Mais uma vez temos em mãos uma teoria da Medicina Tradicional Chinesa (MTC) que tem bases filosóficas mas que ainda assim é aplicável na prática clínica. Mas como é que passamos de um exercício puramente teórico – e há quem diga, até, esotérico – para uma prática real?
Como indicado na parte 1, os elementos estão associados a órgãos e vísceras, bem como a outros componentes. Em edições anteriores também já foi explicado que a noção de órgão na MTC é bem mais abrangente do que na medicina convencional.
Assim sendo, começamos a ter aqui uma base sólida para poder falar da fisiologia do corpo humano com base na MTC. Para isso, ainda é necessário juntar ao ciclo de geração (explicado na edição anterior) o ciclo de controlo, que diz que estes elementos, para além de se gerarem uns aos outros (Madeira, Fogo, Terra, Metal, Água), ainda se controlam mutuamente, de forma a que nenhum elemento fuja da sua normalidade e impeça um bom ciclo de geração.
Este controlo é feito da seguinte forma: a Madeira controla a Terra, a Terra controla a Água, a Água controla o Fogo, o Fogo controla o Metal, e o Metal controla a Madeira.
A compreensão deste ciclo é fulcral para a compreensão da doença pela MTC: se por alguma razão o elemento Madeira está exacerbado e o elemento Metal não o consegue controlar, é fácil entender qual será a consequência disso: por um lado, o elemento Fogo irá ter defeitos na sua geração e, por outro, o elemento Terra irá ter um mau controlo, o que frequentemente se traduz como um controlo excessivo (há quem traduza também como dominação). Assim sendo, quando um elemento falha no seu funcionamento normal, as consequências podem ser desastrosas.
Um exemplo simples do que sucede quando isto se traduz para os órgãos pode ser a afeção do Rim (Água) que, por alguma razão, deixa de ter capacidade na sua função de controlar os líquidos orgânicos, causando uma retenção de água, o que por sua vez leva a uma falha no controlo do Coração (Fogo), provocando uma disfunção – um dos sintomas mais comuns é precisamente as alterações à tensão arterial.
Este é mais um exemplo em que ambos os modelos teóricos ocidentais e orientais se cruzam, dado que a hipertensão arterial é explicada na medicina convencional com o sistema renina-angiotensina-aldosterona, uma conjugação química que está fortemente ligada ao órgão rim, dado que a renina é produzida diretamente pelo rim e a aldosterona pelo córtex suprarrenal, que naturalmente está incluído no conceito oriental do sistema Rim.
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