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Neste país de emigrantes

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Os extremistas apenas conseguem entender o mundo numa qualquer dimensão básica e optam por se limitar nessa borda exígua. Como é da natureza dos limitados limitar, não descansam enquanto não confinarem os demais à sua estreiteza de vistas.

Os extremistas apenas conseguem entender o mundo numa qualquer dimensão básica e optam por se limitar nessa borda exígua. Como é da natureza dos limitados limitar, não descansam enquanto não confinarem os demais à sua estreiteza de vistas.

A extrema-direita portuguesa acantona-se na ideia de nação. O conceito de nação pressupõe uma comunidade de indivíduos com a mesma etnia, religião, língua e cultura. É uma ideia redutora, funesta, cerne de todas as guerras, própria de gente que gosta de excluir e limitar os outros.

Em Portugal, os racistas e xenófobos, que aviltam a bandeira nacional exibindo-a como símbolo das suas ideias excludentes, demonstram não saber o que é Portugal, ao não perceber a dimensão da estupidez de frases como «Sair à rua para a grande reconquista da nossa identidade, só nossa, só nossa», proferida pelo seu histrião-mor, a espumar e aos berros, numa praça central do país, na tarde de domingo de 29 de Setembro, perante uma turbamulta ululante, com neonazis à mistura.

Um grupo dessa vergonhosa manifestação deu-se ao trabalho e à despesa de vir de Santo Tirso, para exibir uma faixa proclamando “Contra a invasão, a defesa da nação”, entre inúmeras outras do mesmo jaez. E o histrião-mor foi repetindo «Em Portugal, mandamos nós», referindo-se a si e aos que o acolitavam naquele sinistro ajuntamento, e que se o país não mudar a seu favor, eles mudarão o país.

Como é possível proferir ameaças destas, de microfone na mão, à luz do dia, de cima de um palanque, em pleno Rossio? Gente desta usa a generosidade plural do sistema democrático para propagar o discurso ascoroso e instigar sentimentos antidemocráticos, odiosos e irracionais. Acontece que, em Portugal, a maioria de “nós” escolheu a democracia, que rejeita mandões e arbitrariedades.

No meio do transe xenófobo e racista, lá veio o exaltar da nação, o grande argumento ideológico que exclui imigrantes, sobretudo não-brancos — trata-se, afinal, de etnonacionalismo raivoso de quem tiver pele escura. Que país idealiza esta gente, ao associar, com base em racismo e mentiras boçais, criminalidade, desemprego e usurpação de prestações sociais, a quem não for português branco? Será que esta gente não usufrui dos serviços de imigrantes? Será que esta gente não tem familiares que emigraram em busca de melhores condições de vida?

A pedido do Jornal Público, a socióloga Catarina Reis Oliveira analisou os dados dos crimes registados pelas autoridades, publicados pela Direcção-Geral da Política da Justiça, e cruzou-os com os números da imigração.

Verificou que a criminalidade desceu nos municípios que passaram a ter maior número absoluto de estrangeiros; por outro lado, o rácio de crimes por total de residentes é mais baixo em municípios onde a população estrangeira é maior. Os exemplos mais expressivos são os municípios de Lisboa, Porto, Vila do Bispo e Odemira. O único aumento de criminalidade que se regista nestes municípios é de crimes contra os imigrantes, sobretudo no Porto…

Um outro estudo recente, este da Faculdade de Economia do Porto, divulgado online pelo Eco, jornal digital de Economia, sob o título “Economia e empresas — tendências, perspectivas e propostas”, refere que Portugal, para crescer 3% ou mais ao ano e entrar no grupo dos países europeus mais ricos, precisa de atrair e reter muitos mais imigrantes. Também refuta a ideia falsa de que são os imigrantes a empurrar os portugueses para a emigração, demonstrando que a integração de estrangeiros alarga de forma sustentada o mercado interno e as oportunidades de investimento e emprego para todos, além do contributo positivo para a Segurança Social.

Os patrões portugueses também tendem a considerar que fechar as portas à imigração seria devastador para a nossa economia, pois os imigrantes representam cerca de um quarto da força de trabalho e nalguns sectores quase metade. Nesse sentido, ao jornal Diário de Notícias,o director da Faculdade de Economia da Universidade do Porto, Óscar Afonso, explicou que será necessário manter uma cadência de entradas de 138 mil imigrantes por ano.

O discurso da extrema-direita não tem respaldo na realidade e é prejudicial ao país. Desmontar os mitos desse discurso de ódio é um dever de cidadania essencial para dissolver os preconceitos contra os imigrantes. Como nos diz a socióloga Catarina Reis Oliveira no seu estudo, o verdadeiro desafio está em garantir que os imigrantes, que já contribuem significativamente para o país, sejam integrados de maneira justa e equitativa, com direitos e deveres bem estabelecidos.

Escrevo segundo o anterior acordo ortográfico.

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