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Aporofobia — desprezo pelos pobres — e a democracia radical

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O termo “aporofobia” foi cunhado pela filósofa espanhola Adela Cortina, para designar desprezo ou aversão aos pobres. Adela Cortina diz que é importante que as palavras transformem a realidade e que o desprezo pelo pobre tenha um nome, que haja uma palavra para o designar, para que o possamos reconhecer.

Já havia a palavra “xenofobia” para falar da aversão aos estrangeiros, mas não havia uma palavra para falar desse nível de sentimentos pelos pobres. Adela Cortina procurou no dicionário de grego e percebeu que áporos é quem não tem possibilidades, quem não tem meios, e criou a palavra “aporofobia” para que nos interrogássemos se estamos de acordo em desprezar os pobres ou se nos parece que isso é contrário à dignidade humana e à democracia.

Adela Cortina salienta que os pobres não são necessariamente os migrantes. Mas vemos muitos sem-abrigo de África e do Sul da Ásia e muitos casos de exploração laboral de asiáticos e de africanos. Há, portanto, relação entre os conceitos de migração, aporofobia e cor da pele. A relação da migração e da aporofobia é uma questão de injustiça e imprudência. Precisamos dos imigrantes. Desprezar os imigrantes pobres, por serem pobres, é injusto, imprudente e uma estupidez.

A aporofobia leva Adela Cortina a pensar que há urgência em falar radicalmente de democracia, porque é preciso ir à raiz. O senso comum diz-nos que “radical” é algo mau. O “moderado” é que é o bom. Na política, fala-se de radicais para designar pessoas extremistas. Ora, radical significa ir à raiz. A democracia, quando vamos à raiz, é a doutrina política que se ocupa da maneira como as pessoas podem realizar as suas vidas como seres autónomos. Ser radical não é mau, porque é necessário ir à raiz das coisas, caso contrário não sabemos do que estamos a falar. A democracia tem de ser radical, tem de ir à raiz — que são as pessoas. As democracias não se estão a ocupar das pessoas tanto como deviam, porque se dispersam por mil outras coisas, e é preciso praticar a democracia radical, a democracia de pessoas donas de si mesmas e não escravas, pessoas autónomas na relação com os outros cidadãos, porque as pessoas cumprem-se em solidariedade com os outros. E construir a autonomia e a solidariedade de uma forma conjugada é ir à raiz da democracia, é ser radical.

Adela Cortina considera que a sociedade no seu conjunto perdeu a vontade de reconstruir o que sonhámos num determinado momento, que era essa democracia radical, uma democracia que se ocupasse dos direitos das pessoas, dos direitos civis, políticos, económicos, sociais, culturais.

A democracia está em risco porque cada vez mais gente prefere a segurança em vez da liberdade, cada vez mais gente prefere o bem-estar em vez da justiça, cada vez mais gente prefere estar confortável em vez de se preocupar. Há cada vez mais sociedades que foram democráticas e que passaram a ser governadas por autocratas. As pessoas estão a pôr-se nas mãos de autocratas.

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