se afirma como a Feira Nacional da Cebola. É um exemplo de como a tradição pode coexistir com a modernidade, valorizando a agricultura e os produtos locais”, afirmou.

João Moura salientou ainda a relevância de produtos distintivos do concelho, como o sal das Salinas de Rio Maior, elogiando a aposta do município na sua promoção. “Tal como a cebola, que é rainha desta feira e ingrediente indispensável na gastronomia portuguesa, o sal das Salinas é um produto de excelência, com um valor acrescentado que devemos continuar a promover”, acrescentou, reforçando a autenticidade e a qualidade da produção nacional.

O secretário de Estado aproveitou para abordar um dos principais desafios do setor que é a falta de jovens na agricultura, consequência de décadas em que esta área foi desvalorizada no ensino. “Durante muito tempo, o ensino agrícola era visto como uma alternativa para quem não tinha sucesso noutras áreas. Isto contribuiu para afastar os jovens e reduzir a atratividade destes cursos. Chegámos a ter instituições como o Instituto Superior de Agronomia a encerrar cursos como por exemplo, a produção florestal por falta de procura”, lamentou.

Garantindo que esta visão está ultrapassada, o secretário de Estado sublinhou a transformação tecnológica da agricultura, realçando que se trata hoje de uma atividade inovadora e sustentável. “A agricultura moderna é altamente tecnológica, precisa e amiga do ambiente. Quem ingressa hoje no ensino agrícola, seja no nível intermédio ou superior, vai aprender alta tecnologia aplicada à produção, à sustentabilidade e à inovação. É um setor que oferece futuro, qualidade e oportunidades”, frisou.

Na parte final da sua intervenção, o governante lançou um apelo às novas gerações, incentivando os jovens a apostar nesta área. “Precisamos de estimular os jovens a aderir a esta tão nobre atividade, que é a base da nossa alimentação e um motor da economia nacional. Temos produtos de excelência, reconhecidos em todo o mundo, e um território com potencial para continuar a crescer. É esta mensagem que temos de passar”, concluiu, destacando que eventos como a FRIMOR são fundamentais para promover e valorizar a agricultura portuguesa.

“FRIMOR a mais antiga feira do concelho”

O presidente da Câmara Municipal de Rio Maior, Filipe Santana Dias, destacou na cerimónia inaugural a relevância histórica da FRIMOR, recordando que o certame assenta as suas raízes na antiga Feira de Setembro, criada em 1722 e que este ano celebra 303 anos. “Abrimos hoje as portas daquele que é o mais antigo certame riomaiorense. Desde a sua instituição, a antiga Feira de Setembro foi sofrendo várias alterações, acompanhando as mudanças sociais, mas mantendo o cunho popular e agrícola. Hoje, a FRIMOR é muito mais do que apenas uma feira popular”, afirmou.

O autarca recordou ainda as memórias de outros tempos, quando os carros de bois e as carroças percorriam quilómetros para chegar a Rio Maior, sublinhando que a feira soube evoluir sem perder a sua essência.

Filipe Santana Dias salientou que, nos últimos anos, a FRIMOR ganhou um novo impulso através de uma estratégia definida para a tornar mais dinâmica e diversificada.

A feira mantém a cebola como rainha do evento, mas apresenta hoje uma oferta mais alargada, com espaço para gastronomia, desporto, cultura e animação. “O número de visitantes aumentou mais de 50% e a capacidade de alojamento cresceu mais de 60%, fruto do dinamismo e empreendedorismo dos riomaiorenses”, destacou.

O autarca referiu ainda o sucesso na captação de investimento para o Parque de Negócios, sublinhando que foram vendidos 45 lotes neste mandato, totalizando 7,5 milhões de euros e um investimento previsto superior a 67 milhões.

Novidades da FRIMOR 2025

A edição deste ano traz várias novidades, entre elas a estreia da Cebola Run, uma prova desportiva com vertente competitiva e lúdica que pretende atrair atletas e famílias à feira através do desporto.

Mantém-se a forte aposta na área agroalimentar, com especial destaque para os vinhos locais e regionais, contando com cerca de 20 expositores e diversas provas e conferências temáticas.

Outra grande novidade é a valorização do Pão de Rio Maior, um produto reconhecido nacional e internacionalmente. Nesta FRIMOR estão presentes quatro produtores, mas o objetivo vai mais longe. “Com esta iniciativa, lançamos a semente para, no futuro, criar uma feira dedicada exclusivamente ao Pão de Rio Maior”, revelou Filipe Santana Dias.

Foi também criado o Espaço Frimor Fest, no exterior do pavilhão multiusos, com 25 expositores de street food, doçaria e licores, garantindo animação constante para visitantes de todas as idades.

A gastronomia do concelho será ainda promovida através de showcookings dinamizados por sete restaurantes locais e pela Escola de Hotelaria e Turismo do Oeste, acompanhados de um serviço de restauração assegurado por seis associações e três restaurantes.

O artesanato também marca presença com 20 expositores, assim como o Frimor Fun Park, um espaço dedicado às crianças, com insufláveis, jogos tradicionais e outras atividades.

A música continua a ser um dos grandes trunfos da FRIMOR. Este ano, o cartaz conta com nomes como David Antunes, Xutos & Pontapés e Nininho Vaz Maia, que atuarão nos dias 4, 5 e 6 de setembro, prometendo atrair milhares de pessoas à cidade.

Outra novidade é o festival de fanfarras, apadrinhado pela Fanfarra dos Bombeiros de Rio Maior, considerada uma das melhores do país.

“Subimos um importante degrau no processo de revitalização da FRIMOR. Apostámos forte na identidade da feira, decorámos os espaços, demos mais dignidade e utilidade, reforçámos a divulgação e criámos uma envolvência única. Acredito que demos um passo de gigante no crescimento do mais antigo evento do concelho”, afirmou, confiante no sucesso desta edição.

O presidente da Câmara Municipal de Rio Maior dirigiu ainda uma palavra especial ao secretário de Estado da Agricultura, João Moura, referindo que é uma “honra perceber que existiu a sensibilidade de colocar na secretaria de Estado alguém formado na área e que, durante anos, deu provas enquanto deputado do seu trabalho em prol da agricultura e dos agricultores”.

O autarca recordou que “durante anos a fio, o conforto dos ares condicionados de Lisboa permitiu que quem nos devia governar se esquecesse do famoso dizer popular “Se o campo não planta, a cidade não janta’”. Essa deve ser uma máxima que, por todas as razões, não podemos nunca esquecer”, sublinhou.

“Hoje, temos na secretaria de Estado da Agricultura alguém que está ao lado dos agricultores, com uma porta sempre aberta para receber as suas preocupações e ajudar na sua resolução”, afirmou.

Filipe Santana Dias reiterou a centralidade da agricultura na FRIMOR, destacando a presença e dedicação dos produtores. “Mantivemos e reforçámos a presença de empresas ligadas ao setor agrícola e destacamos, mais uma vez, aqueles que são os verdadeiros responsáveis por manter viva a tradição de cultivar e encabar cebolas, que ano após ano nos trazem, orgulhosos, o fruto do seu trabalho. Oriundos do concelho vizinho e amigo de Caldas da Rainha, estes homens e mulheres são já também muito riomaiorenses, tal a indispensabilidade do seu trabalho que engrandece a nossa FRIMOR”, apontou.

O presidente da Câmara sublinhou ainda o trabalho da equipa responsável pela organização do certame. “Esta reformulação da FRIMOR e a vontade de dar este salto qualitativo nascem do trabalho de uma equipa apostada na revitalização do evento, a quem são devidos grandes agradecimentos. Tenho o privilégio de liderar uma equipa que é garantia de sucesso, inovação e entrega ao trabalho”, declarou.

Filipe Santana Dias terminou o seu discurso convidando toda a comunidade a participar da feira.