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Cuidados de Saúde no Oeste

Análise sobre grávida que sofreu um aborto espontâneo em casa e viu recusado atendimento no Hospital das Caldas

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Cuidados de Saúde no Oeste Faz uma semana e meia que os noticiários nacionais foram invadidos pela notícia de uma grávida que, tendo sofrido um aborto espontâneo em casa, viu recusado atendimento no Hospital das Caldas da Rainha. Já é tempo suficiente para se poder fazer uma análise mais distanciada e racional e, dessa forma, […]
Médico - Assistente Hospitalar Graduado Sénior de Gastrenterologia Presidente do Conselho da Sub-Região Oeste da Ordem dos Médicos

Cuidados de Saúde no Oeste

Faz uma semana e meia que os noticiários nacionais foram invadidos pela notícia de uma grávida que, tendo sofrido um aborto espontâneo em casa, viu recusado atendimento no Hospital das Caldas da Rainha. Já é tempo suficiente para se poder fazer uma análise mais distanciada e racional e, dessa forma, contribuir para uma reflexão séria sobre o assunto dos cuidados hospitalares no País e nomeadamente no Oeste.

Com recurso aos diferentes canais de comunicação que desenvolveram a notícia, comecemos por tentar reproduzir os factos, o mais fielmente possível: uma mulher de 31 anos, grávida de 3 meses, sentiu-se mal durante a noite de 04 para 05 de agosto e, pela madrugada, percebeu que estava a sofrer um aborto. Tratava-se duma gravidez desejada, mas não vigiada, pelo facto de ser uma cidadã estrangeira, sem autorização de residência e, por esse motivo, lhe ter sido recusada, um mês antes, consulta de acompanhamento no centro de saúde da sua área. Consumado irremediavelmente o aborto, colocou o feto num saco e, perante a ocorrência de hemorragias, resolveu procurar ajuda médica.

A Maternidade mais perto (a cerca de 40km), e da qual tinha boas referências através de amigos, era a de Caldas da Rainha. Foi para lá que se dirigiu, com o marido, em carro próprio, sem antes ter contactado o 112 ou o SNS 24. Lá chegados, por volta das 07:15, foram informados, presumivelmente pelo segurança, que a Obstetrícia estava fechada, conforme se poderia constatar pelo cartaz afixado à porta da Urgência, e que teriam que procurar outro hospital, sendo aconselhados a seguir as indicações do cartaz. “Se está grávida, ligue sempre SNS 24 antes de ir às urgências.”

Na sequência do contacto telefónico realizado pelo casal, provavelmente para o 112, foi acionada uma ambulância dos Bombeiros Voluntários das Caldas da Rainha para, segundo as indicações do CODU, transportar a doente para a Maternidade Bissaya Barreto, em Coimbra, a 130km de distância. Já no local (estacionamento do Hospital), os bombeiros terão manifestado resistência a uma tão grande deslocação, considerando igualmente a situação clínica da doente. Pelas 07:47 o CODU contactou diretamente o Hospital para que a doente fosse clinicamente avaliada, previamente a uma eventual deslocação. A médica obstetra, que se encontrava apenas de urgência interna, aceitou de imediato observar a doente, tendo a ficha de inscrição sido registada às 08:04. A doente recebeu os cuidados necessários e teve alta no dia seguinte.

Todo este episódio daria direito a várias linhas de reflexão, considerando os seus contornos, mas não deixa de ser lamentável o que aconteceu a esta doente. Infelizmente, assistimos de imediato a juízos apressados e a julgamentos sumários implacáveis, injustos, fazendo refletir uma imagem negativa, imerecida, da Instituição.

A Maternidade, que sofreu obras recentes de melhoramento, com dinheiros do Estado e da Autarquia (que contribuiu com a maior fatia), não tem médicos suficientes, é certo, mas tem excelentes profissionais e não merece esta publicidade negativa.

Um dos jornais locais, referindo-se ao episódio, lembra a falta que faz o Sr. Chico, o porteiro da urgência do Hospital de há algumas décadas, que “tudo ajudava a resolver com o seu bom-senso”. Não duvido do valor do Sr. Chico e ainda menos da importância do bom senso. Mas, no tempo do Sr. Chico não havia linhas do SNS-24 e menos ainda do SNS Grávida. Os tempos são outros, as exigências são outras. Agora há planos de contingência. Na altura não deixaria de haver contingências, mas não havia planos. Na verdade, agora há-os, ainda que nem sempre bons.

Considerando a escassez de recursos humanos médicos na área de Obstetrícia a nível nacional alguma coisa deve ser feita. Já outros, mais qualificados, apontaram caminhos. Será possível reduzir equipas sem prejudicar a qualidade de assistência? Será possível reduzir o número de portas abertas sem prejudicar o acesso? Entre Lisboa e Leiria (ou Coimbra) é importante investir na atração de recursos humanos para a Maternidade de Caldas da Rainha, uma vez que o investimento na estrutura física já foi feito.

E enquanto se fala do episódio da grávida esquece-se, por exemplo, o encerramento da Unidade de Cirurgia do Cancro da Mama, já desde abril, com prejuízo manifesto para as utentes da região e a própria diferenciação do Hospital. Esperemos que o bom-senso também não ande arredado da Direção Executiva do SNS! Alegar, para se deixar de fazer este tipo de intervenções, números relativamente baixos de cirurgias por ano não chega, considerando que há, nesta área especifica, capacidade instalada, recursos humanos médicos qualificados, equipamentos adequados e equipas experientes. Neste campo particular, há também que pedir maior empenho à Gestão hospitalar local com o desenvolvimento de novas estratégias, uma vez que, se todos os casos de cancro da mama diagnosticados na área da ULS do Oeste fossem operados localmente, na Unidade de Caldas da Rainha, o número de cirurgias indicadas pela DE-SNS seria largamente ultrapassado, sem necessidade de outras avaliações.

Estas e muitas outras vicissitudes dos cuidados de saúde no Oeste, nomeadamente a incapacidade absoluta de manter permanentemente completos os recursos humanos de duas urgências médico-cirúrgicas e uma básica nesta região, conduzem à conclusão com que finalmente todas as forças políticas concordam: a necessidade de construção dum Novo Hospital no Oeste, corretamente dimensionado, diferenciado, moderno, suficientemente equipado e atrativo para os novos médicos.

O edificado deverá ter preocupações com a eficiência energética e neutralidade carbónica e a sua localização deve ter em conta as necessidades das populações desta vasta região entre Lisboa e Leiria, optando-se por terreno sem declive, junto a um nó rodoviário, abrindo portas para norte, sul, este e oeste, junto a linha férrea e próximo de infraestruturas urbanas adequadas.

António Curado,

Médico  – Assistente Hospitalar Graduado Sénior de Gastrenterologia

Presidente do Conselho da Sub-Região Oeste da Ordem dos Médicos

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