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Morte de D. José Policarpo deixou terra-natal consternada

Francisco Gomes

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O patriarca emérito, morreu na passada quarta-feira em Lisboa, aos 78 anos, na sequência de um problema cardíaco. Encontrava-se em Fátima, num retiro anual de bispos, quando se sentiu mal e foi levado de ambulância para Lisboa, para o hospital dos SAMS, do Sindicato dos Bancários do Sul e Ilhas. Ia ser operado a um aneurisma na aorta e faleceu na sala de operações às 19h50. Ia ser operado a um aneurisma na aorta e faleceu na sala de operações às 19h50.
Bandeiras a meia-haste na Junta de Freguesia de Alvorninha

“Vivem-se momentos de dor, porque perdemos uma personalidade que deu nome à freguesia e ajudou a colocá-la no mapa. Era um filho da terra e um orgulho para nós”, comentou Avelino Custódio, presidente da junta de freguesia de Alvorninha, nas Caldas da Rainha, terra-natal de D. José Policarpo.

O autarca, que na manhã de quinta-feira mandou colocar as bandeiras na junta a meia-haste, era a imagem da grande consternação sentida na aldeia pelo falecimento do cardeal-patriarca emérito. A Câmara das Caldas anunciou luto municipal e o Governo decretou luto nacional no dia do funeral.

O caldense tinha-se despedido em julho de 2013 do Patriarcado de Lisboa. O então cardeal patriarca tinha apresentado a resignação, dois anos antes, ao Papa Bento XVI, por ter atingido os 75 anos, mantendo-se então por mais dois anos a pedido do Papa. Como o próprio Bento XVI acabaria por resignar, foi já depois da eleição do Papa Francisco que a resignação de D. José Policarpo se tornou efetiva.

Foi residir num centro de iniciação à oração em Sintra, mas não deixou de vir à sua terra-natal. Era na pequena povoação do Pego, onde tem uma vivenda, que D. José Policarpo passava alguns fins de semana. Construída num vale entre eucaliptos e pinheiros onde reina a calma, com uma piscina, um ringue para a prática de ténis ou de futebol de cinco e um extenso jardim, tinha inclusive uma capela, que por vezes D. José Policarpo abria à comunidade quando ali fazia celebrações religiosas.

Noutras ocasiões rezava missa num pequeno templo religioso no Pego, onde apareciam habitantes de toda a freguesia para o ouvir. José Coutinho, morador na freguesia, recordou que o prelado “tinha dificuldade em aguentar uma missa sem poder fumar”. O risco de aneurisma da aorta, de que foi vítima, aumenta com hipertensão, colesterol elevado e aterosclerose. O tabaco é a principal causa desta doença silenciosa.

Em Alvorninha tinha sido atribuído o seu nome a um pavilhão multiusos, que serve para diversas atividades desportivas e culturais. “Era uma pessoa querida, que nós todos amávamos muito e que infelizmente nos deixa”, apontou Felisberto Rogério, tesoureiro da junta.

As exéquias realizaram-se na Sé de Lisboa. Ali esteve uma representação da Câmara das Caldas da Rainha e da freguesia de Alvorninha, encabeçada pelos respetivos presidentes. O corpo seguiu depois para São Vicente de Fora, o panteão dos Patriarcas.

Com o seu falecimento fica aberta a possibilidade do seu sucessor, o atual patriarca de lisboa, D. Manuel Clemente, vir a receber o título de cardeal. É que tinha sido aplicada uma antiga tradição: enquanto um cardeal não atinge os 80 anos, o seu sucessor nunca é nomeado cardeal.

“Queria ser o prior da aldeia”

D. José Policarpo era o mais ilustre filho da terra e colocou a freguesia de Alvorninha no mapa de Portugal. É esta a forma como a população o vê, desde a altura em que se tornou, patriarca, cardeal, até deixar essa função, no ano passado, quando deu lugar a D. Manuel Clemente, tornando-se patriarca emérito.

Um de nove filhos de um casal de agricultores, oriundo de uma família com fortes tradições cristãs, pois já a sua avó se deslocava, todos os dias, vários quilómetros a pé para ir à missa, desde menino mostrou o seu interesse em seguir a vida eclesiástica.

Queria ser o prior da aldeia mas o destino levou-o ao mais alto cargo da Igreja. D. José Policarpo, que há cerca de três semanas tinha completado 78 anos, nasceu na pequena povoação do Pego.

O patriarca emérito sempre fez questão de se manter muito ligado ao concelho e à freguesia de Alvorninha, quer em termos institucionais quer particulares. Foi por intermédio dele, por exemplo, que a Universidade Católica se instalou nas Caldas da Rainha.

Filho de agricultores proprietários e rendeiros, o seu “modelo” era o pároco que o batizou, visita habitual na casa que partilhava com oito irmãos.

Depois de concluir a instrução primária entrou no seminário de Santarém. Formou-se em Filosofia e Teologia, no seminário dos Olivais. Seria ordenado padre aos 25 anos, mas nunca foi o que gostaria de ter sido: pároco.

Teve como primeira missão dirigir e lecionar num seminário que o Cardeal Cerejeira abriu em Penafirme, Torres Vedras, mas cinco anos depois seguiu para Roma, onde prosseguiu os estudos e se licenciou em Teologia Dogmática em 1968.

D. José Policarpo dirigiu durante quase três décadas (1970-1997) a formação dos padres saídos do Seminário dos Olivais. Tornou-se bispo aos 42 anos. Foi reitor da Universidade Católica de Lisboa durante oito anos, foi presidente da Conferência Episcopal Portuguesa, chefiou o projeto da Igreja Católica na TVI, e, aos 61 anos foi nomeado coadjutor do Cardeal-Patriarca de Lisboa, D. António Ribeiro, com direito a sucessão, o que aconteceria um ano depois.

Foi o 16.º Patriarca de Lisboa, cargo que ocupou durante 15 anos, entre 1998 e 2013, tendo sido nomeado Cardeal em 2001.

Quando D. José Policarpo foi nomeado cardeal-patriarca de Lisboa comentou: “Num certo sentido, um Cardeal não tem terra. Unido ao ministério do Papa, a sua cidade é o mundo. Mas em todas as viagens, por mais longe que nos levem, há um ponto de partida, onde se volta sempre, para recuperar a força da nascente original”.

Há um ano, quando decorria o processo de escolha do novo papa para suceder a Bento XVI, a população de Alvorninha não escondeu o seu desejo que querer ver um Papa José Policarpo, embora a possibilidade de que D. José Policarpo viesse a ser o futuro papa fosse encarada como “pouco provável” na sua terra-natal. O mesmo tinha acontecido em 2005, antes de ser escolhido como papa o cardeal Joseph Ratzinger.

É com orgulho pelo percurso de D. José Policarpo que os seus conterrâneos agora se despedem do prelado. Na sua terra-natal não lhe poupam elogios e, por isso foi com grande consternação que os habitantes receberam a notícia do falecimento.

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