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Um dia na apanha da pera rocha no Cadaval e no Bombarral

Mariana Martinho

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Em meados de agosto chega a tradicional época de apanha da fruta no Oeste, apesar deste ano se realizar “em moldes diferentes do habitual”, com fortes medidas de prevenção contra a Covid-19 destinadas a evitar surtos de contágio entre trabalhadores envolvidos nos pomares da região. O JORNAL DAS CALDAS foi acompanhar um dia da campanha, em dois pomares, de dois produtores de pera rocha da região do Cadaval e do Bombarral, que já começaram a colher os seus frutos. Por esta altura também é possível verificar muitos jovens que andam na apanha da fruta durante semanas para ganhar algum dinheiro para os estudos ou para poupanças. Mas há também desempregados que aproveitam esta oferta sazonal para “ganhar algum”.
Grupo de jovens e outros menos jovens no pomar da quinta da Várzea do Salgueirão, em Adão do Lobo, no Cadaval

Sexta-feira, 07h30. Um grupo de jovens e outros menos jovens encontram-se no largo combinado, para depois se deslocarem para os pomares da quinta da Várzea do Salgueirão, com 20 hectares, em Adão do Lobo, no Cadaval, e outros para a Quinta da Granja, no concelho do Bombarral.

No dia que está a começar já quente um grupo de jovens e veteranos atarefa-se a colher as peras, naquela que será a última jornada de um trabalho que irá durar três semanas. Antes de falar com o grupo, o JORNAL DAS CALDAS abordou os dois produtores para saber como estão a correr estes primeiros dias da campanha, que no caso da quinta da Várzea do Salgueirão já conta com 90 toneladas de fruto.

Nelson Nicolau, produtor do Cadaval, sublinhou que “a produção da região vai ser um pouco menos do que o ano passado, com uma redução entre 30% a 40% em volume face à campanha anterior”. Mas ainda é cedo para “prever como será a colheita deste ano”.

Em contrapartida, o responsável acredita que provavelmente os frutos “em termos de açúcares e aromas vão estar excecionais, com um nível qualitativo muito favorável”.

“A pera rocha terá uma grande quantidade de açúcares, com melhor brix (percentagem de matéria seca solúvel contida no sumo dos frutos), melhores calibres e um pouco mais de carepa”, sublinhou o produtor, esclarecendo que “como há menos produção, os açúcares estão mais concentrados”.

Já na Quinta da Granja, o proprietário, Pedro Silva, frisou que “este ano prevemos uma quebra na ordem dos 30% ou mais, devido à falta de frio registado durante o período de inverno”. “Isso provocou menos floração e vingamento do fruto”, esclareceu o responsável, adiantando que “provavelmente iremos ter menos produção, mas um elevado nível de qualidade”. Neste momento, a quinta conta com mil toneladas colhidas.

Apanha da fruta é oportunidade de trabalho para todos

Nos pomares do Oeste, normalmente cerca de 150 pessoas de várias idades procuram esta oportunidade de trabalho sazonal todos os anos, não só pela “recompensa financeira” mas também pela experiência e convívio.

Após oito horas a subir e a descer os escadotes, de arranhões e de baldes cheios, tudo misturado com conversas e brincadeiras, com uma pausa para almoçar, os trabalhadores às cinco e meia da tarde voltam a fazer o caminho inverso para regressar a casa. Apesar do “trabalho duro, o dinheiro é compensador”, sendo utilizado para várias finalidades como pagar propinas e dívidas, mas também comprar outras utilidades.

Apesar de este ano “termos menos pessoas do que o ano passado, e das fortes medidas de prevenção contra a Covid-19”, Nelson Nicolau afirmou que “a campanha tem corrido dentro da normalidade”.

Nos pomares, enquanto visualizava a apanha da pera, o produtor explicou que se encontram “pessoas de várias idades”, em que todos “devem apanhar e cuidar das peras como quem cuida dos ovos”. Ainda explicou que os mais velhos já estão habituados aos ambientes e os mais novos acabam por se habituar, sendo ágeis e com maior capacidade para subir às árvores.

“O fruto não pode levar cortes nem toques, pois cada corte vai deteriorar a qualidade do produto, acabando por ir para a indústria”, manifestou, acrescentando as “principais exigências são que as peras tenham pé e que sejam colocadas com cuidado no balde”.

Divididos por grupos de 12 pessoas, espalhados pelos campos, também estão cerca de cem trabalhadores temporários na Quinta da Granja, no Bombarral.

Segundo Pedro Silva, “esta campanha está a ser feita em condições como nunca tínhamos antes, pois além de todos os equipamentos de proteção contra a Covid-19, também tivemos de criar um plano de contingência, que nos obriga a colocar grupos em diferentes sítios da quinta”. Assim, “caso haja um incidente num grupo, provavelmente não afetará os outros”. Essa medida também levantou “outros problemas”, no que diz respeito à logística e à despesa.

Para o responsável, “esta vai ser uma colheita muitíssimo mais cara do que estávamos à espera. Mas preferimos fazer isto para evitar surtos de contágio durante a campanha”.

Apesar de tudo, o responsável afirmou que até à data “não houve nenhum incidente de saúde e o ambiente que se vive na exploração é de descontração, mas muito disciplinado no que diz respeito à apanha da pera”.

Após serem colhidas das árvores para o balde são depositadas no palote, que leva entre os 200 e os 350 quilos de peras. Posteriormente, são recolhidas e amontoadas por um trator, e colocadas numa carrinha, acabando por ser transportadas para uma cooperativa, que trata e exporta o produto para outros mercados.

Experiências dos trabalhadores

A colheita da fruta para muitos é uma experiência, que permite a troca de conhecimentos entre os mais velhos e os mais novos que vêm de vários pontos da região. Além disso, traz muitos momentos de brincadeira, convívio, piada, canto, mas sobretudo de trabalho.

Entre o barulho das máquinas que entram pelos pomares para carregar os palotes cheios, há vários jovens e veteranos que quiseram partilhar a experiência com o JORNAL DAS CALDAS.

Cristina Geada, 37 anos

“Desde os meus 16 anos, que venho apanhar pera durante as férias. Atualmente sou docente, e aproveito o mês de agosto para ganhar um extra, apesar de este ano ser uma campanha atípica devido às condições que estamos atravessar neste momento. Tirando o facto de tentarmos manter a distância entre nós, de usarmos máscara, e de estarmos constantemente a desinfetar as mãos e os equipamentos, a apanha tem corrido bem, mas noto algum receio por parte dos jovens, que este ano estão em número reduzido”.

João Silvestre, 74 anos

“Há quatro anos que venho acompanhar os meus netos, de 18 e 19 anos, na apanha da pera. Além disso, adoro vir não só pelo ambiente mas também pelo grupo que normalmente é coeso, com espírito de companheirismo, o que se traduz em melhores resultados. A principal dificuldade é o calor e o facto de andar de máscara mas é uma questão de hábito”.

Cláudia Araújo, 21 anos

“É a primeira vez que venho apanhar pera e como estava a precisar de dinheiro, optei por aproveitar esta oportunidade para ganhar algum extra. Apesar de ser um trabalho bastante duro, devido ao calor a que estamos expostos, o dinheiro que recebemos compensa. Em relação às medidas de prevenção contra a Covid-19 tenho tentado respeitar todas as normas, o que faz com que tudo esteja a correr bem ”.

Catarina Silva, 45 anos

“Este é o primeiro ano na apanha da pera, devido ao dinheiro que consigo ganhar. Embora seja duro, o dinheiro que recebemos compensa, podendo no fim usufruir de umas boas férias. A maior dificuldade do trabalho é o facto de levantar cedo, o calor que se sente ao longo do dia e, sobretudo, o conciliar os escadotes para apanha das peras em terrenos inclinados”.

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