É um desenho que José Malhoa ofereceu ao seu amigo, o pintor Sousa Lopes, que estava agora na posse de um dos seus herdeiros de mais de 90 anos. “Quem descobriu a obra na mão de um familiar de Sousa Lopes foi o nosso associado João Maria Ferreira e conseguimos negociar a obra”, explicou Margarida Taveira, presidente da direção da LAMJM, lembrando que a Liga não tem qualquer tipo de subsídio e vive apenas da quotização e das iniciativas que desenvolve juntos dos seus associados.
Margarida Taveira considera que a obra em papel é “extremamente importante para o estudo de Malhoa” e revela que o quadro “emoldurado e em bom estado de conservação, carece de pequeno restauro e limpeza”.
A obra sobre papel foi apresentada ao público no passado sábado, numa palestra proferida por Maria de Aires Silveira, historiadora de arte, curadora do Museu Nacional de Arte Contemporânea, onde tem desenvolvido extensa investigação sobre a criação artística portuguesa no século XIX.
Maria de Aires Silveira disse que se percebe que “é um apontamento, ou seja, o início de um estudo para uma pintura que provavelmente é aquela onde ele está a atirar o foguete”. Mas certezas não há, e poderá ter sido um estudo para um quadro que está no Brasil, uma vez que as suas obras “foram desde sempre apreciadas naquele país”. José Malhoa foi no início ao século XX ao Brasil para a inauguração da exposição, onde vendeu todos os seus quadros (dezenas de obras).
Segundo a historiadora de arte, José Malhoa tem uma presença forte no Museu Nacional de Belas Artes, no Rio de Janeiro.
Além do desenho servir de apontamento para um quadro, a historiadora de arte referiu “existe uma proximidade com outros estudos no tipo de tracejado e naquela observação psicológica grande que ele faz do retrato da face que ele coloca no canto superior direito, como se fosse um zoom”.
“Quando José Malhoa morreu, a 26 de outubro de 1933, Sousa Lopes, que já era diretor do Museu Nacional de Arte Contemporânea, mandou colocar flores e laços em todas as obras de Malhoa, o que revela uma amizade grande entre ambos”, contou.
A curadora do Museu Nacional de Arte Contemporânea revelou que existe a vontade de fazer em Lisboa uma grande exposição da retrospetiva de José Malhoa, uma vez que a última foi em 1982 e dividida entre a Sociedade Nacional de Belas Artes e no Museu Malhoa. “A fazer tinha que ser uma exposição muito abrangente da obra que envolvesse a apresentação de quadros que estão no Brasil”, revelou.
O desenho que agora faz parte do acervo do Museu José Malhoa serviu de pretexto para Maria de Aires Silveira fazer uma análise sobre alguns aspetos da produção de José Malhoa, seguindo o seu percurso, em torno das representações de figuras populares, analisando os processos técnicos e tratamentos diferenciados no registo da cor e luz utilizado pelo artista.
Esta iniciativa serviu para assinalar os 86 anos da morte do pintor. No final da palestra a LAMJM formalizou a doação da obra ao Estado, para integrar o acervo do Museu José Malhoa.
Em 2016 a LAMJM doou ao museu caldense um desenho de Malhoa que representa as várias localidades em que passou numa viagem de comboio que fez no princípio do século XX a Madrid. “Trata-se de uma obra onde o pintor desenhou tudo na mesma folha como se fosse uma história de quadradinhos, onde todas as imagens foram feitas com tinta da china e estão legendadas”, referiu Margarida Taveira. A obra tem ainda o desenho da pessoa que ia à frente na carruagem com ele e que estava a dormir.
Carlos Coutinho, diretor do museu, destacou os 410 sócios da LAMJM, sublinhando que a “obra foi adquirida por todos”. A obra ficará patente numa sala da exposição permanente dedicada ao desenho.
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