A Medicina Tradicional Chinesa (MTC) chega ao seu diagnóstico de síndromes através de três ferramentas essenciais: a anamnese (conversa/entrevista com o paciente), a tomada do pulso e observação da língua.
A anamnese passa por uma conversa com o paciente, semelhante ao que se faz na medicina convencional, porém, a medicina chinesa tende a interrogar o paciente de uma forma mais aprofundada, pois os detalhes dos sintomas importam. Não basta saber que tem dor de cabeça, precisamos de saber: onde está essa dor de cabeça? Quando acontece? Há algum padrão de repetição? Como é que ela piora? Como é que melhora?
Tudo isto são questões que para nós importam, pois a caraterização do sintoma vai permitir discernir qual o órgão e/ou canal envolvido e se é um quadro de vazio ou de excesso, tudo detalhes que naturalmente mudam drasticamente o tratamento a fazer.
Muitas vezes esta maneira de entrevistar o paciente é o suficiente para chegarmos a soluções. Eu próprio já experienciei por diversas vezes pacientes que quando se queixam de um dado sintoma não o sabem caracterizar, e só depois de a pessoa ser questionada sobre o assunto é que se apercebe de que, por exemplo, sente dor de cabeça frontal quando não dorme e passa 12 horas em frente a um ecrã.
Esta informação é o suficiente para o próprio paciente chegar à conclusão que, para se ver livre do sintoma, deve reduzir o tempo de exposição a ecrãs e aumentar as horas de sono (caso não haja nenhum outro impedimento, claro). Este método é suficiente para dar consciência ao paciente do problema que tem, o que só por si é um grande avanço no caminho da cura.
A consciencialização do paciente em relação à própria condição de saúde é fulcral não só para se chegar mais facilmente a um diagnóstico mas também para ajudar a garantir o cumprimento de medidas preventivas às doenças. Se chegarmos à conclusão que o paciente apresenta sintomas de azia sempre que come alimentos cozinhados com tomate, naturalmente, ele deve reduzir ao máximo o consumo de tomate.
Não quero com isto dizer que a retirada de fatores prejudiciais é o suficiente para resolver totalmente a questão, mas prescrever um protetor de estômago enquanto os hábitos alimentares não mudam é a receita perfeita para provocar mais problemas no futuro.
Resumindo, passar pelo processo de anamnese na MTC é uma experiência que, mesmo antes do tratamento, faz com que tenhamos consciência daquilo que efetivamente se passa no nosso corpo, e isso permite delinear o tratamento e colocar expectativas realistas no paciente.
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