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António Costa e Marcelo Rebelo de Sousa visitaram FOLIO no primeiro fim-de-semana

Mariana Martinho

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Abriu portas na passada quinta-feira a 5ª edição do FOLIO - Festival Literário Internacional de Óbidos, onde até ao próximo domingo decorrerão cerca de 210 iniciativas, que envolvem mais de meio milhar de convidados de quatro continentes, distribuídos por 16 mesas de escritores, 13 concertos e 12 exposições, numa programação sob o tema “O Tempo e o Medo”. Com um programa “mais consistente”, o primeiro fim-de-semana do festival ficou marcado pela presença de várias figuras do panorama político nacional, como a habitual vinda do presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, bem como do Primeiro-Ministro, António Costa, em visita informal, e do Ministro do Planeamento, Nelson Sousa.
O presidente da República, como já é habitual, visitou o festival

O festival, que está organizado em “cinco grandes áreas” (Autores, Folia, Educa, Ilustra e Folio Mais), abriu portas nesse dia na tenda dos editores, que este ano está localizada na Praça de Santa Maria. Tendo como pano de fundo os livros de 14 editoras e um auditório com programação permanente, o presidente da Câmara de Óbidos começou por referir que serão “onze dias de muita intensidade, que envolverão 608 autores de quatro continentes, em mais de mil horas de programação”.

Esta quinta edição do FOLIO será “algo notável, e só os mais distraídos podem ignorar o que se faz em Óbidos”. Um dos destaques deste ano, para o autarca, foi o retomar da “velha ideia, que tivemos na primeira edição”, de ter mais editoras, mesmo as menos conhecidas, para destacar também outros autores.

Humberto Marques também referiu que nas edições anteriores “havia sempre a tendência de bipolarizar as editoras mais conhecidas, e essa não era a nossa ideia”, como tal estão representadas no total 14 editoras.

Na sua intervenção, o autarca fez questão de agradecer a todas as pessoas e entidades institucionais, que “têm feito o possível e o impossível” para que o FOLIO se tornasse um evento “tão relevante e consistente” ao longo destes cinco anos. Aproveitou ainda para esclarecer que “este evento realiza-se à custa inteiramente de parceiros, sem qualquer apoio do Estado Central”, visto que a sua primeira edição em 2015 contou com o apoio de fundos comunitários, sendo desde então custeado pela autarquia e por parceiros institucionais.

“Lamento este episódio ímpar e espero que no futuro se possa corrigir esta trajetória”, frisou Humberto Marques, sublinhando, no entanto, o apoio do Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, cuja presença é habitual no evento.

Igualmente agradeceu a presença do presidente da República de Cabo Verde, Jorge Carlos Fonseca, pela sua “total disponibilidade em descer do nível do mais alto cargo que ocupa e de regressar à sua função de cidadão como amante da literatura nesta programação”.

O chefe de estado, que esteve presente durante três dias, começou por sublinhar que o FOLIO “é como uma festa cultural feita do entrelaçamento com a dimensão histórica, social e cultural desta nobre localidade”. Além disso também é “uma grande oportunidade para que o público leitor possa ver de perto os escritores que admira e chegar mesmo a um momento de conversa com eles”, e ainda é um “instrumento pedagógico que aproxima pessoas”.

Igualmente referiu que o “intercâmbio cultural e as experiências que irão ser vividas nos próximos dias pelos muitos participantes no festival serão sempre de inestimável valor”.

Aproveitou a ocasião para destacar a importância dos festivais literários para atingir o objetivo de “mobilidade plena” na Comunidade dos Países de Língua Oficial Portuguesa, a que Cabo Verde preside até julho do próximo ano. Essa mobilidade será feita através da assinatura de acordos com os nove países para a criação de “uma espécie de um mercado livre cultural, onde haja livre circulação de escritores, artistas, produtores, editores, livreiros, artesãos” e de todos os bens culturais.

José Pinho, da Ler Devagar e curador do FOLIO Mais, destacou que este “é o programa com mais cinema, concertos e boémia do que as edições anteriores”.

Para a vice-presidente do Inatel, Lucinda Lopes, a instituição que nesta edição assumiu a curadoria da FOLIA, “não poderia deixar de ser cúmplice” do festival literário, devido à sua missão da defesa da cultura tradicional.

Após o ato inaugural a comitiva visitou cinco das onze exposições que abriram nesse mesmo dia, começando pela “Quem Protesta não tem Medo”, de José Pacheco Pereira e Ana Maria Calçada, no Museu Abílio de Mattos e Silva.

“FOLIO tem mais futuro do que passado”

O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, esteve no passado domingo a visitar o FOLIO. Mas antes já andava pelas ruas da vila o primeiro-ministro, António Costa, que passeava informalmente com a esposa e que aproveitou para almoçar na Pousada do Castelo de Óbidos depois de visitar o FOLIO.

Marcelo Rebelo de Sousa assistiu à conversa entre Lídia Jorge e Nuno Júdice sobre “O Medo dos Escritores”. Perante um auditório cheio de pessoas e após a conversa dos autores, o Presidente da República considerou que “o medo faz parte da natureza humana. É algo natural e inato”, tornando-se “muitas vezes é criativo”.

Além disso considerou que o “medo é importante para tomarmos decisões mais conscientes, apesar de haver quem tenha medo que acabe o medo”.

Também aproveitou para alertar para os que instrumentalizam o medo para “acorrentar os outros”, sendo essa uma questão que está “na ordem do dia”.

O chefe de estado aproveitou ainda para sublinhar que “o FOLIO é um festival que possui sempre um lado inesperado e inovador, que o torna único”. Além disso é um evento que “tem mais futuro do que passado, passando sempre essa imagem aos editores e comentadores, que, por vezes, têm dúvidas que a próxima edição será melhor ou não”. Contudo, “eu digo-lhes sempre que o FOLIO é para continuar muito tempo e será cada vez melhor”.

Durante a visita, o Presidente da Republica aproveitou para passar pela tenda dos autores, na Praça de Santa Maria para comprar alguns livros e travar algum contato com os visitantes do festival. Acompanhado pelo Ministro do Planeamento, Marcelo Rebelo de Sousa assistir ainda a uma conferência sobre o medo proferida pelo humorista Ricardo Araújo Pereira.

Sessão com Ricardo Araújo Pereira transferida para o palco Inatel

O humorista, que também já é presença habitual no festival, regressou no passado domingo a Óbidos, mas desta vez para falar sobre o medo. Inicialmente estava previsto para ser no auditório da Casa da Música, mas a elevada procura por parte do público fez com que a sessão fosse transferida para o palco Inatel.

Mal entrou no palco, Ricardo Araújo Pereira confessou que “quando me convidaram para falar sobre o medo imaginei uma sala esconsa, com 60 pessoas, mas afinal era um pavilhão enorme com o Presidente da República na primeira fila”. Isso significa que “devia ter-me esforçado mais”, e portanto, “estou com medo”.

Perante “centenas de pessoas, algumas ilustres”, o humorista fez uma alocução sobre Perseu, semideus da mitologia grega, e a história em que este mata o monstro Medusa, com a ajuda de um escudo que é também espelho.

Para Ricardo Araújo Pereira, “o escudo que é ao mesmo tempo um espelho, é uma boa definição do humor”, adiantando ainda que o “riso é um requisito da humanidade para que as pessoas não se transformem em pedra, como acontecia a quem olhasse Medusa nos olhos”. Essa realidade, transportada para os tempos atuais, “faz todo o sentido”.

Igualmente referiu que “não é possível rir e ter medo ao mesmo tempo”, dando como exemplo o que o humorista Stephen Colbert fez na noite em que Donald Trump foi eleito.

Prémio Nacional de Ilustração foi entregue a André Letria

O domingo também ficou marcado pela inauguração da “PIM – Mostra de Ilustração para Imaginar o Mundo”, que está integrada na programação do FOLIO Ilustra, e ainda pela entrega do Prémio Nacional de Ilustração promovido pela Direção-Geral do Livro, dos Arquivos e das Bibliotecas ao ilustrador português, André Letria, com o livro “A Guerra”, que tem textos do escritor José Jorge Letria.

Esta foi a segunda vez que André Letria venceu o Prémio Nacional de Ilustração, depois de em 1999 ter sido reconhecido com Versos de fazer ó-ó, também com texto de José Jorge Letria. Desta vez com a obra “A Guerra”, editada em 2018 com selo da Pato Lógico, que segundo o ilustrador, foi “um trabalho feito de colaboração estreita com o meu pai”.

A edição deste ano do Prémio Nacional de Ilustração contou com um júri composto por Andreia Brites, Luís Mendonça e Maria Carlos Loureiro, que escolheu por unanimidade.

Além do prémio também foram atribuídas duas menções especiais, a Susa Monteiro, pelas ilustrações da obra “Sonho”, e a outra a Mariana Rio, pelas ilustrações da obra “A Casa da Drª Farnsworth, com texto de Joana Couceiro. Quer a ilustração vencedora quer as menções honrosas estão expostas na mostra, que está patente na Galeria Nova Ogiva.

Para entregar o galardão esteve presente a secretária de Estado da Cultura, Ângela Ferreira, que disse que “este festival literário cumpre, desde a sua origem, aquele que é um dos objetivos centrais na lógica dos festivais literários e da sua importância enquanto iniciativas congregadoras: o de lutar contra o centralismo da oferta cultural, contribuindo para a criação de lugares e eventos de interesse cultural disseminados por todo o território português”.

Igualmente referiu que a promoção “da literatura, do livro e da leitura”, feita em Óbidos é “um exemplo de que, com o envolvimento das autarquias é possível descentralizar a oferta, criar e atrair novos públicos, promovendo uma cultura verdadeiramente para todos”.

Questionada sobre a falta de apoio ao festival, a governante esclareceu que isso “prende-se essencialmente com uma questão processual e procedimental, que estamos a resolver com a Câmara Municipal”, e assim que o “festival consiga ultrapassar as questões de formalização de uma associação que o organiza, o Governo estará em condições de apoiar a próxima edição”.

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