Em entrevista ao Jornal das Caldas, Isabel Fernandes, oncologista e Coordenadora de Oncologia no Hospital CUF Torres Vedras, partilha os avanços que se têm feito no diagnóstico e tratamento do cancro e destaca os benefícios dos doentes oncológicos receberem cuidados de saúde diferenciados e multidisciplinares perto do seu local de residência.
- O cancro é uma das doenças com maior incidência e mortalidade, há razões para ter esperança na luta contra esta doença?
Sim, há razões para ter esperança na luta contra o cancro, sobretudo devido aos avanços nas diferentes áreas, que têm contribuído para uma Medicina cada vez mais personalizada. Para além dos novos medicamentos, novas tecnologias e métodos de diagnóstico têm vindo a permitir uma deteção cada vez mais precoce do cancro e uma melhor compreensão acerca das características moleculares e genéticas dos tumores, o que permite o desenvolvimento de tratamentos ajustados a cada pessoa.
Por outro lado, técnicas como a cirurgia robótica têm permitido procedimentos mais precisos e menos invasivos, reduzindo o tempo de recuperação e melhorando os resultados. Também as novas técnicas de radioterapia, como a radioterapia guiada por imagem e a radioterapia de intensidade modulada, permitem uma orientação mais precisa da radiação, minimizando os danos aos tecidos saudáveis circundantes.
Além do grande incremento da inovação, a implementação de uma abordagem multidisciplinar no tratamento do cancro, como acontece no Hospital CUF Torres Vedras, também se traduz em resultados mais benéficos para o doente, permitindo que oncologistas, cirurgiões, radioterapeutas, geneticistas e profissionais de saúde de outras áreas se juntem, para avaliar cada situação clínica e colaborarem na definição de um plano de tratamento personalizado.
- O Hospital CUF Torres Vedras dispõe, desde o final do ano passado, de um Hospital de Dia Oncológico. Que cuidados de saúde são realizados neste espaço?
É um serviço que se dedica ao tratamento especializado de doentes com cancro, em regime de ambulatório – isto é, que não necessitam de internamento. Neste novo espaço do Hospital CUF Torres Vedras é possível realizar, com conforto, uma variedade de cuidados médicos, como tratamentos de quimioterapia, hormonoterapia, terapêuticas alvo e imunoterapia, transfusões e outras terapêuticas de suporte, mas também serviços de suporte aos doentes. Por exemplo, temos enfermeiros, psicólogo e nutricionista disponíveis para dar apoio aos doentes oncológicos. O que se pretende é prestar um acompanhamento integral e personalizado a estes doentes e seus familiares, considerando não apenas os aspetos médicos, mas também as suas necessidades emocionais, sociais e psicológicas.
- Quais são as principais doenças oncológicas que podem beneficiar dos cuidados prestados no Hospital de Dia Oncológico?
Praticamente todos os doentes oncológicos, podem vir a necessitar de receber tratamentos em Hospital de Dia, embora o tipo de cuidados dependa sempre das características específicas de cada pessoa, do estádio da sua doença e do plano de tratamento definido pela equipa multidisciplinar que o segue. Neste momento, no nosso Hospital de Dia Oncológico, estamos a tratar pessoas com cancro da mama, cancro colorretal, cancros da próstata e da bexiga, linfomas e outros cancros do sangue.
- Para os doentes oncológicos da região, quais são as principais vantagens deste novo serviço do Hospital CUF Torres Vedras?
Em primeiro lugar, é a possibilidade de receberem cuidados de saúde diferenciados e multidisciplinares perto do seu local de residência, evitando grandes deslocações. Uma vez que, muitos deles, têm de receber tratamento diariamente, ou várias vezes por semana, as viagens longas podem tornar-se muito cansativas. Depois, é o facto de este ser um espaço onde recebem um apoio completo, personalizado e totalmente especializado.
- Que mensagem gostaria de deixar à população do Oeste?
É sempre oportuno relembrar que a prevenção também está nas nossas mãos. É fundamental adotar um estilo de vida saudável e consultar regularmente o médico, para evitar as doenças oncológicas e, se for o caso, para garantir o diagnóstico numa fase inicial, aumentando as hipóteses de cura.
Para os doentes e para as suas famílias, gostaria de transmitir uma mensagem de esperança: apesar dos desafios diários de quem lida com esta doença, a investigação continua a trazer avanços significativos em todas as áreas da Medicina, que se traduzem em novas oportunidades para o tratamento e para a melhoria da qualidade de vida dos doentes com cancro.
Testemunho: “É importantíssimo não ignorar os sinais”
Filomena Fernandes tem 69 anos e é da Ericeira. Em 2023, ignorou um caroço que sentia no peito e, meses depois, recebeu o diagnóstico de cancro da mama, que mudou a sua vida. “Foi tudo muito rápido. No mesmo dia, fizeram-lhe uma ecografia mamária e uma mamografia. Depois uma ressonância magnética e a biópsia. Recebemos o diagnóstico na semana seguinte”, explica a afilhada de Filomena. “Foi um choque muito grande”.
Depois da cirurgia para remover o tumor, foi a primeira doente tratada no Hospital de Dia Oncológico do Hospital CUF Torres Vedras. Agora, está a meio do segundo ciclo de quimioterapia. “Temos sido muito bem tratadas, em todas as vertentes”, confessa. “Dos médicos, à gestora oncológica, que nos liberta de toda a carga burocrática, e aos enfermeiros, todos têm excedido as nossas expectativas. São profissionais dedicados e muito atentos.”
A todos, deixam uma mensagem: “É importantíssimo não ignorar os sinais e ir logo que possível ao médico.” Para aqueles que estão a passar por uma situação semelhante, asseguram que “encontrar profissionais que nos apoiam, preocupam-se e arranjam soluções para os nossos problemas, como nós encontrámos, é, sem dúvida, um porto seguro. Dá-nos confiança para atravessar um período muito difícil emocionalmente.”
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