Cerca de três centenas de manifestantes vestidos de preto protestaram na manhã deste sábado em Caldas da Rainha contra o futuro encerramento dos serviços de urgência médico-cirúrgicos na sequência da decisão do ministro da saúde de construir o Hospital do Oeste no Bombarral. Edifícios municipais em todas as freguesias do concelho e alguns estabelecimentos comerciais na cidade ostentam faixas de luto e a estátua da rainha D. Leonor, que deu origem à localidade, foi tapada com panos pretos.
Os participantes na concentração de protesto apresentaram-se vestidos com uma ou mais peças de roupa negra e a Câmara distribuiu t-shirts com a inscrição “Eu luto pelo Hospital”.
A escolha do Largo da Rainha para o início do protesto não foi por acaso. Para além de ser uma zona de entrada e saída da cidade, com grande visibilidade, é ali que está instalada a estátua da rainha fundadora em 1485 do Hospital Termal, motivando o crescimento do burgo, que evoluiu para cidade, desde sempre ligada à área da saúde.
Houve um pequeno percurso pela zona central da cidade, com passagens na Rua Heróis da Grande Guerra, Rua das Montras, Praça da Fruta, Hospital Termal e Paços do Concelho, numa ação cívica para sensibilizar a população a abraçar esta causa, tendo ao longo do percurso sido distribuídos folhetos explicativos dos motivos da luta.
“É uma jornada de luto, que é também de luta pelo Hospital de Caldas da Rainha”, afirmou Vitor Marques, presidente da Câmara, que convocou a população para esta ação de protesto, sublinhando que “a decisão anunciada pelo ministro não se refere apenas à construção de um equipamento essencial fora de Caldas da Rainha”, uma vez que devido ao futuro equipamento a atual unidade hospitalar da cidade será reconvertida para prestar outros serviços de saúde ainda por definir mas não manterá as urgências médico-cirúrgicas.
A escolha do Bombarral “implica objetivamente o encerramento dos cuidados hospitalares” em Caldas da Rainha, sustentou o presidente da Câmara, vincando que é preciso perceber “o verdadeiro alcance e as consequências reais da decisão de construção do novo Hospital do Oeste no Bombarral”.
“Não posso aceitar uma decisão que vai claramente contra os interesses da população que me elegeu e que o concelho fique sem hospital”, manifestou Vitor Marques, que recusa aceitar “a delapidação de um território que teve na sua essência a saúde para se criar um novo território”.
No entendimento da autarquia, a localização no Bombarral “contraria o Plano Regional de Ordenamento do Território (PROT)”, que estipula que um hospital de grande dimensão só pode ser construído em centros urbanos regionais – no caso do Oeste, Caldas da Rainha e Torres Vedras.
Por outro lado, o autarca não tem dúvidas dos “efeitos económicos e sociais profundamente negativos que se abaterão sobre o concelho, que nenhuma medida compensatória poderá aliviar”.
O presidente da Câmara garantiu que o Município “vai lutar até ao último dia pelo Hospital de Caldas da Rainha e por cuidados de saúde de qualidade para os caldenses, com a garantia de que todos estão cobertos por cuidados hospitalares de proximidade, e que uma decisão do Estado Central não vai deixar uma onda de devastação social e económica no concelho”.
“Caldas da Rainha tem um hospital há muitos anos e construiu a economia e a comunidade à volta dele”, sublinhou Caterina Emilio, uma das participantes na manifestação, que acha que com a localização escolhida pelo ministro vai ser difícil captar profissionais de saúde porque “o Bombarral não reúne condições para cativar médicos”.
“O Bombarral não terá condições para alojar todas as infraestruturas à volta do hospital como tem Caldas da Rainha”, declarou também Sobreiro Duarte.
Estão a ser preparadas mais ações de luta. No dia 11 de julho, pelas 20h30, realiza-se no Grande Auditório do Centro Cultural e de Congressos uma Assembleia Municipal extraordinária aberta à participação da população e que tem como ponto único o Hospital do Oeste.
A Câmara pretende, entretanto, entregar ao Presidente da República, ao Primeiro-Ministro, à ministra da Coesão Territorial e à presidente da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Territorial do Centro “uma avaliação do relatório” do grupo de trabalho formado pelo Ministério da Saúde e que serviu de base à decisão do ministro. Foi solicitado um parecer técnico à equipa da Universidade de Aveiro que elaborou um estudo sobre a localização do hospital apresentado pelas câmaras de Caldas da Rainha e de Óbidos.
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