Criar mais eventos para atrair pessoas ao concelho, fazer da avenida 1º de Maio um polo de atração com vários restaurantes e cafés de qualidade, promover a codorniz do Landal com mais festivais e realizar a terceira edição da mostra Gastronómica da Tronchuda (couve). Estas foram algumas das ideias apontadas pelos empresários da restauração como meio de melhorar a atratividade das Caldas da Rainha.
“O Futuro da Restauração: Concorrência ou Aliados?”, foi o mote para a segunda tertúlia de uma série de doze com que a ACCCRO – Associação Empresarial das Caldas da Rainha e Oeste está a assinalar o 120º aniversário. A iniciativa juntou no passado domingo, na Galeria do Turismo das Caldas da Rainha, várias pessoas ligadas à restauração para discutir as questões que os preocupam em relação ao futuro dos seus negócios.
Além dos doze empresários convidados pela ACCCRO para falar dos seus restaurantes, a sala da Galeria do Turismo encheu de pessoas, algumas delas também ligadas ao ramo, que quiseram assistir à tertúlia.
Ao longo da sessão, que contou com a presença do presidente da Câmara das Caldas, Vitor Marques, foram elencados alguns dos problemas com que os restaurantes caldenses se debatem na atualidade, como a falta de mão de obra qualificada, ausência de habitação para os imigrantes que querem trabalhar nas Caldas, insegurança na cidade, falta de eventos e o facto da restauração ser das atividades com mais sobrecarregadas com taxas e impostos além da pressão inflacionista que impede que se pague salários mais altos aos empregados.
Os empresários falaram da necessidade de uma política concreta para as Caldas da Rainha não só ao nível da atratividade turística, grande motor da restauração, mas também ao nível do investimento dos próprios estabelecimentos, com intuito de ficarem mais emblemáticos e diferenciadores.
A tertúlia foi moderada pelo diretor da Escola de Hotelaria e Turismo do Oeste (EHTO), Daniel Pinto, que relatou que os alunos de cozinha e de serviço de mesa terminam os cursos e vão trabalhar para restaurantes com estrelas Michelin ou grandes hotéis no estrangeiro, o que dificulta mais a falta de mão de obra qualificada.
Daniel Pinto disse que o restaurante deve ser “um posto de turismo e daí a importância de haver formação de cozinha, bar, padaria, história, cultura e património”. “O turista quando visita uma cidade o primeiro contacto que tem é num restaurante e é onde muitas vezes questiona sobre o que se pode fazer no local”, relatou, considerando que o espaço de restauração deve ter a preocupação de “ter a sua equipa orientada para dar uma boa resposta”.
O presidente da ACCCRO, Luis Gomes, que abriu a sessão, destacou a necessidade de haver uma estratégia de desenvolvimento aproveitando a centralidade e “traçar uma estratégia de promoção, coesão, inclusão, progresso e capacitação deste território”.
O responsável criticou o facto de no domingo, nas Caldas, nomeadamente no centro da cidade, os cafés e restaurantes estarem encerrados, o que prejudica os turistas que vêm ao concelho no fim de semana.
Lançando o mote para a discussão, Ilda Cruz, em representação do Turismo do Centro, disse que o restaurante tem de proporcionar uma “experiência criativa ao cliente”. Falou também da necessidade de adaptar a ementa aos produtos endógenos da região.
Desafiou os empresários ligados ao ramo para aproveitarem o Festival Internacional de Cinema e Turismo, que vai decorrer este ano nas Caldas da Rainha, entre os dias 24 e 27 de outubro. “Juntem-se e façam algo diferente para receber os realizadores, entre outras individualidades que vão estar nas Caldas naqueles quatro dias”, referiu.
José Eloi, responsável pelo restaurante Maratona, incitou a ACCCRO a desenvolver a 3ª Mostra Gastronómica da Tronchuda, onde o elemento comum é a couve e cada restaurante a pode converter em entrada ou sobremesa, doce ou salgado, peixe ou carne e vegetariano, de acordo com a criatividade de cada autor. Um projeto que terminou e considera ter sido um “sucesso”.
Paulo Santos, proprietário do Restaurante Trigo & Bolota, que também é formador na EHTO, falou da dificuldade em ter mão de obra qualificada, nomeadamente ao domingo, onde ninguém já quer trabalhar.
A matemática e a folha de Excel são também pratos do dia deste empresário, que defende a criação de acordos para o pagamento dos impostos (IRC, IVA) e segurança social que permitam ter mais verba para pagar mais aos colaboradores e também para investir na inovação e publicidade.
“Caldas tem o período antes e após a Green Hill”
Ricardo Figueiredo, dono do restaurante Cocos, também partilhou a dificuldade que tem em contratar pessoas, nomeadamente no verão, onde já chegou a encerrar o seu espaço para poder dar folgas aos seus empregados. Considera que a tecnologia “vai-nos levar à falência”, defendendo um contacto direto e mais humanizado com os clientes para “falar da ementa e dar sugestões”. “O melhor triunfo é ter um sorriso na cara e comida boa, proporcionando à pessoa uma experiência diferente”, adiantou.
Referiu ainda que Caldas tem o período antes e depois da Discoteca Green Hill e que “foi a autarquia que acabou com a vida noturna no concelho”.
Tatiana Henriques, responsável pelo restaurante Coletivo, falou da dificuldade de arranjar pessoas para trabalhar ao domingo, revelando que “na pandemia as pessoas habituaram-se a estar em casa e o domingo é sagrado”. Considera que numa cidade tão pequena não faz sentido “sermos concorrentes”, defendendo “um mercado de partilha onde podem combinar encerrar em dias diferentes”.
Pedro Felner, proprietário do restaurante Maria dos Cacos, disse que “a concorrência diferenciadora no mercado traz mais pessoas à cidade”. Considera que as Caldas têm potencial pela sua centralidade a dez minutos de Óbidos e a 25 minutos da Nazaré e que se pode tornar uma cidade mais cosmopolita.
O responsável pelo restaurante Geo Wine & Supra, Archil Shinjikashvili, também se queixou da falta de mão de obra e defendeu mais eventos para atrair pessoas.
Tem a opinião que a concorrência com nível é uma forma de atrair mais pessoas. “Eu quero muitos restaurantes à minha volta, mas bons com qualidade”, relatou.
Hugo Bingre, dono da hamburgueria A Casa do Bingre, afirmou que está cansado de ser praticamente o único estabelecimento de restauração a trabalhar ao domingo. Defendeu para a Avenida 1.º de Maio uma rua tranquila, mas animada, cheia de restaurantes, de forma a ser um local de atração da cidade.
Habitações a custos controlados
O presidente da câmara das Caldas reconheceu alguns problemas no concelho de falta de mão de obra, que é transversal a outros setores.
Revelou a candidatura a Cidade Europeia do Desporto 2027, uma grande novidade no âmbito do desporto que a autarquia pretende concretizar, que é uma forma de captar pessoas. “Queremos captar mais visitantes, mas para isso é preciso termos condições com mais oferta, restauração e serviços abertos”, apontou.
Segundo Vitor Marques, o maior problema nas Caldas da Rainha é a “habitação”. Revelou que o município já tem uma medida para combater a crise habitacional, direcionada aos jovens, parte da população que mais dificuldade tem em arrendar casa. Trata-se de Habitações a Custos Controlados (HCC), anunciando que a Câmara adquiriu três prédios (um é do Estado) que vão requalificar para HCC.
O presidente da ACCCRO destacou que esta tertúlia ao domingo foi bastante participada, com a presença de cerca de 40 pessoas, salientando que houve um sentimento generalizado dos empresários que “Caldas está morta e precisa de uma estratégia para captar população”. Defendeu que o turismo de eventos, se for bem planeado e organizado, pode influenciar positivamente a imagem das Caldas da Rainha.
Luís Gomes falou ainda da falta de vida noturna, nomeadamente para os jovens, daí que a próxima tertúlia terá lugar a 26 de março, no Museu de Ciclismo, com o tema da diversão à noite nas Caldas da Rainha.
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