Especializada em economia pública e política, Susana Peralta falou do quadro mais positivo se Caldas da Rainha vier a perder o novo Hospital do Oeste, revelando que “este concelho está muito mais bem posicionado do que o Bombarral para a escolha de residência da população diferenciada afeta a um equipamento desta dimensão”.
Professora da Universidade Nova e comentadora regular na RTP, considera que na verdade “há aqui um enorme potencial das Caldas beneficiar da localização no Bombarral, que é só cerca de 25 quilómetros de distância”. “Bombarral é mesmo aqui ao lado e Caldas sendo uma cidade com algum encanto histórico, património arquitetónico e com praia tem já uma população bastante diferenciada e está nas mãos do município das Caldas e poderes autárquicos aqui representados de desenhar políticas que consigam atrair essa população e com isso partilhar com o Bombarral uma parte substancial dos ganhos económicos daquele equipamento”, declarou.
A académica avisou o município que deveria ter um plano de contingência “sobre o que podem fazer para se tornarem mais atrativos para esta população e mitigar o efeito”. “Preços de habitação, oferta cultural, melhores transportes rodoviários, inclusive para a praia da Foz do Arelho”, foram alguns exemplos dados por esta académica.
Defendeu ainda que a câmara deve pedir ao Governo central contrapartidas como “melhorar os cuidados primários, Linha do Oeste a funcionar plenamente e não deixar que o edifício atual do hospital das Caldas se torne num buraco negro abandonado e que faça parte de rede nacional de cuidados continuados e paliativos”.
Susana Peralta salientou o conflito de interesses da antiga ministra da Saúde, Ana Jorge, que coordenou o grupo de trabalho criado pelo Governo para decidir o perfil e localização do futuro hospital do Oeste. “O facto de ser ex-ministra e estar profundamente ligada ao PS e de na altura ser presidente da Cruz Vermelha gera vários conflitos de interesse que faz todo o sentido os elementos da autarquia das Caldas questionarem a legitimidade da decisão”.
A economista disse que o país tem “mecanismos de tomada de decisões da esfera das políticas públicas muito fracos e que geram desconfianças”. “Obviamente que o Governo tinha que ter mais cuidado na escolha das equipas que iriam opinar sobre isto”, salientou, considerando que deveria ter “nomeado uma comitiva independente, como ir buscar portugueses no estrangeiro”.
Susana Peralta afirmou que “haverá sempre algum impacto económico e um equipamento desta natureza se algum dia vier a existir vai sempre gerar conflito”.
No entanto, considero que “mais vale um hospital novo com todas as valências e especialidades localizado no Bombarral do que continuar a viver com um equipamento que não serve os interesses dos munícipes”.
Respondendo a alguns elementos da plateia que alegaram que “se o hospital for construído no Bombarral é um erro que trará graves consequências financeiras para o país”, a especialista em economia pública disse que não imagina “grandes dificuldades com o impacto que o novo equipamento irá ter seja construído 20 quilómetros mais a sul ou mais a norte do Oeste”.
Joana Alves, investigadora auxiliar na Escola Nacional de Saúde Pública, da Universidade Nova de Lisboa, deu uma perspetiva das questões mais ligadas à saúde com a saída do hospital das Caldas.
Baseando-se em estudos que foram feitos noutros países, a investigadora referiu que “as pessoas das classes socioeconómicas mais elevadas com o fecho do hospital das Caldas continuarão a ter acesso aos cuidados com transporte próprio”.
O problema, segundo esta especialista, está “nas pessoas com nível económico mais baixo e os idosos que vivem nas freguesias rurais mais distantes, que provavelmente não vão continuar a ter os acessos da mesma forma”. Revelou algumas estratégias para não deixar de fora “estas pessoas mais vulneráveis, como uma reorganização da rede de transportes”.
Referiu também a necessidade de haver um fortalecimento e reorganização do “transporte de utentes urgentes, porque vai haver mais tempo de deslocação para os cuidados de saúde e uma maior sobrecarga para a chamada”.
Depois de ouvir as várias intervenções do público que se mostrou preocupado com o impacto económico que o concelho irá ter se perder o hospital, Joana Alves tranquilizou, salientando que “não será o fim das Caldas da Rainha”. Defendeu também uma estratégia de atratividade com “habitação a preços acessíveis, espaços culturais, escolas de qualidade e uma boa rede de transportes”.
Estiveram representados os partidos políticos com exceção de elementos do PSD. No final, houve um debate onde todos os elementos das forças políticas continuaram a defender a localização do novo hospital nas Caldas.
Concentração em Lisboa em defesa do Hospital nas Caldas
No final da sessão o presidente da Câmara das Caldas, Vitor Marques, anunciou que no dia 21 de outubro haverá uma mobilização das Caldas para Lisboa em defesa da relocalização do Hospital das Caldas num terreno entre Óbidos e Caldas. Apelou à participação da população, indicando que irá haver autocarros para a capital.
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