Uma das questões mais comuns ouvidas em clínica é se o paciente deve aplicar calor ou frio numa dada lesão musculoesquelética que o esteja a incomodar.
Para entender a resposta, é preciso saber o efeito básico da temperatura no nosso organismo: o calor tem um efeito vasodilatador, o que significa que dilata os vasos sanguíneos, promovendo um maior aporte de sangue à zona aquecida. Em contrapartida, o frio tem um efeito vasoconstritor, contraindo os vasos sanguíneos, reduzindo o fluxo de sangue. Esta reação ocorre em resposta ao ambiente externo: se está muito calor, queremos mais sangue na superfície para que o consigamos libertar e manter a temperatura do sangue; se está muito frio, queremos que o sangue se mantenha em profundidade para evitar que arrefeça.
Dito isto, precisamos de olhar para os quatro sinais da inflamação: dor, calor, rubor (vermelhidão) e edema (inchaço). Recentemente foi adicionado um quinto sinal, relacionado com a perda de função, mas é pouco relevante para esta explicação.
Se uma lesão apresenta pelo menos três desses quatro sinais de inflamação, significa que estamos perante uma “inflamação verdadeira” e que há um acúmulo de sangue local que está a causar problemas. Neste caso, é adequado aplicar frio localmente, muitas vezes sob a forma de gelo. Este deve ser aplicado em intervalos regulares, durante 20 a 30 minutos, com uma frequência adequada à gravidade do caso. Vale salientar que esta intervenção não deve durar mais de três dias seguidos sem resultados duradouros; caso a lesão aumente ou se mantiver muito dolorosa apesar da aplicação de gelo, deve procurar assistência médica.
Qualquer outro tipo de dor musculoesquelética deve ser tratada com a aplicação de calor. Por exemplo, se existe uma dor num ombro, mas o ombro não está quente nem vermelho, podemos assumir que não se trata de uma “inflamação verdadeira”, pelo que o tratamento deve passar por aumentar o aporte de sangue ao local, aplicando calor localmente.
Existe uma exceção para esta regra relacionada com a história da lesão: qualquer trauma (como uma pancada) ou entorse, por exemplo num tornozelo, requer frio durante a primeira hora após a lesão. Esta é uma estratégia para mitigar ao máximo o hematoma que surge com este tipo de lesões, através da vasoconstrição, que limita o aporte de sangue à zona. Importa salientar que este método deve ser feito exclusivamente durante a primeira hora da lesão; depois disso, deve-se voltar a avaliar o estado da lesão e ponderar se requer frio ou calor.
Regra geral, a aplicação de calor, quando bem indicada, causa uma sensação agradável, o que pode ser um bom indicador de que estamos a aplicar a terapia correta. Em contrapartida, a aplicação de gelo pode ser mais enganadora nesse aspeto, pois o frio tem um efeito analgésico, mesmo que não seja o método adequado, pelo que não é recomendável assumirmos que estamos a fazer o correto só pela sensação que o frio nos causa.
Resumindo: se uma lesão está quente, inchada e/ou vermelha, deve ser tratada com a aplicação de frio. Todas as outras devem ser tratadas com calor, exceto na primeira hora após a lesão.
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