A peça de cerâmica retrata o Zé Povinho a segurar a bandeira portuguesa e na bandeira tem escrito a data de 5 de outubro de 1910, uma peça que possivelmente foi “lançada pela implementação da República Portuguesa”, disse Nuno da Silva, que está a fazer uma investigação sobre a obra e que ainda terá que ser restaurada.
No leilão que realizou a 7 de abril de antiguidades e objetos de decoração, a Leiloeira Domusarte vendeu à Presidência da República um raro lenço onde os motivos de toda a composição são uma espécie de síntese dos factos e símbolos que marcaram o primeiro ano de vida da República Portuguesa.
“Este lenço, adquirido recentemente e que já faz parte da coleção do Museu da Presidência da República (MPR), tem estampado os primeiros governantes da República Portuguesa (1910-1911), o presidente Manuel de Arriaga no topo e em baixo os membros do governo e seus cargos do século XX com o diâmetro de 44 cmx 43cm.
Segundo o leiloeiro, “o lenço foi-nos consignado para venda de um comerciante, que encontrou o lenço no âmbito de uma avaliação do recheio de um palacete em Santarém”. Apresenta um bom estado de conservação e no centro do desenho lê-se “1910 – 5 D’Outubro – 1911”.
No meio do lenço está estampada a habitual personificação da República – uma mulher vitoriosa – ladeada pela nova bandeira nacional. Sobre esta, o primeiro presidente, eleito a 24 de agosto de 1911, Manuel de Arriaga, envolto numa coroa.
Segundo está escrito nas redes sociais do MPR, à esquerda e à direita, na parte “superior do desenho, há dois dos navios que foram determinantes para a vitória do novo regime, na madrugada de 4 para 5 de outubro de 1910, o “Adamastor” e o “São Rafael”, comandados respetivamente pelos segundos tenentes José Mendes Cabeçadas e Tito de Morais”. Na base da composição, representam-se os combatentes vitoriosos da Rotunda (Lisboa): forças da Artilharia, da Infantaria, da Marinha e muitos civis corajosos.
No leilão, Nuno da Silva também tinha obras de Antonio Tapies, Eduardo Chillida e arte de Man Ray (1890-1976), um fotógrafo, pintor e cineasta norte-americano e um dos mais destacados artistas do Dadaísmo e do Surrealismo, movimentos de vanguarda. As peças “são de uma cliente estrangeira que vive em Portugal e que é uma grade colecionadora destas obras de arte e quis vender algumas”, contou.
O leiloeiro, que é natural do Bombarral e iniciou o ramo em 1998 com a comercialização de antiguidades na Alemanha, onde também já fazia avaliações como avaliador independente, para algumas leiloeiras. Em 2005 voltou para Portugal continuando a exercer a mesma actividade de compra e venda de antiguidades.
A sua paixão e conhecimento pelas antiguidades, velharias e o colecionismo fez com que enveredasse pelos leilões. Desde novembro de 2021 que tem a licença de leiloeiro, o que lhe permite executar leilões de todo o tipo de bens, desde recheios de casa, obras de arte e antiguidades e também de massa de insolvências e falências.
Apostou num espaço nas Caldas da Rainha (Rua Garcia de Resende, 14 A) perto da Biblioteca Municipal, que adquiriu e onde realiza as exposições para os leilões. É também nas instalações das Caldas que são efetuadas as recolhas pelos compradores e onde no futuro também serão realizados leilões presenciais.
Embora tenha autorização para venda de todo o tipo de ramo, o foco principal é na venda de antiguidades, obras e objetos de arte, recheios de casa e todo o tipo de objetos do mundo do colecionismo através da realização de leilões live/online que são anunciados no site: www.domusarte.pt.
“O leilão é como se fosse presencial. Só que o cliente não está presente nas nossas instalações, mas em casa, uma vez que o leilão é transmitido ao vivo no nosso site e outras plataformas internacionais, como para a Drouot de França, que tem 6 milhões de pessoas registadas e para a Bidspirit, onde o cliente pode licitar no momento que a peça vai à praça”, explicou Nuno da Silva.
Os leilões são precedidos de uma exposição
Os leilões são precedidos de uma exposição das peças nas instalações ou em caso de venda de recheios de casa, nos locais anunciados no site. “Os clientes neste momento só vêm às nossas instalações para ver a exposição ou para levantar as peças compradas, mas estamos a requalificar o espaço para que até o final do ano possamos realizar leilões presenciais”, adiantou o responsável.
A equipa da Leiloeira Domusarte é composta por uma rede de especialistas nos diversos ramos, que “nos completam nas avaliações de peças onde não me sinto muito familiar”, referiu, acrescentando que “nos dias de leilão são três profissionais com experiência no ramo a realizar o leilão. “A nossa capacidade já esta a chegar ao limite e já começam a ser poucos para o volume de trabalho que tenho”, apontou.
Segundo o leiloeiro, o que envolve mais trabalho é fazer a inventariação das peças, as descrições, as fotografias e introduzi-las no sistema. “Quando consignam as peças para leilão somos obrigados a fazer os mapas onde são referenciadas todas as peças que entram para serem vendidas em leilão. Estes mapas são enviados para a Polícia Judiciária semanalmente e durante vinte dias não podem ser comercializadas porque é o tempo de quarentena que têm para ver se eventualmente existe algum material roubado, o que é uma garantia para o cliente”, relatou o responsável.
Para conseguir manter a organização das “milhares de peças que entram nas instalações e em que cada uma tem o seu dono é indispensável uma gestão com sistema de código de barras”, referiu.
Nuno da Silva é já conhecido a nível nacional e internacional no mercado das antiguidades e é solicitado para fazer várias avaliações de recheios de casas, partilhas de heranças, avaliações para companhias de seguros. “Normalmente devido ao falecimento de familiares e porque querem vender as casas e precisam primeiro retirar todos os bens da casa, e para esses fins somos contactados para fazer a avaliação dos recheios”, explicou, revelando que são quase sempre artigos de herança. “Acontecem-nos muitas vezes também situações engraçadas, como por exemplo o cliente nos ligar a dizer que tem uma Nossa Senhora de Fátima em madeira do século XIX, quando a aparição foi no século XX, ou nós entrarmos numa casa e o cão de estimação bebe água de uma “tijela” em porcelana chinesa do século XVII, a mesma que depois num leilão é vendida por milhares de euros”, relatou.
A visita a casa dos clientes é para Nuno da Silva “a parte mais gira deste negócio”.
“Independentemente dos clientes particulares também já temos alguns clientes-fornecedores que andam à procura de peças interessantes pelo pais e mundo, para depois nos consignar para serem leiloados”, adiantou.
“Elaboramos por cada leilão um catálogo virtual, o qual ficará à disposição dos interessados alguns dias antes do início do leilão, com a descrição dos lotes que o compõem e o preço base de licitação”, indicou.
Segundo o responsável, cada leilão tem “material diferente e estamos a apostar muito no mercado internacional nomeadamente nas porcelanas chinesas e europeias, pintura, esculturas por exemplo”.
Leilão com o tema das caldas da Rainha
O leiloeiro gostava de organizar um leilão com o tema das Caldas da Rainha, principalmente com peças das fábricas de faiança, como de Rafael Bordallo Pinheiro, Secla, Manuel Mafra, José Alves Cunha, Ferreira da Silva, Hansi Stael, entre outros ceramistas, escultores e pinturas sobre azulejos”.
Desafia a quem tiver peças fabricadas em Caldas da Rainha e queira vender em leilão que “contacte ou visite para uma avaliação gratuita”.
Nuno da Silva é também um colecionador, onde o seu principal foco é em peças relacionadas com a “monarquia portuguesa, a faiança antiga portuguesa, e os objetos de vitrine e de viagem, os chamados “Objects de veru”. Tem fotografias, moedas e dois lenços que foram oferecidos aos convidados do casamento de D. Luís.
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