As emoções são e sempre serão parte da nossa vida, e a Medicina Tradicional Chinesa (MTC) sabe disso. Desde os seus primórdios que a base teórica da MTC junta de uma forma lógica sintomas físicos e emocionais. O Fígado, por exemplo, tão depressa nutre os tendões como gera a criatividade, e tão depressa causa rigidez muscular como frustração e raiva.
No Ocidente existe a visão preponderante de que existe um órgão que comanda todas as emoções: o cérebro. Na minha opinião, essa visão implica o processo de separação entre o “corpo” e a “cabeça”, sendo que esta última se refere a algo que só nós controlamos e, por isso, se temos um “mal de cabeça”, a responsabilidade é nossa e basta mudarmos a nossa maneira de pensar que as coisas resolvem-se.
Na MTC a história é outra: as emoções não vêm de um regime cerebral “autoritário”, mas sim de uma “democracia” entre 5 elementos principais que lutam constantemente pela chegada ao poder. O estado de equilíbrio mental é atingido quando nenhum deles consegue ganhar vantagem sobre os outros. Um exemplo prático é a relação a nível emocional entre o Fígado (F) e o Baço-Pâncreas (BP): O F relaciona-se com a liberdade, a criatividade e o sonho, enquanto o BP se relaciona com a lógica, a “previsibilidade do futuro” e o controlo. Isto sugere um equilíbrio entre o controlo e a liberdade, o dever e a vontade, o que é uma questão por vezes difícil de gerir. Portanto, se o F falha nas suas funções, vamos ter um quadro de frustração, alguém que quer alguma coisa mas não a consegue ter (e.g. quero muito sair deste trabalho mas tenho contas a pagar); se, por outro lado, é o BP que falha nas suas funções, temos alguém que precisa de estar em controlo sobre tudo na sua vida sem haver espaço para o desconhecido (e.g. nunca irei mudar de trabalho porque eu conheço este e sei como funciona).
Em casos patológicos, admite-se que uma destas emoções ganhou controlo sobre as outras, situação que os clássicos referem como “possessão”. Estes casos são descritos como se o paciente mudasse de personalidade em pouco tempo, como é o caso de muitos quadros de depressão. Para patologias desta natureza, o processo de tratamento é teoricamente semelhante aos restantes: identificar o órgão afetado e a sua natureza (pela descrição da emoção + sintomas e sinais relevantes) e aplicar tratamento consoante o que se descobriu. Isto muitas vezes inclui não só tratamentos físicos – como acupuntura e moxabustão – mas também mudanças de hábitos alimentares e aconselhamento de estilo de vida.
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