Bela e airosa, mas cheia de dúvidas e receios — referindo-nos àquela juventude mais privilegiada, nascida entre 1990 e 2000 (chamada geração Z, sucedeu à geração Y ou millenial, que sucedeu à geração X, que sucedeu à dos chamados baby boomers…), filha da burguesia delirante, não à outra, a menos ou nada privilegiada, que abandona o secundário e se faz à vida logo que a CPCJ deixa de andar em cima. Mas hoje a ansiedade e a insegurança dessa juventude Z, que negoceia e finta as projecções dos pais-helicóptero, são do tamanho do mundo ao alcance de um voo low cost. Ter perdido a espontaneidade de brincar na rua e ser levada de carro pelos progenitores, da creche à faculdade, também não ajuda à autonomia e à autoconfiança.
Frívolos umbiguistas, nem lhes ocorre retribuir o investimento que o Estado faz. — Cá, paga-se mal? Temos pena, vou já tipo à internet ver para onde posso emigrar. Mesmo aceitando o que não me passaria pela cabeça fazer em Portugal. Servir num bar da Piccadilly Circus ou estar de plantão no Hotel Savoy sempre é outra coisa. Ganha-se muito mais, nem se compara. É claro que só chega para uma espécie de quarto tipo minúsculo com casa-de-banho partilhada, lá para os lados de Barking and Dagenham, mas sempre é em Londres. Diz-se para aí que sou da geração mais qualificada de sempre, mas acho que confundem saber e competência com certificação. Sempre fizemos tudo para que as aulas fossem tipo uma ribaldaria. Quando a bagunça dava para torto, lá iam os nossos cotas à escola, e agora também à faculdade, pôr tipo os profes na linha. Fomos passando de ano tipo vencendo os profes pelo cansaço, toda a gente sabe disso. E suspirámos de alívio quando o bacharelato foi tipo promovido a licenciatura. E agora, por mais uns semestres, até se consegue o certificado de mestre ou doutor em qualquer coisa, continuando a passar o tempo a coçar o telemóvel. E enquanto não aparece nada melhor, ganhar boas libras esterlinas a aviar copos num sítio fixe, tipo bué longe dos cotas, ‘tá-se bem… Imigrantes? Claro que voto contra! Ouvi dizer que são tipo bué perigosos.
Esta geração Z que se faz à fotografia em entrevistas nas universidades, para “artigos de fundo” sociológicos, diz não ter grande apego ao país e, julgando que o mundo é o que o algorítmo lhes mostra, acha-se cidadã do mundo; declara que tem acesso privilegiado à informação, mas não lê jornais nem livros, porque tudo tem de ser imediato e bom; quando quer saber, “pesquisa”, não lê; define o que é bom e mau sem aprofundar; é-lhe impensável a adversidade, porque, lá está, exige aprofundar, logo, é mau; não se imagina daqui a dez anos, porque não sabe o que acontecerá daqui a dois; maioritariamente de filhos únicos, acha que é a geração mais ansiosa e menos autónoma de todas; em inquéritos de orientação vocacional, diz não querer a vida de trabalho, abnegação e privações dos pais, que não vale a pena trabalhar tanto; quer tempo para outras coisas, horário flexível e emprego estimulante.
Será o sonho suficiente para lhes comandar o confronto com a vida? É que o confronto exige aprofundar, logo…
0 Comentários