A exposição de capas de discos de Zeca Afonso criadas por José Santa-Bárbara deu azo a um livro, da autoria de Abel Soares da Rosa, cuja apresentação teve lugar a 15 de dezembro, no café Central, nas Caldas da Rainha.
Esta foi uma noite fértil de histórias, com José Santa-Bárbara a contar vários episódios da sua convivência com José Afonso, principalmente em Lisboa, antes do 25 de Abril. Na altura morava nos Olivais e um dia o cantor pediu-lhe para passar uma noite na sua casa, onde costumava ensaiar. Desde aí, o quarto, que era de hóspedes, passou a ser o seu quarto.
Ainda em tempos de ditadura, foram várias as peripécias que envolveram a Pide, com quem José Afonso tinha muitos dissabores. “Eu sabia que tinha o telefone sob escuta e o Zeca tinha conversas explícitas” que poderiam trazer problemas. Por causa disso, sempre o que artista ia para sua casa, acabava por ter de esconder o telefone.
Na opinião de Abel Soares da Rosa, “faltava contar a história das capas que cantavam a liberdade que o Zeca anunciava e que foram criadas por Santa-Bárbara”. Depois da exposição, surge agora algo que todos podem ter em casa.
“Podemos dizer que este é livro é uma exposição ou que a exposição era um livro”, acrescentou, referindo a exposição “Nove Capas para o Zeca”, da qual foi curador e que esteve patente no Centro Cultural e de Congressos das Caldas da Rainha.
Foi na sequência dessa exposição, que esteve primeiro patente no espaço cultural “Cinema Europa”, que surgiu a ideia de a transformar num livro, contando logo com o apoio de Nuno Saraiva, da Lusitanian. É esta editora que, com o selo “Mais 5”, tem assegurado, sob a supervisão da família do cantor, a edição definitiva dos álbuns de José Afonso.
Intitulada “Santa-Bárbara Capista de Zeca”, a obra apresenta o trabalho que o artista plástico desenvolveu na criação de nove capas para álbuns de José Afonso.
Os álbuns são “Cantares do Andarilho” (1968), “Contos Velhos, Rumos Novos” (1969), “Traz Outro Amigo Também” (1970), “Cantigas do Maio” (1971), “Eu Vou Ser Como a Toupeira” (1972), “Venham Mais Cinco” (1973), “Enquanto Há Força” (1978), “Fados de Coimbra e Outras Canções” (1981) e “Como Se Fora Seu Filho” (1983).
Cada uma destas capas tem a sua história e fazem parte do livro esboços, provas, documentos e também as fotografias de Patrick Ullmann durante as gravações de alguns destes discos.
Todas as peças da exposição foram fotografadas para o livro, quando a exposição estava patente nas Caldas da Rainha, pelo filho do designer, Pedro Santa-Bárbara.
A apresentação nas Caldas da Rainha foi organizada pelo núcleo local da associação José Afonso (AJA) que durante este ano realizou uma série de eventos à volta da obra do artista, que teve uma grande ligação com as Caldas da Rainha.
Para Abel Soares da Rosa fazia todo o sentido ter uma apresentação do livro nas Caldas da Rainha pela ligação que ambos os retratados têm com esta cidade.
Élia Mendonça, do núcleo caldense da AJA, aproveitou para dizer que a exposição já esteve patente na ESAD.CR e pode ser apresentada noutros locais. “Está disponível para qualquer local, desde que nos seja requisitado”, adiantou.
A responsável referiu que esta apresentação marcou o final de um ciclo de eventos que durou um ano, depois de ter sido criado este núcleo nas Caldas. Para 2024 está já prevista uma série de atividades, algumas ainda pendentes da aprovação do apoio financeiro por parte da Câmara das Caldas.
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