O aumento dos custos de produção do leite está a deixar o setor sem o rendimento necessário, levando ao abandono da atividade, preocupações que levaram na passada quinta-feira o secretário-geral do PCP a visitar uma vacaria em Valado de Santa Quitéria. Estima-se que nos dois últimos anos haja menos cerca de 500 produtores.
O custo das matérias-primas, rações e energia aumentou mas o preço a que os produtores vendem o leite não tem subido o suficiente para compensar as despesas. O desequilíbrio está a criar uma situação de asfixia, levando a pensar como vai ser a sobrevivência do setor.
“O leite deve ser dos poucos produtos agrícolas que nos últimos cinco meses o preço ao produtor baixou, com uma redução de onze cêntimos por litro – está em 46 ou 47 cêntimos, dependendo das empresas – mas nada se refletiu nos custos de produção que continuam caríssimos”, manifestouJorge Silva, presidente da Associação dos Produtores de Leite de Portugal (APROLEP) e proprietário da Vacaria e Queijaria Flor do Vale.
Segundo este responsável, “o custo de produção de uma vaca subiu cerca de 60% e neste momento ronda os 56 cêntimos, ou seja, vendemos o leite cerca de dez cêntimos abaixo do custo, daí que o futuro ninguém sabe o que vai acontecer”.
Em relação ao que paga o consumidor, “houve uma baixa de preço na prateleira com o IVA zero mas não tem havido uma diferença que justifique esta baixa de preço ao produtor”.
“O Governo tem de tomar uma atitude se quiser manter a produção nacional”, alertou Jorge Silva, fazendo notar que “as explorações são cada vez menos”. No seu entender, “tem de haver apoios para compensar as perdas” ou então “devia haver uma coordenação de distribuição de resultados”, isto porque “nas três fileiras – a produção, a indústria e a distribuição, a única com resultados negativos é a produção”.
O número de produtores tem vindo baixar todos os anos. No ano passado eram pouco mais de três mil. “Perdemos 250 e este ano calcula-se o mesmo”, vincou o dirigente da APROLEP.
Perante esta redução, o cenário de importação de leite não está afastado. “No dia em que houver necessidade, as coisas vão mudar na prateleira e a ideia de que o leite tem de ser um produto barato na prateleira vai acabar, porque depois vai ser ao preço que eles [os vendedores estrangeiros] quiserem”, destacou.
Valorizar o preço do leite vendido pelo produtor para pagar os custos de produção e diminuir as despesas da atividade, são ações que o PCP quer ver concretizadas para que o futuro do setor não fique comprometido, disse o secretário-geral do partido, Paulo Raimundo, que considerou que o Governo tem de tomar medidas.
O Governo “tem a obrigatoriedade de intervir em duas linhas: nos custos dos fatores de produção e na pressão política” no sentido de criar condições “para que o preço à produção seja mais elevado, o que obriga a fixar preços também do ponto de vista da distribuição”, disse Paulo Raimundo.
Sustentando a existência do risco de “mais tarde ou mais cedo” a única opção do setor ser “acabar com a produção”, apontou que o Governo “tem que intervir do ponto de vista dos combustíveis e fazer uma compra dos fatores de produção para vendê-los aos produtores a preços acessíveis”. Caso contrário, “as pessoas não aguentam mais e vai sobrar para todos”, produtores e consumidores.
A visita de Paulo Raimundo, integrada na iniciativa “Viver melhor na nossa terra”, centrou-se no tópico “Defender a Produção Leiteira”, indicando ter ouvido “um grito de desespero de quem aguenta a produção mesmo perdendo dinheiro”.
Defesa de salário mínimo em 910 euros
A Direção da Organização Regional de Leiria do PCP esteve na passada sexta-feira em várias empresas da região a estabelecer contactos com trabalhadores para esclarecer e mobilizá-los para a luta reivindicativa por melhores salários e condições de vida, quer nos locais de trabalho quer participando na Manifestação Nacional da CGTP-IN de dia 11 de novembro, em Lisboa e no Porto.
O partido defende o aumento geral dos salários em 15%, num mínimo de 150 euros, e a fixação do salário mínimo nacional em 910 euros em janeiro e 1000 euros ao longo de 2024.
Argumenta que o acordo, recentemente assinado na Concertação Social, entre as Confederações Patronais, a UGT e o Governo e os anúncios feitos pelo Governo na apresentação do Orçamento do Estado “não respondem à emergência do aumento geral dos salários para fazer face a uma inflação real muito superior aos aumentos”, apontando que “o aumento brutal do custo de vida para milhões de trabalhadores e suas famílias é a base de sustentação dos lucros colossais dos grandes grupos económicos, designadamente a banca”.
A ação do PCP “Basta de conversa – mais salários e pensões” passou pelas empresas Portrisa (Leiria), Santos Barosa (Marinha Grande), Atlantis (Alcobaça), Valbopan (Nazaré) e Promol (Caldas da Rainha), pelo porto de pesca de Peniche e pela Quinta da Freiria, no Bombarral.
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