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Empresários desesperam com falta de trabalhadores

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Empresários das Caldas e da região das áreas da restauração, indústria, agricultura e construção civil não conseguem encontrar trabalhadores para os seus negócios. A opinião junto de responsáveis da ACCCRO e AIRO e empresários de vários setores ouvidos pelo JORNAL DAS CALDAS é unânime. A ACCCRO – Associação Empresarial das Caldas da Rainha e Oeste alertou para […]
Restauração é uma das áreas mais afetadas com a falta de mão-de-obra

Empresários das Caldas e da região das áreas da restauração, indústria, agricultura e construção civil não conseguem encontrar trabalhadores para os seus negócios. A opinião junto de responsáveis da ACCCRO e AIRO e empresários de vários setores ouvidos pelo JORNAL DAS CALDAS é unânime.

A ACCCRO – Associação Empresarial das Caldas da Rainha e Oeste alertou para a “perda galopante de postos de trabalho no setor do alojamento, restauração e similares e para as dificuldades que as nossas empresas têm sentido nos processos de recrutamento de profissionais”, disse ao JORNAL DAS CALDAS o presidente, Luís Gomes.

“Os setores mais afetados são os da hotelaria e restauração e temos recebido vários relatos de estarem a suprimir horários para não ter de fechar portas”, contou o responsável, acrescentando que “é um problema transversal a todos os setores”.

“Empresas habituadas a contratar com facilidade, ansiosas para tentar compensar as perdas sofridas com a pandemia, dão por si a enfrentar escassez de mão-de-obra”, adiantou Luís Gomes revelando que, nas Caldas da Rainha, a pastelaria Machado e, mais recentemente, a pastelaria “Sabelo” encerraram portas por falta de recursos humanos e isso é uma grande preocupação”.

O presidente da ACCCRO relata que a situação “está a ficar dramática” e agora com as campanhas da apanha da fruta, na nossa zona, poderão ficar comprometidas, por falta de mão-de-obra para as colheitas”.

Luís Gomes considera que o estímulo do emprego não é suficiente e revela que é “essencial que sejam criadas políticas de incentivo à contratação de profissionais e ao emprego com a máxima urgência possível, para que a escassez de recursos humanos não constitua um travão à recuperação económica, nem ponha em causa a competitividade dos nossos restaurantes e hotéis que são fundamentais”.

O responsável sublinhou que enquanto não houver uma reformulação do subsídio de desemprego as pessoas não vão trabalhar. “Conheço pessoas que estão a receber subsídio de emprego e se forem trabalhar ganham o mesmo ou menos, então preferem ficar em casa”, apontou, revelando que “é um incentivo para não trabalhar”. Defende que o subsídio deve sofrer uma quebra consoante o tempo (com exceção de alguns casos fundamentados), como forma de incentivar as pessoas a irem trabalhar”.  

Diz que o Governo não dá “instrumentos às empresas para ter mão-de-obra que está disponível”.

A situação dos combustíveis e o mercado de arrendamento de casas também é, segundo o presidente da ACCCRO, um entrave porque “se arranjar trabalho longe de casa gasta imenso para se descolar e também nas Caldas há falta de casas para alugar e o que existe está muito caro”.  

De acordo com Luís Gomes, a falta de recursos humanos afeta a produção das empresas e é o caminho “para que brevemente a Troika volte ao país”.

Maria José Ramalho, diretora da Airo – Associação Empresarial Da Região Oeste, disse ao JORNAL DAS CALDAS que a escassez de recursos humanos é hoje uma realidade transversal aos vários setores da economia que não deixa ninguém indiferente”. “Mais do que pessoas qualificadas, faltam pessoas com competências ajustadas às exigências das empresas no mercado cada vez mais competitivo, tecnológico e incerto”, adiantou, considerando que nas Caldas e região existe o problema dos transportes e da habitação que não ajuda a fixar pessoas. Destacou os “Open Days do emprego que a AIRO tem realizado para ajudar as empresas a recrutar.

Restauração e hotelaria são os setores mais afetados

Maria José Ramalho que é uma das responsáveis da empresa, NICUL – Nova Indústria de Cutelarias Lda com sede em Santa Catarina relatou “a falta de mão-de-obra especializada que tem afetado a produção e coloca em causa as encomendas e capacidade de resposta”.  “Obviamente que quem está no mercado faz todos os possíveis para não ter de recusar trabalhos, mas hoje cumprir um prazo é muito difícil”, contou.

A restauração é um dos setores mais afetados. De acordo com Laura Ganhão, responsável pelo Grupo Arcadas (criado há 25 anos e que tem 16 estabelecimentos, entre pastelarias, papelarias e quiosques nas Caldas e Peniche, Alcobaça, Nazaré, Santarém, entre outras zonas), disse que tem 80 funcionários eprecisa de mais 10 a 15 trabalhadores para funcionar em pleno. E não encontra. “Se, em anos anteriores, a falta de mão-de-obra no setor já era sentida”, este ano a responsável revela que o problema está a “adquirir uma dimensão nunca vista”.

“Antes, tínhamos candidatos, mas neste momento nem através do Centro de Emprego nem com anúncios que colocamos nas redes sociais”, referiu, acrescentando que em Peniche existe muito desemprego, mas mesmo assim as “pessoas não aparecem para trabalhar”.

E quando conseguimos recrutar, muitos trabalham uma ou duas semanas e “vão embora com a desculpa que não se adaptaram”, adiantou.

 Considera que a falta de trabalhadores é um problema “grave”, que não é compensado pelos trabalhadores temporários, lamentando que o Governo esteja afastado desta realidade. “Os códigos de trabalho não estão adaptados à nossa realidade, o Governo tem que reformular os contratos de trabalho porque as pessoas não se fixam em lado nenhum”, relatou. 

Laura Ganhão que é a responsável pela Pastelaria Venezia Café e Esplanada nas Caldas disse que saiu na passada semana nas redes sociais um artigo dos 25 anos do grupo e recebeu várias críticas devido ao funcionamento e serviço da Venezia. “As pessoas não sabem a dificuldade que eu tenho de todos os dias ter pessoas para me abrir a porta do café porque nem a ganhar mil euros consigo trabalhadores que se fixem”, apontou a empresária.

“Os empregados que temos fixos e competentes acabam por ser sacrificados a fazer horas a mais em vários locais para compensar os que não conseguimos contratar”, referiu.

Carlos Paulo, proprietário do Restaurante Paraíso do Coto, também se queixa da imensa falta de staff e “inclusive há serviços que, por vezes, tem dificuldade de disponibilizar ao cliente “por não termos quem os possa fazer”, adianta. Lamenta que as políticas não estejam “adaptadas à realidade do trabalho”.

 Vítor Madeira responsável pelo restaurante “A Rotunda”, considera que a falta de mão-de-obra está a colocar em causa o funcionamento do seu espaço.

O mesmo acontece na unidade de hotelaria Exe Vila D’Óbidos, que neste verão precisava de mais trabalhadores para funcionar em pleno. E não encontra. Se, em anos anteriores, a falta de mão-de-obra no setor já era sentida, este ano o diretor do hotel, António Rodrigues, considerou que o problema está a adquirir uma dimensão nunca vista. “Creio que este é um problema, que estava identificado antes, mas sobre o qual muito poucas empresas agiram, no que diz respeito à questão da melhoria das condições de trabalho na área, que não é nova e tem justificações e contornos bastante profundos e antigos, sendo extrapolado pelo período da Covid-19”, lamentou o gestor do hotel, adiantando que “as empresas para sobreviver tiveram de limitar as suas estruturas ao mínimo durante cerca de dois anos”.  Essa situação, segundo o diretor do hotel, fez com que “as indústrias, que não eram até aquele momento nossas concorrentes começassem a absorver alguns recursos, que saíram da hotelaria e de momento não têm vontade de voltar”.

Atualmente, a unidade hoteleira conta com 15 elementos fixos aos quais se juntaram cerca de 5, em regime de prestação de serviços através de empresas de trabalho temporário ou mesmo prestação direta.  Contudo, o Exe Vila D’ Óbidos necessita de mais pessoas para poder funcionar em pleno. “De momento temos alguns serviços, que estão um pouco limitados em termos do seu funcionamento”, explicou o responsável, adiantando que “esta situação vai sendo contornada com uma dedicação adicional de quem está todos os dias no terreno, mas que não deixa de colocar uma pressão adicional em termos de cansaço acumulado”.

Nesse sentido, o diretor do hotel admitiu a possibilidade de contratar qualquer pessoa, desde que queira trabalhar e que corresponda ao perfil que o hotel procura, independentemente da nacionalidade.

No que diz respeito às candidaturas, António Rodrigues referiu que “estas têm ficado um pouco aquém do esperado”. “A verdade é que existem alguns preconceitos associados ao trabalho em hotelaria, que tentamos combater, e também notamos que a expetativa em relação às condições que as empresas podem dar está um pouco desfasada da realidade”, frisou o responsável.

O cenário é semelhante na construção e feiras

O cenário é semelhante na construção. De acordo com António Justino, responsável pelo condomínio de um edifício de habitação nas Caldas, a falta de canalizadores, carpinteiros, pintores, pedreiros entre outros coloca em causa “vários arranjos a não avançarem” ou originando “preços exorbitantes”.

O problema da falta de mão-de-obra também afeta o setor dos feirantes, que se deparam com dificuldades em arranjar trabalhadores para os ajudar a marcar presença em vários certames ao mesmo tempo. “Neste momento, apenas conseguimos marcar presença num evento de cada vez, porque ultimamente não temos conseguido angariar funcionários para nos ajudarem” explicaram as responsáveis da Sartor e Consustura, loja de trajes e figurinos artesanais, em Óbidos, Sílvia e Patrícia, adiantando que estão a precisar de mais pessoas, “mas não se encontram, o que faz com que esteja a rejeitar feiras e a prolongar alguns prazos de entrega de algumas encomendas”.

As mesmas responsáveis sublinharam que “este é um trabalho, que antes até conseguia atrair alguns jovens, sobretudo aqueles que terminavam há pouco tempo as aulas, mas que agora nem isso acontece”.

A contração de novos funcionários é agravada pela sazonalidade e pelos horários. “As feiras acabam por ser um trabalho sazonal, que funciona sobretudo aos fins de semanas, com horários alargados, o que também não tem atraído trabalhadores”. Contudo confessaram que “este é um problema transversal a todos os setores”.

Falta de trabalhadores para a apanha de fruta

No setor da pera e maçã, a realidade dificulta na altura das campanhas. Torres Paulo, administrador da FRUTUS – Central Fruteira no Cadaval revelou que este ano as campanhas de apanha da fruta que iniciam a 16 de agosto vão ser difíceis devido à falta de mão-de-obra.  “Vamos falar com outras regiões, nomeadamente com Odemira, que tem empresas com estrangeiros que nesta época têm menos trabalho e podem vir para aqui por um determinado tempo”, contou.

Lamenta o aumento de custo de vida, mas é da opinião que poderá estimular “que as pessoas nas férias venham apanhar fruta para ganhar um dinheiro extra”, refere apelando aos pais que incentivem os jovens “a virem para a fruta, no verão”.

O problema maior está relacionado com o setor das colheitas. “Antes tínhamos pessoas a mais que nos procuravam para vir apanhar fruta durante os meses de verão, mas neste momento nem candidatos nos chegam”, explicou um dos produtores de fruta, João Duarte, que acredita que o setor “se confronta com uma séria dificuldade de contratação de pessoas para a colheita, não só de frutas, mas também de produtos hortícolas”.

Apesar de recorrer, por vezes, a empresas temporárias para contratar pessoal, e do setor estar a pagar “muito mais” do que em anos anteriores, mesmo assim não consegue angariar pessoas para a colheita. “Não está a ser fácil, pois os jovens têm que se coletar, logo não querem porque perdem determinadas condições, as pessoas que estão no fundo de desemprego também não querem, e aqueles que estão a receber subsídios também não querem. Ou seja, está criado um sistema, que acaba por não incentivar as pessoas a trabalharem”. Neste momento, o produtor de fruta anda à procura de pessoas para participarem na colheita da pera, que devido às condições climatéricas deverá ser na segunda quinzena de agosto, admitindo que, se for o caso, terá de recorrer a trabalhadores estrangeiros para a apanha da fruta.

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