O Hospital das Caldas da Rainha continua com constrangimentos na Urgência de Obstetrícia e de Ginecologia e Bloco de Partos, que foram encerrados na última semana durante alguns dias.
A Unidade Local de Saúde do Oeste (ULSO) anunciou que “por ausência de recursos humanos médicos” não estariam a funcionar entre as nove da noite de 31 de julho e as nove da manhã de 6 de agosto. Conseguiu, no entanto, que no dia 3 o serviço estivesse assegurado, voltando a ser interrompido no dia 4, às nove da manhã. Contudo, de acordo com a ULSO, a maternidade do Hospital de Caldas da Rainha, no passado domingo, apesar de não estar a funcionar, “atendeu quatro utentes e realizou dois partos”.
O site do Serviço Nacional de Saúde (SNS) revela que a Urgência de Obstetrícia e Ginecologia volta a fechar vários dias esta semana. No dia 7, está encerrada a partir das dez da noite. Só reabrirá no dia 10, às nove da manhã, mas volta a interromper o funcionamento no dia 11, às nove da manhã, mantendo-se assim pelo menos até dia 12.
As utentes e grávidas devem seguir a recomendação de contactarem previamente a Linha SNS Grávida – 808 24 24 24. Em situações de emergência, o contacto deve ser feito diretamente para o 112.
O Serviço de Obstetrícia (internamento, bloco de partos e urgência obstétrica e ginecológica) esteve em 2023 mais de cinco meses encerrado para obras de requalificação, que custaram 1,3 milhões de euros, tendo a Câmara Municipal suportado 725 mil euros, o que deixa os autarcas indignados pelas constantes interrupções de funcionamento por falta de médicos.
A Comissão de Utentes da ULSO partilha da mesma insatisfação. “Foi uma obra de excelência, temos meios que poucas entidades hospitalares têm e deparamo-nos com uma situação insuportável. As grávidas estão em risco”, manifestou Vitor Dinis, porta-voz da comissão, que anunciou ir pedir uma audiência com urgência à Ministra da Saúde.
A situação na outra maternidade do distrito, no Hospital de Santo André, em Leiria, não é melhor. Desde as nove da manhã da passada sexta-feira e até às nove da manhã de 19 de agosto, no total de dezassete dias seguidos, a Urgência de Obstetrícia e de Ginecologia vai estar fechada, por “falta de recursos humanos” para garantir o serviço durante este período de férias de verão.
A Unidade Local de Saúde da Região de Leiria (ULSRL) afirma que este encerramento foi programado de forma a dar uma resposta consistente às utentes e grávidas, tendo sido articulado com a ULS de Coimbra, que costuma ser uma possibilidade de referenciação para encaminhamento.
“Os encaminhamentos têm decorrido dentro da normalidade e a funcionar como previsto”, manifestou a ULSRL.
A Direção Executiva do Serviço Nacional de Saúde (DE-SNS) anunciou entretanto que os partos programados de grávidas de Leiria seriam feitos no Centro Materno e Infantil do Norte, no Porto, a cerca de duzentos quilómetros de distância. O encaminhamento contará com transporte acautelado pela ULSRL.
“Até ao momento já foram realizados quatro partos programados e as parturientes e suas famílias estão satisfeitas, incluindo com as condições de alojamento para o/a acompanhante de cada grávida”, revelou a ULSRL no dia 6 de agosto.
Estas situações foram já alvo de alerta de deputados da própria cor política do Governo. Os cinco deputados do PSD eleitos por Leiria entregaram na Assembleia da República um requerimento dirigido à ministra da Saúde, questionando se Ana Paula Martins tem conhecimento dos “constrangimentos nos hospitais de Leiria e das Caldas da Rainha”.
Os deputados social-democratas referiram que a prestação dos cuidados de saúde nestes dois concelhos “tem vindo a degradar-se e a criar uma incapacidade de dar respostas efetivas às necessidades dos utentes, gerando até um clima de insegurança perante o cenário”.
Sublinharam que “os serviços de urgência nos hospitais de Leiria e das Caldas da Rainha continuam de forma intermitente a estarem encerrados, obrigando ao ‘desvio’ dos utentes para outros hospitais”.
No documento também abordaram os cuidados de saúde primários, considerando que há muito se chegou ao “ponto de rutura” no distrito de Leiria, com “milhares de utentes sem médico de família e sem uma resposta condigna”.
Neste âmbito, relataram “uma situação concreta, mas que se repete todos os dias pelos centros de saúde do distrito”, especificando que uma utente, “para tentar obter vaga em consulta para o seu pai” octogenário e sem médico de família, “teve de ir para a porta do centro de saúde nas Caldas da Rainha às 05h00″.
“Trata-se de um processo desumano e representativo do estado da saúde no distrito de Leiria”, sustentaram, culpabilizando “o caos em que os anteriores governos deixaram” o SNS.
Ainda assim, Hugo Oliveira, Telmo Faria, Sofia Carreira, João Santos e Ricardo Carvalho consideraram “absolutamente inaceitável que os serviços de prestação de cuidados de saúde nos referidos hospitais e centros de saúde não se encontrem devidamente garantidos” e perguntam à ministra da Saúde “que medidas estão previstas para ultrapassar estas dificuldades e como poderão ser mitigados os problemas”.
A Comissão Política Distrital de Leiria do partido Chega, representada pelo seu presidente e deputado Luís Paulo Fernandes, eleito pelo distrito, censurou a “incompetência do Governo assim como os apregoados planos de emergência para a saúde, que nada estão a resolver”.
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