No concelho das Caldas da Rainha, entre 64 mil utentes do Serviço Nacional de Saúde, cerca de 20 mil não têm médico de família. No país, são um milhão e 700 mil nessa situação. Números impressionantes que deixam a Ordem dos Médicos (OM) em sobressalto e a exigir do Governo condições atrativas para cativar profissionais de saúde.
No passado domingo assinalou-se o Dia Mundial do Médico de Família, mas em Portugal não há razões para celebrar. Numa visita na sexta-feira à Unidade de Saúde Familiar D. Leonor, nas Caldas da Rainha, o bastonário da OM, disse que espera que o novo Governo apresente “um plano consistente” para reduzir o número de pessoas sem médico de família, uma situação transversal ao país.
Nas Caldas da Rainha são perto de 20 mil utentes que não dispõem de médico e o Oeste “é uma região deficitária na área dos cuidados de saúde primários”.
“Esperamos que o Governo, em zonas carenciadas de profissionais de saúde, quer médicos de família, quer médicos hospitalares, torne o Serviço Nacional de Saúde (SNS) mais atrativo, com melhores condições de trabalho”, afirmou Carlos Cortes, que enfatizou a exigência das medidas a tomar passarem pela “dignificação remuneratória” dos médicos, para além de “uma melhor organização, uma reforma das urgências, melhor formação e capacidade de desenvolver projetos, por exemplo, de investigação”.
“É importante dignificar a carreira médica”, manifestou, avançando que teve reuniões com responsáveis de vários ministérios para dialogar sobre estas necessidades.
“Na primeira reunião formal com a senhora ministra da saúde apresentámos um conjunto de medidas que achamos importantes para desenvolver o SNS em várias áreas”, indicou.
O bastonário lamentou igualmente que a área da saúde pública “foi esquecida na reforma das Unidades Locais de Saúde (ULS)”, e sendo “um pilar fundamental para todo o sistema de saúde”, a OM incluiu, no conjunto de propostas que entregou, “orientações para o enquadramento do desenvolvimento da saúde pública nas ULS”.
Defendendo que o Governo “não deve voltar atrás” no que respeita às ULS, Carlos Cortes alertou para a necessidade de estas “serem melhoradas”.
E outra intervenção exigida pelo bastonário é ao nível das maternidades, muitas delas sem funcionar vários dias, como é o caso das Caldas da Rainha. “O plano “Nascer em Segurança” [que torna a abertura rotativa com outras maternidades] está à vista de todos que não está a funcionar. Tem um conjunto de falhas e de imprevisibilidades que fazem com que se tenha de pensar numa solução diferente”, declarou, indicando que a OM “criou um grupo de avaliação das maternidades para apresentar uma proposta ao Ministério da Saúde, para verdadeiramente termos um plano capaz de responder às grávidas e às crianças”.
Nesta visita o bastonário defendeu também ser crucial avançar com a construção do novo hospital para a região Oeste, independentemente do concelho onde se localizará, exortando o Governo a passar das palavras aos atos, porque “já deveria ter iniciado a construção do novo hospital“.
O responsável sublinhou a necessidade de “olhar para o futuro e, muito rapidamente, pensar no próximo passo”, ou seja, a construção de “um único hospital”, que possa concentrar todos os recursos para a região atualmente servida pelos hospitais das Caldas da Rainha, Peniche e Torres Vedras.
Depois de o anterior Governo ter anunciado a localização do novo hospital no Bombarral, a OM desafia agora o novo elenco governativo a “tomar decisões concretas” e avançar com a “construção que já devia ter sido iniciada”, ao invés de continuar a efetuar obras que “são remendos provisórios, temporários, que neste caso em concreto, acabam por atrasar aquilo que é absolutamente obrigatório e necessário”.
Sobre a localização, Carlos Cortes disse que a OM “não tem nenhuma recomendação”. “O que queremos é um hospital com todas as valências para poder responder à população, com capacidade de atração de médicos, que fazem falta a esta região”, destacou, fazendo notar que “visitei praticamente todos os hospitais do país e os das Caldas da Rainha e de Torres Vedras são dos que têm piores condições, pelo que não há mais tempo para uma reflexão, o momento atual tem de ser de decisão”.
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