Em termos simples, premiou-se a ideia de que as sociedades que crescem de forma duradoura são as que têm coragem de substituir o velho modo de pensar pelo novo, reinventando-se continuamente — o princípio da chamada destruição criativa, que renova sistemas e ideias, e não apenas estruturas físicas.
Um novo paradigma para o Oeste
Aplicar este conceito à realidade portuguesa — e em particular ao Oeste — é não apenas possível, mas urgente. Transformar a região na primeira Zona Azul do continente europeu significa aplicar localmente o que a economia moderna ensina: o desenvolvimento nasce da inteligência, da cooperação e da qualidade de vida. O verdadeiro crescimento começa quando uma região deixa de imitar e passa a inventar o seu próprio futuro.
Destruição criativa territorial
Durante décadas, acreditou-se que o progresso se media em obras públicas. O novo pensamento económico mostra que crescer é inovar — não construir sem propósito. A destruição criativa no Oeste deve significar o abandono de modelos pesados e centralizados, substituídos por redes ágeis de saúde preventiva, mobilidade limpa, energia renovável local e economia circular.
O que se destrói é o desperdício — o que se cria é valor
Neste contexto, a ULS Oeste — ao integrar cuidados hospitalares, primários e continuados — pode tornar-se o núcleo inteligente desta transformação, articulando o conhecimento clínico com a inovação territorial e a economia da saúde.
O Hospital Termal das Caldas da Rainha, fundado em 1485 por D. Leonor, é reconhecido como o hospital termal mais antigo do mundo em funcionamento contínuo — símbolo fundacional da primeira Zona Azul do continente europeu. Muito antes de se falar em “serviço nacional de saúde”, aqui já se praticava uma forma de medicina preventiva e solidária, inspirada na força regeneradora da água.
Crescimento pela inovação social e tecnológica
Aghion e Howitt demonstraram que a inovação precisa de um ecossistema. O Oeste reúne todos os ingredientes: termas, mar, agricultura local, turismo sustentável, indústria criativa e instituições de saúde.
A isso junta-se um novo factor de prestígio: a presença da Tekever nas Caldas da Rainha, um dos sete unicórnios portugueses e referência europeia em tecnologias aeroespaciais, inteligência artificial e sistemas não tripulados. As suas soluções são aplicadas na vigilância marítima, no combate à poluição, na prevenção de incêndios e na monitorização ambiental — áreas directamente ligadas à saúde pública e à sustentabilidade territorial.
Ter uma empresa desta dimensão em solo caldense demonstra que o Oeste pode unir ciência, tecnologia e bem-estar no mesmo horizonte de desenvolvimento: um território que protege o seu ambiente, valoriza o conhecimento e aposta numa economia de futuro.
A existência de uma empresa tecnológica global nas Caldas da Rainha prova que o Oeste tem talento, inovação e capacidade para competir ao mais alto nível. É o exemplo concreto de como a economia da inovação pode coexistir com a economia da saúde e da qualidade de vida.
Na região, destacam-se ainda iniciativas e presenças institucionais de relevo, como o Montepio, com plano aprovado para um novo hospital nas Caldas da Rainha; a CUF, com unidade em Torres Vedras e presença próxima em Mafra, reforçando o eixo funcional Lisboa–Oeste; e a Luz Saúde, com planos de expansão até 2030. Juntas, podem integrar um ecossistema hospitalar inovador e complementar ao serviço público, reforçando a vocação do Oeste como território de saúde, longevidade e bem-estar.
A cultura do conhecimento
Joel Mokyr, outro dos laureados, sublinhou que o progresso duradouro nasce de sociedades que valorizam o saber, a curiosidade e a confiança.
O Oeste tem condições para afirmar-se como um território-laboratório de aprendizagem contínua, onde escolas, universidades, centros de investigação e hospitais — públicos e privados — cooperem para transformar conhecimento em soluções concretas ao serviço das comunidades.
A economia do futuro não se constrói apenas com infraestruturas, mas com ideias partilhadas, talento e instituições inteligentes.
Instituições locais fortes e horizontais
A teoria económica moderna reforça que as instituições determinam o destino dos territórios. Governança colaborativa, transparência, participação cidadã e estabilidade regulatória são hoje os motores da confiança — e, portanto, do investimento.
Transformar o Oeste numa Zona Azul exige que autarquias, a ULS Oeste, os hospitais privados, as termas e o ensino superior trabalhem em rede e com propósito comum, evitando duplicações e dispersão de recursos. Quando as instituições são fortes e horizontais, o desenvolvimento é inclusivo e o progresso sustentável.
Uma nova métrica de sucesso
Se o Prémio Nobel de 2025 consagra a inovação como força vital do progresso, então a Zona Azul deve medir o seu sucesso não em PIB, mas em:
— Expectativa de vida saudável;
— Eficiência energética e ambiental;
— Literacia digital, ecológica e em saúde;
— Participação cívica;
— Satisfação comunitária.
O que o PIB não mede, a Zona Azul revela: o valor de viver bem.
Conclusão
O espírito do Nobel é o mesmo que deve orientar o futuro do Oeste — a coragem de substituir a repetição pela reinvenção, a burocracia pela inteligência, o cimento pela vida.
A Zona Oeste Azul é a tradução prática da economia moderna: crescer é cuidar, inovar e regenerar.
Entre o mar e as termas, o Oeste tem tudo o que é preciso para provar que o desenvolvimento pode ser humano, inteligente e belo — basta querer fazê-lo acontecer.
O futuro do Oeste será escrito por todos os que tiverem a coragem de imaginar — e a ousadia de o transformar num território onde inovar é cuidar, e viver bem é a melhor forma de progresso.
José Filipe Soares
Nota do autor: o texto segue a ortografia culta da Língua Portuguesa, por respeito à sua matriz histórica e etimológica










