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“Presidentes de junta são os mais próximos das comunidades”

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O presidente da União de Freguesias de Caldas da Rainha, Santo Onofre e Serra do Bouro, Nuno Santos considera-se um “sonhador” e tem grandes “aspirações para o seu território”. Diz que o papel de uma presidente de Junta é “estar próximo da população”. Em entrevista ao JORNAL DAS CALDAS o presidente manifestou preocupação com “as poucas competências das freguesias” que estão “num patamar um pouco aquém daquilo que seria de esperar neste momento”.
Nuno Santos, presidente da União de Freguesias de Caldas da Rainha, Santo Onofre e Serra do Bouro

JORNAL DAS CALDAS – Nuno Santos foi apresentado em julho de 2021 como candidato do Movimento Vamos Mudar à União de Freguesias de Caldas da Rainha, Santo Onofre e Serra do Bouro. Ganhou as eleições autárquicas sendo a sua primeira vez num cargo político.  Como tem sido a sua experiência como presidente, ou seja, como foi mudar a sua vida para um cargo político?

Nuno Santos – Quando nunca tivemos uma experiência na vida política, idealizamos as coisas numa terminada forma e acabou por ser uma surpresa. Eu não tinha a noção que os presidentes de junta tinham tão pouco poder. As competências das freguesias estão num patamar um pouco aquém daquilo que seria de esperar neste momento.

Havia coisas que eu ansiava e que sonhava fazer. Agora reconheço que injustamente criticava os anteriores presidentes de junta e percebo que não faziam porque não tinham esse poder, ou seja, não tinham as condições para concretizar.

Não posso dizer que a minha vida pessoal se alterou muito porque quem conhece o meu passado sabe que passei por algumas comunidades terapêuticas, e vivi em comunidade algum tempo. Isso também me ajudou a preparar para um cargo deste e perceber que o importante aqui são as pessoas e não o Nuno Aleixo.

O mais importante não é ser presidente de junta, mas é nós conseguirmos neste cargo, fazer com que as pessoas tenham uma vida melhor e condições melhores para viver.

A minha forma de ser não mudou muito. Tinha um comércio em que estava presente no mesmo local todos os dias e agora ando de um lado para o outro. O contacto com as pessoas é sempre de uma forma aberta e sincera.

J.C. – Que balanço faz dos cerca de dois anos como presidente da União de Freguesias de Santo Onofre e Serra do Bouro?

N.S. – Em termos de obra física poderíamos ter feito mais. Muita coisa acaba por esbarrar no que é a competência da União de Freguesias.

As grandes obras acabam por ser neste caso felizmente as mesmas que a câmara como a nova passagem superior sobre o caminho-de-ferro, que ficará concluída até março de 2024 e o Parque 15 de Agosto. São obras do município, mas que nos agradam muito porque vai melhorar a qualidade de vida da população.

No nosso mandato, nestes primeiros dois anos conseguimos resolver o problema da antiga fábrica Placol no Bairro dos Arneiros em que a rua estava interrompida por um PT de eletricidade.

Conseguimos abrir a rua e que o espaço da antiga fábrica Placol fosse limpo e hoje serve de estacionamento para a população. Conseguimos também deslocar um posto de iluminação no meio de um passeio de 40 cm. São pequenas coisas que as pessoas não notam, mas que me motivam para continuar o meu trabalho porque fazem a diferença às pessoas. 

Recentemente foi inaugurada “A Viagem” que é o nome do monumento, da autoria de Carlos Enxuto, na Rotunda da Granja (Serra do Bouro). Foi uma obra encomendada pela União de Freguesias de Santo Onofre e Serra do Bouro que eu quis dedicar aos emigrantes, mas também aos imigrantes que têm vindo morar para esta freguesia.

 É bonito e pomposo e a localidade merece uma obra com aquela dimensão. No entanto as pessoas da freguesia com dificuldades financeiras continuam com necessidades. Há que saber lidar com essas situações e as críticas que possam surgir.  

J.C. – Lamenta que a situação do Centro de Juventude e o Teatro da Rainha ainda não estejam resolvidas? 

N.S. – Mesmo que não fosse presidente da União de Freguesias não me alegrava ver estas duas grandes obras paradas. 

No entanto sei que no novo concurso para finalizar as obras do Centro Juventude já houve um construtor que se apresentou o que é muito bom, porque no primeiro concurso não houve ninguém.

Quanto ao Teatro da Rainha estão a tentar fazer um novo projeto com custos mais baixos. 

Fico trise que no caso do Teatro da Rainha já se tenham gasto cerca de 750 mil euros e eventualmente não nasça a obra. Se não for o Teatro da Rainha que seja outra infraestrutura para a população, mas que aquela verba seja desperdiçada.

Gostava muito que o Skate Park fosse completamente requalificado e considero que o Gabinete da Juventude que foi inaugurado junto a esta infraestrutura foi muito positivo. É o local onde mais jovens reúnem diariamente e espontaneamente, foi uma ótima aposta.

J.C. – Quais as dificuldades que mais sentiu quando assumiu a função de presidente da União de Freguesias de Santos Onofre e Serra do Bouro?

N.S. – A minha maior dificuldade é não poder fazer mais pela população pela falta de competências da Junta de Freguesia. Por exemplo na área do trânsito, a União de Freguesia só tem autonomia para colocar espelhos. Tudo o que é sinalização e passadeiras passa pela autarquia.

Não me incomoda quando as pessoas da freguesia me abordam para falar das suas preocupações ou para reclamar de alguma questão. O presidente da Junta não consegue saber tudo que se passa no território e assim é uma forma de estar informado.  

J.C. – Qual a obra ou iniciativa que destaca o marcou mais?

N.S. – O que me marcou mais foi conseguir abrir o Espaço Leonel Miranda, pela pessoa que foi Leonel. Também pela proprietária do edifício, Teresa Miranda que é uma pessoa formidável. Queremos que seja um local aberto à comunidade e que ganhe vida e dinâmica à volta de eventos e da cultura. Uma Junta de Freguesia tem que estar próxima das pessoas.

O meu grande objetivo é que as pessoas um dia se lembrem de mim com um sorriso na cara, sinal que fiz o meu melhor.

J.C. – O que está a pensar fazer quanto ao embelezamento e manutenção da jardinagem da União de Freguesias de Caldas da Rainha, Santo Onofre e Serra do Bouro?

N.S. – Há uns anos ainda no mandato do meu amigo Jorge Varela eu criei uma página no Facebook que era o Chato do Muro. Eu passei cerca de dois anos sempre a colocar questões da freguesia menos positivas para chamar a atenção. Acredito que hoje também haja críticas nomeadamente à limpeza de vias e espaços públicos e ao corte das ervas. Tem sido muito complicado porque é uma freguesia muito extensa. O facto de utilizarmos herbicida acho que não é impeditivo de nos candidatarmos a Eco Freguesia. Mesmo assim as ervas crescem muito rapidamente. Estamos a pensar fazer mais contratação de pessoal para minimizar, mas é impossível que num determinado local na União de Freguesias não hajam ervas grandes. É um problema grande, temos que ser mais rápidos na manutenção

J:C. – É importante, a boa comunicação e a colaboração com a Câmara municipal das Caldas?

N.S. – Tenho um princípio que prezo muito que é a lealdade.  Sou muito amido do Sr. presidente Vitor Marques sou-lhe leal. As críticas que eu tenho que fazer normalmente é com ele. Irei defender sempre a União de Freguesias, mas não fazia sentido atracar o trabalho da câmara pela pessoa que é o presidente que não merece que lhe façam isso. Tenho uma boa relação com o município e acho importante a solidariedade institucional.

J.C. – É uma pessoa com qualidades humanas?

N.S. – A minha vida não é segredo estive em vários programas de televisão, sou um toxicodependente em recuperação e mesmo nesse período mais difícil sempre procurei as pessoas. Gosto de ser aceite e também que os outros se sintam bem. Considero que sou uma pessoa com qualidades humanas. Não foi fácil a minha vida, mas fui eu que escolhi esse caminho. Quem me conhece sabe que sou um choramingas porque me emociono facilmente. Por vezes consigo sentir a dor da outra pessoa.  Sou incapaz de ignorar uma pessoa em dificuldade e é isso que é o papel de um presidente de Junta de Freguesia. Mesmo que seja um assunto que não seja da competência da União de Freguesia as pessoas têm direito a uma resposta e a uma solução.

J.C. – Qual a grande obra que gostava de concretizar no se mandato?

N.S. – Eu sou um sonhador. Gostava de um dia conseguir incentivar alguém ou a União de Freguesias se tiver a possibilidade de criar um projeto para a reinserção das pessoas que precisam.  O foco será em potenciar a criação de respostas mais adequadas aos problemas sociais. Todos que andam na rua podem ter uma profissão, como pintar muros, canalização, cortar relva e ervas. Gostava de criar uma infraestrutura em que houvesse alojamento para essas pessoas e elas conseguissem trabalho. Todos merecem uma oportunidade, mas tem que ser responsabilizados pelas escolhas que fazem. Não temos que lhe dar o peixe o que é necessário é dar a cana e ensiná-los a pescar. 

Há pouco tempo morreram três pessoas que estavam em situação de sem-abrigo e sei que a câmara quis ajudá-los e eles rejeitaram. Não podemos obrigar as pessoas a aceitar um tratamento ou tipo de vida.

J,C. – Como vê o futuro das Caldas da Rainha?

N.S – Como eu disse, sou um sonhador. Se o Hospital novo do Oeste sair daqui, não acredito que vai ser um futuro negro. Não gosto de pintar quadro escuros. Se realmente o hospital for para o Bombarral, os caldenses vão conseguir desenvolver a cidade com criatividade e outros projetos.

J.C. – Daqui a dois anos é a sua aspiração voltar a candidatar-se?

N.S. – Ainda não tomei uma decisão. Se for convidado, gostava de continuar a estar próximo das pessoas.

J.C. – Uma mensagem aos fregueses?

N.S. – A maioria das queixas que recebemos tem a ver com a falta de civismo dos outros. Por exemplo há quem deixe o lixo fora do contentor. Apelo que pensem nos atos antes de os praticarem. Se todos trabalharem no mesmo sentido o concelho será melhor.

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