Aos professores cabe também exemplificar a democracia.
Os sindicatos são um pilar da democracia. Não há regime democrático sem sindicatos. Sindicatos, no plural, pois, tal como não queremos um regime de partido único, também não aceitamos um regime de sindicato único.
Os movimentos de cidadãos são úteis para dar sinais aos governos, mas nada resolvem. Só os sindicatos podem mediar conflitos entre os trabalhadores e o Estado ou entre os trabalhadores e as empresas, e pugnar pelos interesses de quem trabalha.
Hostilizar e rejeitar os sindicatos, como parece ser moda para muitos professores, é uma atitude reaccionária e antidemocrática. Essa atitude não é consentânea com a missão ética e deontológica de exemplo democrático que os professores devem dar.
É claro que também os professores são livres de não serem sindicalizados. Mas não é aceitável que hostilizem os seus sindicatos, a quem tudo devem em matéria de direitos laborais.
Ouve-se falar da desunião dos sindicatos de professores. Desde sempre, a FENPROF, que é constituída por 7 sindicatos, tem tido o apoio de outros 7 sindicatos independentes. Em momentos mais críticos, a estes 14 sindicatos unidos, também se junta a FNE, que inclui outros 7 sindicatos de professores, formando-se, como na gigantesca manifestação de 11 de Fevereiro, uma união de 21 sindicatos… 21 sindicatos em uníssono. Ora, onde está a desunião?
A estes 21 sindicatos, chama-se agora “sindicatos tradicionais”. Certa opinião pública, querendo ser insultuosa, chama-lhes “sindicatos do sistema”. Estranho insulto, sendo o “sistema” a democracia.
Os sindicatos de professores agora ditos “tradicionais” têm percursos consistentes, nestes 49 anos de democracia. Querendo evitar o que aconteceu no Reino Unido em 2004, a acção reivindicativa não pode ser inventada da noite para o dia. Foi devido a certo sindicalismo irreflectido que Margaret Thatcher conseguiu vencer os sindicatos, e o movimento sindical britânico ainda se está a recompor.
Os sindicatos de professores agora ditos “tradicionais” sabem que a luta tem de ser muito calculada, tem de ser prudente. E tem de ser ética. Os professores ensinam valores. Para os professores, não pode valer tudo. Para os professores, os fins não justificam os meios. Para os professores, os meios têm de ser dignos dos fins que pretendem alcançar.
O momento é de clarificação. Ao sindicalismo de cariz populista, histriónico e messiânico, divisionista e promotor de estratégias suicidas, os sindicatos de professores agora ditos “tradicionais” terão de saber opor-se de modo inequívoco, mantendo o seu rumo de sensatez e inflexível seriedade, na defesa da classe docente.
Escrevo segundo o anterior acordo.
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