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Caso de adolescente que matou a irmã abalou a cidade de Peniche

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Uma jovem de 19 anos foi assassinada pela irmã, três anos mais nova, na casa onde ambas viviam com o pai, no bairro da Fonte Boa, em Peniche. A autora confessa do crime vai aguardar o desenvolvimento do processo judicial em prisão preventiva.
Largada de balões no local onde o corpo tinha sido enterrado

Uma jovem de 19 anos foi assassinada pela irmã, três anos mais nova, na casa onde ambas viviam com o pai, no bairro da Fonte Boa, em Peniche. A autora confessa do crime vai aguardar o desenvolvimento do processo judicial em prisão preventiva.

Lara Pereira não era vista desde 14 de agosto. Foi por volta desse dia ou dia seguinte que foi morta, segundo a Polícia Judiciária. O desaparecimento foi comunicado pelo pai e pela irmã no dia 18 de agosto e tornou-se público dias depois quando outras familiares da jovem – uma prima e a mãe – difundiram apelos nas redes sociais.

No dia 8 de setembro, o Ministério Público de Peniche solicitou à Polícia Judiciária a realização de diligências, que foram efetuadas em Peniche, Caldas da Rainha e na zona da Grande Lisboa, despistando as informações obtidas das vivências da jovem dada como desaparecida e que indiciaram que a área da residência era onde estariam as respostas.

Foi assim que no dia 13 de setembro se procederam desde o início da manhã a “várias diligências de investigação junto dos familiares diretos, bem como à realização de vários exames e perícias pela Equipa do Local do Crime do Laboratório de Polícia Cientifica da Polícia Judiciária, resultando inequívoco que ocorrera uma morte violenta no domicílio da desaparecida”, relatou esta autoridade policial.

O comportamento da irmã menor durante as perícias em casa levantou suspeitas sobre o seu envolvimento no caso. A dada altura foram observados vestígios de sangue no colchão da cama da suspeita, que confrontada com a situação acabou por admitir a autoria do crime e revelar a localização do corpo da desaparecida. O cadáver foi encontrado ao final da tarde e a irmã da jovem assassinada foi detida.

“De toda a prova recolhida, concluiu-se que, por motivo fútil, utilizando arma branca, desferiu um número de facadas não apuradas, provocando a morte da irmã”, atingida na zona abdominal, referiu a Polícia Judiciária. Terá sido no quadro de um momento de raiva, na sequência de uma desavença por causa de um telemóvel da menor que a vítima tinha escondido. “A partir de uma pequena discussão deu-se uma tragédia”, manifestou o diretor do Departamento de Investigação Criminal de Leiria da Polícia Judiciária, Avelino Lima.

Apesar de descrever que “a arma do crime é uma faca perfeitamente comum de uso doméstico, revelou que “não foi localizada”.

Após o crime a menor ainda ocultou o corpo debaixo da sua cama durante três dias, antes de transportá-lo a coberto da noite, supostamente num carrinho de mão, para o terreno baldio arenoso a cerca de 130 metros, nas traseiras da habitação.

Escavou um buraco pouco profundo onde colocou o cadáver e tapou a cova, que ficaria dissimulada não fossem as diligências das autoridades policiais no sentido de apurar os contornos do desaparecimento da jovem.

Segundo Avelino Lima, perante todos os indícios recolhidos “não há suspeitas de envolvimento de mais ninguém”. A desproporção de tamanho entre as duas jovens (a vítima é anã) terá tornado possível que a mais nova tenha, sozinha, matado e enterrado Lara Pereira. Contudo, “a investigação ainda não está fechada”.

O diretor afirmou, em conferência de imprensa, que o pai não desconfiou da informação que foi prestada pela filha mais nova sobre a mais velha. A rapariga terá dito que a irmã se tinha deslocado para junto de um ex-namorado na zona de Lisboa, o que “perturbou a primeira interpretação dos factos”, tendo a menor “lavado o interior da casa para ocultar pistas”.

“A informação que lhe foi prestada tinha alguma credibilidade: uma jovem de 19 anos a deslocar-se para junto de um hipotético namorado não é um facto que merecesse, numa primeira abordagem, uma desconfiança”, disse.

Admitindo que um caso destes, pela idade da suspeita, é “completamente incomum”, Avelino Lima declarou ainda que as autoridades têm assistido “a uma grande intolerância dos jovens para com o confronto”, que passam “facilmente à violência”. “Basta ver a criminalidade com utilização de armas brancas associada à delinquência juvenil, por exemplo. Isto é algo sobre o qual devíamos todos refletir. A tolerância está a desaparecer da nossa juventude”, alertou.

Paulo Janardo, residente em Peniche e conhecedor da família, caraterizou a jovem assassinada como “uma rapariga pacata, que não fazia mal a ninguém”. Não acredita que o corpo tenha sido levado apenas pela detida para o terreno baldio e também não percebe como é que a situação passou despercebida da vizinhança, não só o transporte do cadáver como a escavação da cova, que pode ter sido feita ao longo de alguns dias.

O corpo da vítima foi exumado e levado para o Gabinete de Torres Vedras do Instituto Nacional de Medicina Legal e Ciências Forenses para ser realizada a autópsia.

A detida está indiciada por homicídio qualificado, pela perversidade e forma como foi cometido (punido entre 12 e 25 anos de prisão) e profanação de cadáver (punido até dois anos). Num futuro julgamento, a menor, que é imputável, por já ter 16 anos, poderá eventualmente beneficiar de um regime penal de jovens adultos delinquentes (16 a 21 anos), caso o tribunal não veja demonstradas razões sérias para crer que a atenuação especial não traz vantagens para a reinserção social da jovem.

Relação conflituosa

O crime inusitado chocou a população de Peniche, mas de acordo com os testemunhos de pessoas que conheciam a família, a relação entre as irmãs era conflituosa, com desavenças constantes. Contudo, as discussões não ultrapassariam os limites e não eram vistas como anormais, segundo a Polícia Judiciária.

A família já teria sido sinalizada pela Comissão de Proteção de Crianças e Jovens de Peniche, por ser “necessitada de apoio”, nomeadamente por uma situação financeira frágil e condições de vida de extrema miséria.

O anexo onde viviam as irmãs e o pai é pequeno e imundo. Com vários cães no interior, entretanto retirados, a casa tem dois quartos. Num deles dormiam as jovens em duas camas separadas.

O pai, Jorge Pereira, de 58 anos, sofreu três acidentes vasculares cerebrais (AVC) nos últimos tempos e apresenta-se debilitado, com dificuldades na fala e no andar. Apesar dos problemas na expressão, mostrou-se chocado com o crime, chorando pela situação ocorrida e referindo-se à filha detida como “assassina”.

Terá sido alvo de uma queixa-crime na PSP por agressão à filha menor à porta da escola que esta frequentava. A queixa foi arquivada mas a jovem estava sinalizada para no início do ano letivo que agora está a arrancar para ser examinada por um psicólogo.

A mãe, Marina Silva, de 35 anos, está separada de Jorge Pereira há alguns anos e não ficou com as filhas.

Suspeita em prisão preventiva

O Ministério Público das Caldas da Rainha anunciou que o inquérito encontra-se sujeito a segredo de justiça, mas revelou que irmã de Lara Pereira, apresentada a primeiro interrogatório judicial, na última sexta-feira, no Tribunal de Leiria “admitiu os factos que levaram à morte”, tal como havia feito aos inspetores do Departamento de Investigação Criminal de Leiria da Polícia Judiciária.

O juiz de Instrução Criminal decidiu aplicar à menor de 16 anos a medida cautelar de prisão preventiva, por considerar verificados “os perigos de perturbação grave da ordem e tranquilidade públicas e de continuação da atividade criminosa”.

A investigação prossegue a cargo da Policia Judiciária, sob direção do Ministério Público das Caldas da Rainha.

A decisão do Tribunal de Leiria de enviar a adolescente para o Estabelecimento Prisional de Tires, em prisão preventiva, enquanto aguarda o desenvolvimento do processo judicial, foi recebida com alívio em Peniche, onde é grande a indignação pelo crime macabro que ocorreu naquela cidade.

“A medida de coação é a mais adequada para as pessoas não se manifestarem contra ela e não haja justiça popular”, considerou Rui Correia, um dos populares que, chocado com tragédia, quis ver ao vivo o local onde Lara Pereira foi enterrada pela irmã, para tentar perceber os contornos do crime que têm sido descritos.

“Há sempre dúvidas e queremos chegar a vereditos depois de perceber como as coisas aconteceram e chegaram ao ponto de uma criança daquela idade matar a irmã”, manifestou.

Ivone Castro mostrou-se revoltada com o ato praticado e com a postura da suspeita. “Ela disse à boca cheia que a irmã se encontrava em Lisboa, mas afinal já estava morta. Quero que ela fique na prisão muitos anos, por aquilo que fez”, insurgiu-se.

A prisão preventiva aplicada “permite também que a investigação decorra sem perturbações, porque ainda há muito por explicar”, sustentou Joaquim Lopes, um dos populares que não acredita que a detida tenha transportado o cadáver sozinha desde a casa onde cometeu o crime até às traseiras da habitação onde enterrou corpo.

Há ainda muitas dúvidas por esclarecer, desde o paradeiro da faca utilizada no crime, se de facto utilizou um carrinho de mão para transportar o cadáver, se uma pá que se encontra no terreno baldio onde enterrou o corpo da irmã foi a usada para escavar o buraco, e se essas foram as ferramentas qual a razão de não terem sido apreendidas como provas, mas principalmente, e apesar de a Polícia Judiciária garantir que não houve participação de mais pessoas no crime, como foi possível ter havido uma única protagonista.

Funeral com apelo ao perdão

O último adeus a Lara Pereira foi acompanhado na passada segunda-feira no cemitério de Peniche por várias dezenas de pessoas, num ambiente marcado pelo choque e revolta com o crime cometido.

O padre Francisco Cambeje, que dirigiu as cerimónias fúnebres, sublinhou que o ato “abalou a sociedade de Peniche” e transmitiu à população “uma mensagem que convida à reconciliação e perdão e a sermos misericordiosos”, para além de “olhar para o seu próximo como uma preciosidade”.

Com a fotografia da amiga assassinada estampada numa t-shirt branca que usou e nas costas a inscrição “eterna saudade”, Tomás Vieira desabafou: “Ela não vai ficar esquecida, porque era de facto uma grande amiga e não merecia nada disto”.

“Não estávamos à espera de muitas pessoas, porque muita gente é hipócrita, mas os que aqui estiveram sabemos que verdadeiramente gostaram dela”, declarou Rute Delgado.

Alguns amigos e conhecidos da jovem assassinada já tinham homenageado Lara Pereira na última sexta-feira, lançando balões brancos com mensagens de amizade junto ao local onde o cadáver tinha sido enterrado.

Nessa ocasião foi também cumprido um minuto de silêncio, num momento curto mas simbólico, e foram igualmente deixadas algumas flores na cova onde o corpo tinha sido colocado pela irmã.

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