No modelo teórico da Medicina Tradicional Chinesa (MTC), considera-se que o sistema Fígado (F) é responsável pelo “livre fluir do Qì”, o que significa que este sistema permite com que tudo no organismo flua de uma forma correta e harmoniosa. Assim, é fácil assumir que, se o nosso F se encontra disfuncional, podem surgir os mais variados sinais e sintomas. Para piorar a situação, este órgão é o mais facilmente afetado; há inclusivamente teorias que dizem que todos sofremos de “Estagnação do Qì do Fígado”. Mas por que é que isto acontece?
O F está associado à nossa capacidade de criar e sonhar e, quando alterado, gera emoções de raiva e frustração. Uma imagem clássica do Fígado que aprecio particularmente é a de um cavalo bravo que corre num extenso prado, livre de rédeas ou cercas – este é o estado em que o F quer estar. Para termos um F a funcionar corretamente, é necessário ter um estilo de vida que nos permita ser emocionalmente livres e ativos, fazer o que queremos quando queremos, sem atritos.
Esta visão utópica raramente é possível na nossa vida em sociedade, pois para vivermos todos juntos temos de respeitar os limites dos outros, criando os nossos próprios limites e isto, inevitavelmente, gera atritos. Todos reconhecem a frustração de querer fazer algo mas não o poder fazer, seja porque não deixam, por não terem recursos, ou porque “fica mal” – e isso faz parte da vida. O problema surge quando estas frustrações não são processadas de uma forma natural, quando as guardamos e não as libertamos em tempo útil, o que causa a estagnação do F. Muitos dos sintomas de um F estagnado são comuns à noção ocidental de stress: cansaço, aperto no peito, alterações intestinais, dores variadas, insónias, dores de cabeça, etc.
Nem todas as condições designadas como “stress” são causadas exclusivamente por este mecanismo, mas muitas delas são e podem ser resolvidas com mudanças no estilo de vida, como por exemplo adotando práticas desportivas, principalmente atividades rápidas e intensas, ou hobbies criativos, como a escrita ou a pintura, promovendo uma libertação controlada de raiva ou frustração sem sintomas secundários. Estas atividades geram adrenalina e “garra” que nos fazem tentar mais uma vez, libertando o F e permitindo que as emoções voltem a fluir naturalmente. Quando nada disto é possível, seja por alguma limitação física ou por inconveniência, a MTC oferece soluções que impulsionam esta mudança através de (mas não só) tratamentos corporais, como a acupuntura e a massagem.
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