O anúncio da localização do futuro hospital do Oeste no Bombarral e a discordância com essa decisão por parte dos Municípios das Caldas da Rainha e de Óbidos motivou a receção no JORNAL DAS CALDAS de diversos artigos de opinião que por manifesta falta de espaço em tempo útil transformamos em artigo noticioso resumindo as principais ideias.
Pedro Maldonado Freitas, caldense e obidense, de origem, e membro da Assembleia Municipal de Óbidos, eleito pelo Partido Socialista, defende a localização do novo hospital do Oeste nos terrenos disponibilizados para o efeito pelos municípios de Caldas da Rainha e Óbidos, junto ao nó rodoviário da A8.
“Considero ser esta opção a que melhor cumpre os princípios e objetivos do ordenamento do território, potenciando o aproveitamento das infraestruturas existentes, respeitando o presente e projetando o futuro. Apresenta-se também como a que melhor defende o equilíbrio e a justiça sócio-espacial”, sustenta.
No seu entender, “priorizar na análise da implantação de um novo hospital os critérios de tempo-distância, reduzindo toda a equação do problema quase só a isso, faz tanto sentido como afirmar que, para resolver a inexistência de urgências de neurocirurgia ou neurorradiologia no hospital de Faro, se deverá construir um hospital em Foros da Casa Nova (sem desprimor para o povoado), no concelho de Santiago do Cacém, para reduzir a metade o tempo de evacuação em helicóptero dos doentes em emergência neurocirúrgica, do Algarve para os hospitais de Lisboa”.
“Caldas da Rainha é uma cidade com tradições e condições únicas na área hospitalar e assistencial. Para além disso possui um elevadíssimo número de médicos, enfermeiros, técnicos e auxiliares de saúde residentes, bem como todo um universo de empresas de produtos e serviços ligadas à existência do centro hospitalar, cujo potencial humano e técnico é imperioso considerar e respeitar”, vinca.
“Foi avaliado o impacto sócio-económico negativo em consequência do desaparecimento do centro hospitalar?”, questiona, pese embora ache que o atual centro hospitalar “nunca deveria ter sido implantado naquele local, encaixado em plena malha urbana e cheio de problemas de acessibilidade e expansão”.
Para Pedro Maldonado Freitas, “Óbidos é um concelho com fortes e graves carências ao nível dos cuidados de saúde primários e com uma população bastante envelhecida que supre muitas das deficiências dessa cobertura recorrendo às instituições e serviços do Serviço Nacional de Saúde sediadas em Caldas da Rainha, nomeadamente ao seu Hospital”.
“A CimOeste é uma comunidade associativa de âmbito territorial e visa a prossecução conjunta com os doze municípios associados das respetivas atribuições onde, como ficou provado, se operacionalizam questões administrativas comuns, mas também se refletem e manifestam os interesses particulares de cada um deles”, comenta.
“É importante que, enquanto cidadãos, exijamos participar e nos envolvamos na discussão dos assuntos e de todas as questões, mormente as locais, no sentido de influenciar as decisões que governo e órgãos do poder local tomem ou nos processos que afetarão o modo como as suas decisões serão tomadas futuramente. É importante que, enquanto autarcas, nos batamos pelo que consideramos serem os legítimos anseios, expetativas e direitos das populações que nos elegeram. Não concordo com a decisão comunicada e não deixarei de me bater, democraticamente, pela sua reapreciação, reconsideração e desejável reversão”, manifesta Pedro Maldonado Freitas.
“No próximo evento não podemos ser 300, teremos de ser 3.000”
Amador Pedro Fernandes, comerciante caldense, recorda que “nos finais do século XX Caldas tinha dois hospitais dos quais se podia orgulhar e que eram os principais motores da economia caldense: o Hospital Termal (o mais antigo do país) e o Hospital Distrital, que em conjunto formavam o Centro Hospitalar das Caldas da Rainha”.
“A história das Caldas não se pode separar dos seus hospitais, mas do mesmo modo a economia caldense também não se pode separar deles. A importância dos hospitais das Caldas é notória no movimento de pessoas que trazem às Caldas, onde toda a economia, a começar pelo comércio, pela restauração e pela hotelaria, tem uma considerável fatia do seu negócio”, sublinha.
Para o empresário, o anúncio da construção do novo hospital no Bombarral “provoca irremediavelmente o encerramento do Hospital das Caldas, incluindo a urgência”. “A ser concretizada esta localização, a economia caldense vai sofrer o mais rude e duro golpe que sofreu em toda a sua história. As Caldas vai passar a ser uma cidade parcialmente abandonada, economicamente fraca e sem capacidade de captação de investimento, em suma, sem interesse”, alerta.
“Desta vez podemos lutar, nada está perdido. No passado sábado a Câmara Municipal das Caldas da Rainha organizou uma manifestação para lutarmos pelo hospital, mas por incrível que possa parecer só tinha 300 manifestantes. Num concelho com mais de 50.000 habitantes, onde estavam todos?”, interroga.
Na sua opinião, “os caldenses têm de se unir nesta luta, é agora o momento de nos esquecermos das divergências e concentrarmo-nos nas convergências e na união de todos pela localização do novo Hospital do Oeste nas Caldas da Rainha”.
Mas se a Câmara “tudo tem feito ao seu alcance para defender o Hospital nas Caldas/Óbidos”, Amador Fernandes critica que “outras entidades nada têm feito”. “A associação comercial nada disse até ao momento e é uma associação que tem o dever e a obrigação de defender os interesses dos comerciantes das Caldas e de Óbidos. Tem de estar na primeira linha da luta pelo Hospital e tem de saber motivar, agregar e liderar os comerciantes”, frisa.
Por outro lado, “a associação industrial) também nada tem dito ou feito, e a indústria também vai ser fortemente afetada se o novo Hospital do Oeste não ficar nas Caldas”.
“No próximo evento não podemos ser 300, teremos de ser 3.000 ou mesmo 30.000. Temos de mostrar aos governantes e ao país que estamos todos unidos nesta luta”, defende.
“O universo de utentes potenciais já não corresponde ao que foi utilizado pelo Grupo de Trabalho”
Maria de Jesus Fernandes, caldense, integra a assembleia municipal de Caldas da Rainha eleita pelo movimento independente Vamos Mudar, considera que a decisão do ministro “não tem uma base racional sólida nem tem em conta os melhores e mais fundamentados critérios técnicos, são sim o resultado da força do lobby político-partidário e das suas expetativas”.
A localização do hospital no terreno com cerca de 50 hectares disponibilizado para o efeito pelos municípios de Caldas da Rainha e Óbidos, junto ao nó rodoviário A8/A15 e à linha do caminho-de-ferro do Oeste, “é a que melhor cumpre os critérios de centralidade, de ordenamento do território, de acessibilidade e critérios ambientais, de atratividade para captação de profissionais”.
“Em democracia as decisões políticas deverão ser tecnicamente bem fundamentadas, e estes fundamentos têm de se pautar por critérios indiscutíveis de rigor e isenção. Uma decisão, como esta, num dossier complexo que se arrasta há muitos anos, que mobiliza posições antagónicas no território e pode determinar o desenvolvimento económico e/ou a retração de umas cidades (e concelhos) em detrimento de outras, deveria ser muito ponderada, bem acautelados e justificados os critérios e o rigor que a sustentam”, declara Maria de Jesus Fernandes.
A caldense admite que “qualquer que fosse a decisão, seria sempre contestada e deixaria sempre uma parte dos cidadãos descontentes”, mas exatamente por isso “esperávamos mais do senhor ministro e da sua equipa, em particular, na ponderação e avaliação de todos os critérios de que dispunham, sem menosprezar nenhum e da justificação da opção tomada”.
“O Grupo de Trabalho criado em janeiro de 2023 para avaliar e propor uma localização do novo Centro Hospitalar do Oeste ao Ministro da Saúde, coordenado pela ex-ministra Ana Jorge, apresenta um relatório que utiliza um território menor do que o inicialmente previsto para o novo Hospital do Oeste, deixando de fora concelhos e freguesias a sul (Alenquer, Sobral de Monte Agraço, Arruda e Mafra), e também a norte (Alcobaça e Nazaré). Não foi este o universo de doentes e o espaço utilizado no estudo da CIM que fundamenta a decisão agora anunciada”, faz notar.
“O estudo da Nova IMS-Nova Information Management Shool, encomendado pela Oeste CIM, que fundamenta a localização do futuro hospital no Bombarral como primeira e melhor opção, utilizou como único critério tempo e distância média. O universo de utentes potenciais em que se baseou esse estudo já não corresponde ao que foi utilizado pelo Grupo de Trabalho no seu relatório. Alterando o território, o tempo e a distância médios também alteram. Foram refeitas as contas ou considerou-se que era indiferente o resultado das mesmas porque, afinal, a decisão já estava tomada?”, questiona.
Por outro lado, “ignorou-se o dossiê preparado por uma equipa de especialistas encomendado pelas Câmaras Municipais de Caldas da Rainha e de Óbidos, onde foram ponderados critério de Ordenamento do Território, de aptidão dos terrenos disponíveis; de mobilidade e acessibilidade; de atratividade dos locais para captar profissionais de saúde; de fornecimento de serviços de proximidade, etc., etc”.
“O relatório do Grupo de Trabalho não diz, e o Senhor Ministro não explicou, como é que, por exemplo, o Hospital de Leiria vai poder acolher a população de todo o concelho de Alcobaça”, refere Maria de Jesus Fernandes.
0 Comentários