Estas perturbações estão geralmente associadas a dificuldades em aceitar alterações de rotinas, a um défice de atenção e de concentração e à falta de motivação, implicam também um défice na flexibilidade de pensamento e um modo de aprender peculiar.
Embora o autismo resulte de uma disfunção no desenvolvimento do sistema nervoso central e a investigação sobre esta temática indica que os fatores hereditários e genéticos tenham um peso importante, também a forma como o meio ambiente aceita e lida com estas crianças e jovens são determinantes no seu desenvolvimento e na sua inclusão social.
Para dar a conhecer melhor esta síndroma, o JORNAL DAS CALDAS focou-se numa visão mais intimista, a de uma mãe, Felizmina Viana, de Caldas da Rainha, que vive há 30 anos com Bruno, seu filho, afetado por Perturbações do espectro do Autismo (PEA).
JORNAL DAS CALDAS: Antes de estar nesta situação, conhecia o que era o autismo?
Felizmina Viana: Não, nada mesmo. Aliás, em Portugal há 30 anos praticamente não se falava em autismo. Só se conhecia o autismo clássico, que não é o caso do Bruno, que é um autista mais ligeiro que faz parte da síndroma de Asperger.
JORNAL DAS CALDAS: O que começou a notar no Bruno diferente das outras crianças? E quanto tempo demorou a família a descobrir o que ele realmente tinha?
Felizmina Viana: Comecei a notar por volta dos dois/três anos. A pediatra dizia que ele tinha muito mimo, nós dizíamos que ele tinha uns comportamentos um bocadinho estranhos: ele não brincava com as outras crianças no parque, enquanto as outras crianças estavam a brincar juntas, ele estava sozinho num canto a brincar, viva naquele mundinho à parte. Só anos mais tarde é que começámos a perceber que ele estava neste espectro. O meu filho realmente era muito mimado como a pediatra dizia, mas não foi o mimo que lhe causou a perturbação.
JORNAL DAS CALDAS: Após saber que tem um filho com esta síndroma, que mudanças é que têm de ser feitas na vida familiar para se adaptarem às necessidades desta criança?
Felizmina Viana: Principalmente não se esconderem, não terem vergonha. As pessoas ainda têm vergonha de sair, porque se o menino vai ao restaurante e não tem aquele comportamento típico e se levanta e se faz um barulho, as pessoas depois acabam por se isolar e ficar num mundo à parte. As próprias pessoas é que se vão isolar e fugir do mundo porque percebem que o mundo não percebe os filhos deles e então as pessoas têm a tendência a esconderem-se. O que eu apelo e o que tenho feito sempre é não o esconder, é estar com o meu filho onde estão os outros, se os outros caminham ele também pode caminhar, se os outros vão ao restaurante, ele também pode ir. Eu sei que é complicado, alguns pais têm um bocadinho este receio do julgamento popular, do que as pessoas veem, porque as pessoas nunca veem este comportamento como uma perturbação, veem como má educação.
Felizmina Viana apelou a todas as pessoas a participarem no Caminho Azul, que vai ter lugar dia 12 de abril, às 10h30, junto ao quiosque azul, na Foz do Arelho. Esta caminhada, que cumpre este ano o 5º aniversário, é organizada por Felizmina e tem como objetivo sensibilizar as pessoas para esta perturbação e reunir as famílias que vivem numa realidade semelhante à dela.
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