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Do Grand Tour ao “sobreturismo” e à “turismofobia”

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O Grand Tour era um grande passeio pela Europa dos séculos XVII a XIX empreendido por jovens da classe-média alta. É a origem histórica do conceito e do termo “turismo”, tal como é entendido no Ocidente.

O Grand Tour era um grande passeio pela Europa dos séculos XVII a XIX empreendido por jovens da classe-média alta. É a origem histórica do conceito e do termo “turismo”, tal como é entendido no Ocidente.

Foi uma moda para uma elite culta e endinheirada que completava a educação académica com visitas a Itália, sobretudo a Roma, pois a arquitectura romana do período imperial, em pleno Neoclassicismo, era a mais estudada e copiada. No século XIX, tal gosto deslocou-se para a arquitectura grega, especialmente para a da ordem dórica, e Atenas tornou-se o destino preferido.

Sendo o Grand Tour inicialmente praticado apenas por jovens aristocráticos britânicos, viagens semelhantes foram feitas também por jovens endinheirados do continente europeu e das colónias, sobretudo a partir de 1840, com a expansão do transporte ferroviário e marítimo a vapor. Dois exemplos são Simon Bolívar, que viria a ser chefe político e militar venezuelano e o primeiro paladino da descolonização, tendo tido a ideia do movimento pela independência das colónias espanholas enquanto viajava por Itália com o seu tutor; e José de San Martin, futuro general argentino que viria a participar com sucesso nesse processo de independência das então colónias espanholas Argentina, Chile e Perú, e que também viajou pela Europa, após terminar os estudos, até se instalar por um tempo em Roma.

O Grand Tour teve mais do que uma importância cultural superficial. Segundo o historiador inglês Edward Palmer Thompson, “o controle da classe dominante, no século XVII, traduzia-se sobretudo pela hegemonia cultural e só depois pelo poder económico ou militar”.

Em cerca de 300 anos, passou-se do estimável grande passeio iniciático de uns poucos excêntricos aventureiros para o turismo de massas que sufoca as comunidades autóctones, potencia a degradação do ambiente e ameaça a preservação do património cultural. Segundo o site Travel News, no campeonato mundial do sobreturismo, Veneza, onde os pombos da Praça de São Marcos são espezinhados pela horda compacta, está apenas em segundo lugar, com o ratio de 21,3 turistas por habitante. Trata-se de uma cadência média diária, sem épocas baixas. O primeiro lugar é de Dubrovnik, com 36 turistas por habitante. O sobreturismo transforma o pacífico cidadão cosmopolita e hospitaleiro, que valoriza a diversidade cultural e é favorável à livre circulação de pessoas, ideias e costumes — que é favorável, em suma, a todas as formas de mestiçagem —, num preconceituoso inimigo da “horda selvagem” em que, sem regulação, redundou o turismo de massas. Mas como perspectivar e pôr em prática essa regulação, precavendo a turismofobia associada a movimentos de pendor xenófobo e racista, quando o sistema económico não prescinde dos benefícios financeiros gerados pelo sobreturismo?   

Escrevo segundo o anterior acordo ortográfico.

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